“Os velhos desconfiam da juventude porque foram jovens.” (William Shakespeare)
"Nossa juventude adora o
luxo, é mal educada, caçoa da autoridade e não tem o menor respeito pelos mais
velhos. Nossos filhos hoje são verdadeiros tiranos. Eles não se levantam quando
uma pessoa idosa entra, respondem a seus pais e são simplesmente maus."
(......?)
Na noite de ontem fui a uma boate
com minha filha e algumas amigas dela, um programa incomum entre pais e filhos
é verdade, todavia, nós pais falamos tanto em honestidade e diálogo franco com
nossos filhos, mas quase nunca estamos dispostos a saber quem eles são quando nenhum
adulto está de olho.
Há anos que escuto comentários
sobre o quanto à juventude de hoje está perdida, não têm conteúdo, são
irresponsáveis e frequentemente suscetíveis às más influências. Fico me perguntando se haveria momento mais
propício na vida para se experimentar as mais variadas formas de vivências do
que a juventude.
O chamado conflito de gerações é uma constante
nas sociedades desde Sócrates (470/399 a.C.)... sim, Sócrates é o autor do
segundo texto acima entre aspas! Desde então filósofos, pedagogos e outros
pensadores destilaram suas críticas sobre esses “seres incompreendidos”.
Talvez Shakespeare estivesse
certo, toda essa desconfiança reside no fato de que já fomos jovens, já fomos
inconsequentes suficientemente para não querer que nossos filhos corram os
mesmos riscos que estivemos sujeitos um dia. Queremos protegê-los das
frustrações, decepções, das experiências sexuais impróprias e de tantas outras “ameaças”.
Por isso, sempre os julgamos despreparados para serem autônomos.
Mas não foi isso que eu vi ontem,
ali naquela festa, tomada por mais de cinquenta jovens, eu que na maioria do
tempo permaneci sentado com minha cervinha, constatei que tanto as moças quanto
os rapazes experimentavam um ritual de iniciação de interações sociais. Esses
rituais estão repletos de componentes, cuja moral religiosa (no nosso caso a judaico-cristã)
rejeita sob o argumento da degradação do espírito. Não diferindo de nenhuma
cultura em qualquer temporalidade, eles exploraram as mais variadas formas de
interações, algumas carregadas de sensualidades, alteraram seus estados de
consciência com substâncias permitidas em nossa cultura (talvez até algumas não
permitidas nos tempos atuais), mas no final, tratava-se de diversão, de
conhecer seus limites, de autoconhecimento.
E foi isso que eu vi, muita
diversão. É claro que alguns passam do ponto, mas a grande maioria vai fazer
dessa fase da vida aquilo que ela realmente deve ser... uma fase e só. No
futuro próximo serão profissionais de boa qualidade, constituirão famílias, serão
pais e, assim como nós, desejarão o melhor para seus filhos. Como nós, terão
lembranças nostálgicas dos amores vividos, das amizades raras (algumas
carregaremos pelo resto da vida), de momentos inesquecíveis...
Termino com a frase de uma música
de uma banda que marcou minha juventude, o 14 Bis:
Nossa linda juventude
Página de um livro bom
Canta que te quero
Cais e calor
Claro como o sol raiou
Claro como o sol raiou..
Jonatas Carvalho