quarta-feira, agosto 25, 2010

AMARIÁUREA

Estou publicando este texto no dia 26 de agosto, mas ele foi escrito na madrugada do dia 24, às 00:07h eu enviei uma mensagem de texto para minha esposa pelo seu aniversário. O fato é eu gostaria de estar ao lado dela, para abraçá-la e beijá-la, mas eu estou aqui em Cabo Frio enrolado com a organização de um simpósio.
Eu já ouvi e li algumas coisas sobre o amor, não muitas, pois nunca fui muito ligado em romances ou romancistas, nunca fui leitor de poesias, minha relação com a leitura sempre foi muito racionalista.
O amor, esta categoria abstrata da vida, este código que todos tentam decodificar sem sucesso, por vezes tratado como uma planta que requer ser regada para continuar a florescer, por outras percebido como uma chama que necessita do oxigênio para permanecer acesa.
Ao amor se atribui a inspiração para a composição de milhares de canções nas mais variadas línguas, o que seriam dos poetas sem o amor, alguns certamente sequer seriam conhecidos, graças ao amor,histórias fascinantes capazes de nos emocionar nos chegam por filmes e livros.
Como já disse anteriormente em outros textos, não acredito no amor, não posso compactuar com as tentativas frustrantes de procurar definí-lo. Descrever o amor é especular e representar experiências e percepções humanas passíveis de engano. Afinal a partir de quando a humanidade descobriu o amor? Amar é um processo? Existe amor a primeira vista? É possível aprender a amar alguém? Existe amor verdadeiro? Pode-se amar eternamente? O amor é uma via de mão dupla ou pode-se amar sem ser correspondido? O amor é uma escolha ou somos escolhidos pelo amor? O amor é um conceito constituído de várias categorias, isto é, amor de mãe, de filho, de pai, amor conjugal, etc. O que diferencia o amor da paixão? Seria a paixão um sintoma agudo do amor?
Pode-se amar indistintamente? Há amor grande e pequeno? É possível amar muito ou pouco? Não acredito no amor, o amor é uma invenção, uma tentativa racional de representar sentimentos e sensações. Que sentimentos são estes? Que sensações? Que sentimentos reunidos compreendem o amor? O amor é um sentimento único, singular? Quando tento definir o que sinto por você, reflito da seguinte forma:
Se quando se pensa em alguém, se pensa com um carinho tão grande, se pensa com profunda estima, se isso é amar, então te amo!
Quando não se consegue imaginar o futuro sem o outro, quando não se consegue ver sentido na própria existência sem o outro, se isto é amar, então te amo!
Quando nos divertimos constantemente ao lado do outro, quando conseguimos ver na loucura do outro um bem a si mesmo, se isto é amor, te amo!
Quando se chega a conclusão que apesar das contradições e contrariedades, que apesar dos conflitos e diferenças, conseguimos enxergar todas as qualidades, toda a bondade, conseguimos ter satisfação ao lado do outro, se isto é amar, então te amo!
Se ao olhar para o passado somos capazes de nos arrepender dos danos causados ao outro, das desnecessárias brigas e acusações, mas, sobretudo, se somos capazes de mudar comportamentos que podem comprometer a relação com outro sem ver neste esforço uma obrigação, se isto é amar, então te amo!
Se ao contemplar os anos vividos juntos, se consegue se sentir plenamente feliz pelo resultado, mesmo que algumas metas não tenham sido alcançadas, mesmo que alguns sonhos pessoais não tenham se realizados, se isto é amar, te amo!
Se ao olhar para filhos, não se consegue imaginá-los como fruto de outra relação, ao contrário, só conseguimos ver neles obras de arte resultantes de nossa produção conjunta, nossa melhor contribuição para a humanidade, se isto é amar, então te amo!
Se quando se pensa na vida sem o outro, uma sensação de vazio nos angustia ao ponto de suscitar palpitações, se a isto podemos chamar amor, então te amo!
Não acredito no amor, mas acredito em você, em nós, naquilo que juntos construímos. A minha história pessoal pode ser dividida em antes e depois de você. Se há uma razão para parabenizá-la por seus anos de vida, esta razão se dá não apenas por tudo que você representa para aqueles que têm o privilégio de tê-la como amiga, companheira de trabalho ou membro familiar, mas também por tudo que você representa para mim, pelos filhos que me deste, pela vida que hoje me orgulho de ter ao teu lado e principalmente, por quem você é.
Parabéns...
Com amor....
Jonatas.

terça-feira, agosto 17, 2010

Papo Reto(sigmoidoscopia)

O dia de hoje certamente nunca se apagará das minhas lembranças relacionadas ao sofrimento. Na atual circunstância nem me importo mais em revelar que o amigo oculto na crônica anterior na verdade era eu mesmo.
Meu sofrimento teve início na noite de ontem, desde que minha esposa chegou em casa com três frascos de phosfoenema, um produto a base de fosfato de sódio, contendo 130 ml cada, cujo objetivo é promover rapidamente a evacuação intestinal. Minha dignidade viril foi aos poucos de esvaindo na mesma medida que eu precisava introduzir um daqueles frascos no meu reto,o primeiro às 22 horas de ontem, e os outros dois na manhã de hoje.
O pior ainda estava por acontecer, ao chegar no consultório descobri que era necessário anexar a receita do médico uma autorização do meu plano de saúde para a realização do mesmo. Disse a recepcionista que eu já havia feito os procedimentos pré-exame e que de forma alguma me submeteria novamente a tal situação. Após a garantia que eu faria o exame, eu e minha esposa pegamos o carro e fomos até a sede da empresa do plano de saúde, estávamos dispostos a tudo, inclusive virar a mesa do diretor caso ele dissesse que só aprovaria o referido em cinco dias, como acontece com alguns exames.
De posse da autorização retornamos a clínica, ao entrar no consultório do médico, que por sinal foi muito gentil no trato pessoal, me explicando todos os detalhes do procedimento procurando tranquilizar-me, mas em seguida me deu uma dedada que ecoou em minha garganta. Meu reto já ardia (ou devo dizer meu cú) e doía intensamente, o doutor faz uma pequena correção na postura fetal em que me encontrava sobre a maca em seguida me disse que iria introduzir a mangueira flexível no meu ânus e que eu deveria relaxar, descontraír a musculatura.
Nunca pensei que eu poderia ter uma visão de mim mesmo tão profunda, o monitor a minha frente mostrou um túnel de carne que aprofundava a medida que eu sentia algo enterrar mais e mais no meu rabo. Por um momento achei que veria minhas víceras, comecei a suar frio, me senti enjoado e deixei automaticamente de olhar para aquele maldito monitor.
Apesar de rápido, um tipo de exame como esse deveria ocorrer na máximo uma vez na vida de um homem. Ao terminar, disse ao médico que esperava que ele considerasse meu exame de próstata feito antecipadamente, pois não suportaria ter que tomar uma dedada novamente.
O único aspecto positivo nesta história toda é que hoje tenho mais do que certeza da minha masculinidade, pois se aos quarenta anos um homem passa por tais procedimentos sem se sentir constrangido, desconfortável ou incomodado, certamente corre um enorme risco de "aviadar-se" em plena maturidade.
Não vou me estender mais, mesmo sentado sobre uma confortável almofada continuo com dor, não posso mais escrever... então fim.

segunda-feira, agosto 09, 2010

Papo Reto


Existem algumas coisas constrangedoras na vida, como deixar cair a dentadura dentro da taça de champanhe no momento em que se brinda a saúde de alguém, perder a parte de cima do biquíni em pleno domingo na praia ou sofrer um impeachment por causa de umas sessões de boquete da secretária.
Um amigo meu, (pretendo manter seu anonimato para evitar constrangimentos posteriores) vem passando por algumas situações nada agradáveis desde que seu reto passou a lhe incomodar. Tudo começou com uma coceira intermitente, provocando um desconforto duplo, pois além da coceira em si, meu amigo ainda precisava encontrar meios que não chamassem muita atenção para coçar.
Alguns dias depois, meu amigo acordou e como de praxe foi dar aquela barrigada matinal, foi um sofrimento só. Após ter terminado, me enviou um e-mail com a seguinte questão: Um chinês vai ao banheiro e após muito sofrer descobre que está com hemorróidas, qual é o nome do filme? Não sei! Respondi. Resposta: Ku-chaixangui. A piada é sem graça, mas o termo hemorróida deriva do grego antigo αἱμορροΐς (aimorrois), composto de αἷμα (aima) "sangue" e ῥέω (reo) "escorrer"). Na prática trata-se de uma disfunção no sistema circulatório resultando na dilatação anormal das veias da região anal.
Conforme me relatou posteriormente (e confidencialmente), após entupir seu ânus com pomadas de erva de passarinho por uma semana sem resultados e ser pressionado pela esposa a procurar um proctologista, meu amigo decidiu marcar uma consulta (também contribuíram para tal decisão; a dificuldade de sentar, de defecar, além das dores incessantes e as brincadeiras de mau gosto por parte dos próprios familiares).
Tudo que ele queria é que o tal especialista tivesse dedos finos. Em um primeiro momento, meu amigo iludia-se com a idéia de encontrar uma proctologista, sabia, contudo que se tratava de uma quimera. Em outro momento imaginou um proctologista bem magro, gentil e gay. Em seguida, porém, desfez o pensamento, ao cogitar que um proctologista gay pudesse ter algum tipo de tara pelo ânus alheio. Por fim, meu amigo limitou-se a agendar a consulta com o único especialista que constava na lista de seu plano de saúde.
A ida ao médico foi um constrangimento só, o ônibus estava vazio, ao lado da esposa e da sobrinha de seis anos meu amigo se contorcia de dor, não agüentando mais levantou-se no meio do caminho dizendo a sobrinha que seu joelho doía. A partir daí foi uma dupla tortura, a dor contínua e a expectativa de adentrar o consultório médico.
O momento tanto aguardado chegou, meu amigo que já ficara satisfeito ao ouvir o médico lhe chamando na hora certa, coisa rara hoje em dia. Ao entrar pela porta observou discretamente o homem de jaleco branco em sua frente, seus olhos focaram as mãos do doutor, foi amor a primeira vista e apesar do anel exagerado de ouro, as mãos eram normais, com dedos nem grossos nem finos, apenas normais.
O médico demonstrou sensibilidade, ao saber que estava com dor, disse ao meu amigo que não faria qualquer toque, apenas queria olhar. Mal saíra do consultório, a esposa preocupada ligou querendo saber como tinha sido no médico. Ele respondeu que a única coisa que o preocupava era o exame que o doutor lhe mandara fazer, começava com RETO seguido de um palavrão indecifrável. Mais tarde descobrira que o tal palavrão era RE-TOS-SIG- MO- DOI – SCO- PIA, isto mesmo retossigmodoiscopia.
Agora a agonia do meu amigo é saber como é feito este exame, pelo nome não deve ser nada bom.

Jcarval.

terça-feira, agosto 03, 2010

Cheia de Júbilo

Se eu acreditasse em reencarnação diria que minha filha Júlia em alguma vida passada pudesse ter encarnado uma Joana Darc ou uma madre Tereza. Nunca vi criatura mais dócil, mais iluminada e digo mais, se acreditasse no processo de reencarnação, Júlia estaria na sua última passagem pela terra, certamente com esta encarnação ela teria alcançado o nirvana. Como não acredito em nada disso, digo que fui presenteado com uma estrela que brilha em nosso lar desde que nasceu.

No último ano levei comigo para Cabo Frio meu filho João Mateus (aos 13 anos) e escrevi sobre esta fabulosa aventura. Eu e João nos divertimos muito e comemos muito, lá ele dirigiu nosso carro pela primeira vez e me surpreendeu pela sua habilidade.

Este ano, Júlia me cobrou: - Pai eu quero ir com você para Cabo Frio,só nós dois!
Na semana passada tomei coragem e carreguei minha filha comigo, entre as diferenças de viajar com Júlia e João posso citar o volume da bagagem, a da Júlia foi duas vezes o volume do João.
Viajar com Júlia foi sublime, ri muito das suas histórias e observações, não tive qualquer aborrecimento (por incrível que pareça com João também não!), apenas alegrias.
Júlia é tão generosa que quando visitamos o canil municipal instalado lá na Fazenda Campos Novos, o animal que ela mais se apegou foi uma cadelinha paralítica que corria toda feliz atrás dela pelo gramado arrastando as duas patas traseiras.
Na casa de nossos amigos, onde ela ficou hospedada a família quase a adotou, todos me diziam o quanto ela era agradável.
Meus programas com Júlia também foram diferentes em relação ao João, com Júlia o foco não foram restaurantes e lanchonetes, mas a sorveterias e docerias. Passeamos para olhar vitrines e fizemos compras em lojas de roupas e souvenirs.
Júlia é um exemplo, um grande aprendizado para mim, conviver com ela é estar todo o tempo em contado com a simplicidade, com a tolerância e compaixão, é também conviver com a espontaneidade e ingenuidade.
Se eu pudesse descrever Júlia numa só frase eu diria que ela reflete o significado do próprio nome; cheia de Júbilo.

Relatório de viagem de um pai conscientemente coruja.