Este mês o mundo estará atento a bola, pelo menos é isto que a mídia brasileira propaga. Não creio que esta será uma realidade mundial, afinal qual o interesse dos países não classificados em acompanhar a copa do mundo? O que dizer então dos países sem qualquer tradição futebolística distribuídos nos seis continentes.
Tomemos alguns exemplos: a Oceania é composta por 15 países, destes, no quesito futebol creio que apenas a Austrália e a Nova Zelândia são conhecidos, o restante, bem ai vai uma listinha dos outros 13 países: Fiji ; Ilhas Marshall;Ilhas Salomão; Kiribati; Micronésia (Federação dos Estados); Nauru; Palau; Papua Nova- guiné; Samoa; Timor-Leste; Tonga;Tuvalu; Vanuatu.
Vamos a outro exemplo; a África. Este gigantesco continente que foi partilhado feito bolo de fubá entre as potências imperialistas no século XIX e que atualmente é dividida em dois grandes grupos: a África Branca ou setentrional formada pelos 8 países da África do norte, mais a Mauritânia e o Saara Ocidental, e a África Negra ou subsaariana formada pelos outros 44 países do continente. Este enorme continente hoje conta com 54 países independentes, destes, apenas seis foram a copa neste ano, um recorde na verdade. Entre os classificados para a copa da África estão: Gana, África do Sul, Camarões, Costa do Marfim e Nigéria, representando a África negra, a Argélia (a parte Árabe ao norte do continente).
No caso americano a situação não é muito diferente dos outros continentes. O continente americano é dividido em três: o Norte-Americano com 3 países independentes; Canadá, Estados Unidos e México, os dois últimos participam da copa da África. Na América Central há 7 países independentes mais o Caribe (região insular da América Central) que possui 13 países independentes (fora os 11 territórios), totalizando 20 países. Para a copa de 2010 apenas Honduras de classificou (apesar do belo time da Costa Rica), logo em todo esse universo de países, apenas um disputa a copa do mundo. Já na América do Sul, a participação dos países muda significativamente, dos 11 países (não contei as duas Guianas), 5 estão disputando a copa na África.
A Europa é o continente que mais possui vagas para disputar copas do mundo, são 13 vagas, para 50 países e 8 territórios. Na América do sul e África, por exemplo, são 5 vagas para cada um dos continentes, isto é, os dois continentes juntos não dão a Europa. Dentre os países europeus, na eliminatória para a copa da África, 53 disputaram as 13 vagas. Logo a distribuição desigual só se justifica por um quesito o PIB. Sem falar em números, creio que apenas dizer que enquanto a Europa (como continente) agrega o maior PIB do mundo, o PIB de toda África representa apenas um pouco mais de 1% do PIB mundial, sendo que a África do Sul sozinha representa 1,5% do total do PIB da África.
Feito esta exposição, o que se evidencia é que o mundo da bola é muito menor do que parece. Esta história de que o futebol A ou B tem mais tradição que o C e D não passam de argumentos inventados, como disse Hobsbawm muitas tradições são inventadas para a manutenção do status quo. A tradição neste caso me parece ser puramente econômica, o time dos EUA pode ser usado como exemplo, participou das duas primeiras copas do mundo (1930-1934), depois só voltou a disputar em 1990, desde então, graças a investimentos pesados, classificou-se para todas as copas subseqüentes, embora o máximo que tenha chegado numa copa foi a disputa das quartas-de-final contra a Alemanha em 2002.
O mundo da bola, ou o mundo da FIFA que nesta copa, estima-se, faturará 4 bilhões de dólares, destes, 75% vem dos direitos de transmissão televisiva, com a participação de 400 emissoras e estimativa de atingir 30 bilhões de espectadores ao longo das 64 partidas transmitidas, ou seja, uma média de 468 milhões de telespectadores por partida. Em um mundo cuja população mundial atinge a casa dos 6.8 bilhões de pessoas, o acesso ao mundo da bola é ainda restrito.
O mundo onde 75% da população vive com menos de 2 dólares por dia, onde 22% são analfabetos, metade nunca utilizou um telefone na via e apenas 0,24% possui internet, contrasta com o evento bilionário de futebol. A África, sobretudo, há anos toma “bola nas costas” dos países ocidentais, o que restará quando a copa acabar? Alguém acredita no “legado” deixado para África, como afirma a FIFA? Eu duvido.
Jonatas C. de Carvalho
quinta-feira, junho 24, 2010
sexta-feira, junho 04, 2010
A VIDA QUE TEMOS E A VIDA QUE QUEREMOS.
Marx percebeu ao olhar o processo de industrialização europeu, uma contradição; o desenvolvimento e crescimento econômico dividiu a sociedade em classes sociais distintas, de um lado os industriais capitalistas cada vez mais ricos, do outro o trabalhador assalariado, sua única riqueza, era sua mão de obra.
Nem sempre temos a vida que desejamos, na maioria dos casos, se perguntamos a alguém se gostaria de alterar seu modo de viver, a resposta certamente será um sim. Por quê? As pessoas são insatisfeitas por natureza? Ou seria o fato de todos sermos fruto de uma sociedade de consumo? Mas antes do capitalismo, a espécie humana não era assim?
Esta dualidade existencial já era apontada em vários textos do passado, poderemos constatá-la em Shakespeare, a tensão entre a vida que temos e a vida que gostaríamos de ter, não é um fenômeno dos nossos tempos. Durante toda a história da sociedade veremos esta tensão, poderíamos até afirmar que de certa forma a história do gênero humano é a história da insatisfação.
A insatisfação, no entanto, não é um mal em si. Graças a homens e mulheres insatisfeitos é que a espécie conseguiu sair da condição de nômade para sedentário. Conseguimos criar instrumentos, ferramentas e tecnologias para realizar sucessivas descobertas.
Quando, porém, a insatisfação no âmbito pessoal nos afeta diretamente o que fazer? Quantos de nós preferimos no conformar. O ritmo da vida que levamos, as vezes contribui para isso, trabalhamos tanto que não nos damos conta que não era bem assim que queríamos viver. Mas fazer o que? Se é assim, então só nos resta agradecer pelo emprego que temos, ainda que nossa remuneração não nos possibilite a ter o que gostaríamos.
Hoje eu estava na cama com duas mulheres maravilhosas, minha mulher e filha, assistíamos a um filme muito emocionante de um cão que esperou por nove anos seu dono voltar em uma estação ferroviária. Enquanto contemplava minhas meninas chorar nesta emocionante história, percebi, a sorte de vida que tenho.
Durante meus primeiros anos de casado não tinha nem tempo, nem paciência para os pormenores familiares, não podia prestar atenção as necessidades básicas da família, que em muitos casos, era apenas de atenção. Eu estava muito ocupado, preocupado com a vida que queríamos, com isso não podia notar a vida que tínhamos, por muito pouco, quase perdi ambas.
Creio que minha carreira de historiador, associada as lições da própria vida, me ajudaram a perceber que o passado e o futuro não fazem sentido algum sem a concretude do presente.
Viver o presente é realmente o que me interessa hoje, participar do crescimento e educação dos meus filhos, ouvir atentamente seus conflitos, tomar sorvete no frio, assistir romances, jantar em família, churrasco de domingos...
Ainda tenho sonhos....não, não me acomodei, apenas entendi que não sou um ser isolado neste mundo, apesar de procurar frequentemente o isolamento, hoje sei que há mais, sei que existe “um nós” e não apenas “eu”. Mas adivinhem “eu” estou adorando este negócio de “nós”. Como diria Nietzsche; aquilo que se faz por amor, está sempre além do bem e do mal.
Jcarval.
Nem sempre temos a vida que desejamos, na maioria dos casos, se perguntamos a alguém se gostaria de alterar seu modo de viver, a resposta certamente será um sim. Por quê? As pessoas são insatisfeitas por natureza? Ou seria o fato de todos sermos fruto de uma sociedade de consumo? Mas antes do capitalismo, a espécie humana não era assim?
Esta dualidade existencial já era apontada em vários textos do passado, poderemos constatá-la em Shakespeare, a tensão entre a vida que temos e a vida que gostaríamos de ter, não é um fenômeno dos nossos tempos. Durante toda a história da sociedade veremos esta tensão, poderíamos até afirmar que de certa forma a história do gênero humano é a história da insatisfação.
A insatisfação, no entanto, não é um mal em si. Graças a homens e mulheres insatisfeitos é que a espécie conseguiu sair da condição de nômade para sedentário. Conseguimos criar instrumentos, ferramentas e tecnologias para realizar sucessivas descobertas.
Quando, porém, a insatisfação no âmbito pessoal nos afeta diretamente o que fazer? Quantos de nós preferimos no conformar. O ritmo da vida que levamos, as vezes contribui para isso, trabalhamos tanto que não nos damos conta que não era bem assim que queríamos viver. Mas fazer o que? Se é assim, então só nos resta agradecer pelo emprego que temos, ainda que nossa remuneração não nos possibilite a ter o que gostaríamos.
Hoje eu estava na cama com duas mulheres maravilhosas, minha mulher e filha, assistíamos a um filme muito emocionante de um cão que esperou por nove anos seu dono voltar em uma estação ferroviária. Enquanto contemplava minhas meninas chorar nesta emocionante história, percebi, a sorte de vida que tenho.
Durante meus primeiros anos de casado não tinha nem tempo, nem paciência para os pormenores familiares, não podia prestar atenção as necessidades básicas da família, que em muitos casos, era apenas de atenção. Eu estava muito ocupado, preocupado com a vida que queríamos, com isso não podia notar a vida que tínhamos, por muito pouco, quase perdi ambas.
Creio que minha carreira de historiador, associada as lições da própria vida, me ajudaram a perceber que o passado e o futuro não fazem sentido algum sem a concretude do presente.
Viver o presente é realmente o que me interessa hoje, participar do crescimento e educação dos meus filhos, ouvir atentamente seus conflitos, tomar sorvete no frio, assistir romances, jantar em família, churrasco de domingos...
Ainda tenho sonhos....não, não me acomodei, apenas entendi que não sou um ser isolado neste mundo, apesar de procurar frequentemente o isolamento, hoje sei que há mais, sei que existe “um nós” e não apenas “eu”. Mas adivinhem “eu” estou adorando este negócio de “nós”. Como diria Nietzsche; aquilo que se faz por amor, está sempre além do bem e do mal.
Jcarval.
terça-feira, junho 01, 2010
INSANIDADE POLÍTICA MUNDIAL
As teorias behavioristas entendem por insanidade a repetição de certos comportamentos associados a expectativa de resultados diferentes, isto é, repetir os erros e esperar que as conseqüências sejam outras.
A partir desta perspectiva poderíamos afirmar sem temor, que a sociedade é insana. Afinal, por anos repetimos todo o tipo de comportamentos sociais contraproducentes em detrimento da própria sociedade. Citarei alguns destes comportamentos no âmbito da política, e aqui defendo que, a ambição de poder e a ganância dos poderosos, estão intrinsecamente relacionadas com este tipo específico de insanidade. Vamos aos exemplos:
Apesar de a comunidade científica apontar para os problemas e conseqüências do aquecimento global desde a década de 80, os EUA não assinaram o protocolo de Kioto em 1997. O protocolo de Kioto foi conseqüência de uma sucessão de estudos e eventos internacionais, dentre estes eventos citamos a Conference on the Changing Atmosphere, (Canadá 1988), e a ECO 92, no Brasil. O comportamento insano veio a se repetir, não inteiramente, mas parcialmente no Fórum mundial do clima em Copenhagen em 2009, onde as metas apresentadas pelos países poluentes (e isto inclui o Brasil), estão longe de serem alcançadas.
Esta semana temos um exemplo mais interessante sobre este tipo de insanidade. Israel atacou um navio de ajuda humanitária em mares internacionais, matando nove pessoas, ferindo várias e até amanhã irá deportar o que restou, o que para mim não é novidade. A insanidade não está nisto, mas sim na reação internacional, ou seja, os órgãos multilaterais repudiam o ataque, alguns presidentes de países europeus condenam as ações de Israel e pedem que se retomem as negociações de paz. No Oriente médio, as populações vão às ruas, queimam as bandeiras de Israel, os líderes muçulmanos alegam “terrorismo de Estado” e incitam o povo palestino a reagir. O Conselho de Segurança da ONU condena o ataque e pede que a investigação dos fatos, enquanto os EUA evitam manifestar-se veementemente, alegando ser mais prudente aguardar os resultados das investigações.
Se olharmos os últimos ataques de Israel seguidos de morte de civis, seja em Gaza, seja nas regiões (como na Cisjordânia), onde o projeto de ampliação dos acampamentos judaicos segue com as derrubadas de casas de palestinos, a reação internacional é sempre a mesma. Entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009, Israel em mais um ataque de “reação” desproporcional descarregou um bombardeio matando mais de 1.400 civis, dando início ao bloqueio a Gaza, sob a alegação de impedir que o Hamas e outros grupos recebam armas de Síria e do Irã. Passaram três anos, desde então e o bloqueio segue.
O ataque a um navio em mares internacionais, cuja tripulação seria composta de ativistas de várias nacionalidades poderá servir de “moeda de troca”, nas negociações sobre o desbloqueio a Gaza, mas está longe de ser suficiente para uma discussão mais ampla sobre a paz. Isto porque os EUA não irão pressionar Israel, já que o mesmo é o braço do Tio San na Região. Braço nuclear, diga-se de passagem, afinal Israel possui um programa nuclear clandestino, conforme o relato do professor de relações internacionais da UNB, José Flávio Saraiva, embora só o Irã receba sanções. A insanidade, nestes casos, são resultados de comportamentos motivados pela conveniência política. Conveniência esta que, implica na manutenção do status quo, dos acordos políticos e na manutenção do poder.
Esperarmos uma mudança nas relações no oriente médio que vislumbre a paz, significa esperarmos mudança nas reações dos organismos internacionais, que passa por pressionar os EUA em agir no sentido de criar o Estado Palestino. Se tal esforço não ocorrer, o que veremos por muito tempo ainda, para infelicidade do povo palestino, é a insanidade política repetindo-se ano após ano.
Jonatas C. de Carvalho.
A partir desta perspectiva poderíamos afirmar sem temor, que a sociedade é insana. Afinal, por anos repetimos todo o tipo de comportamentos sociais contraproducentes em detrimento da própria sociedade. Citarei alguns destes comportamentos no âmbito da política, e aqui defendo que, a ambição de poder e a ganância dos poderosos, estão intrinsecamente relacionadas com este tipo específico de insanidade. Vamos aos exemplos:
Apesar de a comunidade científica apontar para os problemas e conseqüências do aquecimento global desde a década de 80, os EUA não assinaram o protocolo de Kioto em 1997. O protocolo de Kioto foi conseqüência de uma sucessão de estudos e eventos internacionais, dentre estes eventos citamos a Conference on the Changing Atmosphere, (Canadá 1988), e a ECO 92, no Brasil. O comportamento insano veio a se repetir, não inteiramente, mas parcialmente no Fórum mundial do clima em Copenhagen em 2009, onde as metas apresentadas pelos países poluentes (e isto inclui o Brasil), estão longe de serem alcançadas.
Esta semana temos um exemplo mais interessante sobre este tipo de insanidade. Israel atacou um navio de ajuda humanitária em mares internacionais, matando nove pessoas, ferindo várias e até amanhã irá deportar o que restou, o que para mim não é novidade. A insanidade não está nisto, mas sim na reação internacional, ou seja, os órgãos multilaterais repudiam o ataque, alguns presidentes de países europeus condenam as ações de Israel e pedem que se retomem as negociações de paz. No Oriente médio, as populações vão às ruas, queimam as bandeiras de Israel, os líderes muçulmanos alegam “terrorismo de Estado” e incitam o povo palestino a reagir. O Conselho de Segurança da ONU condena o ataque e pede que a investigação dos fatos, enquanto os EUA evitam manifestar-se veementemente, alegando ser mais prudente aguardar os resultados das investigações.
Se olharmos os últimos ataques de Israel seguidos de morte de civis, seja em Gaza, seja nas regiões (como na Cisjordânia), onde o projeto de ampliação dos acampamentos judaicos segue com as derrubadas de casas de palestinos, a reação internacional é sempre a mesma. Entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009, Israel em mais um ataque de “reação” desproporcional descarregou um bombardeio matando mais de 1.400 civis, dando início ao bloqueio a Gaza, sob a alegação de impedir que o Hamas e outros grupos recebam armas de Síria e do Irã. Passaram três anos, desde então e o bloqueio segue.
O ataque a um navio em mares internacionais, cuja tripulação seria composta de ativistas de várias nacionalidades poderá servir de “moeda de troca”, nas negociações sobre o desbloqueio a Gaza, mas está longe de ser suficiente para uma discussão mais ampla sobre a paz. Isto porque os EUA não irão pressionar Israel, já que o mesmo é o braço do Tio San na Região. Braço nuclear, diga-se de passagem, afinal Israel possui um programa nuclear clandestino, conforme o relato do professor de relações internacionais da UNB, José Flávio Saraiva, embora só o Irã receba sanções. A insanidade, nestes casos, são resultados de comportamentos motivados pela conveniência política. Conveniência esta que, implica na manutenção do status quo, dos acordos políticos e na manutenção do poder.
Esperarmos uma mudança nas relações no oriente médio que vislumbre a paz, significa esperarmos mudança nas reações dos organismos internacionais, que passa por pressionar os EUA em agir no sentido de criar o Estado Palestino. Se tal esforço não ocorrer, o que veremos por muito tempo ainda, para infelicidade do povo palestino, é a insanidade política repetindo-se ano após ano.
Jonatas C. de Carvalho.
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