segunda-feira, novembro 18, 2019

O ULTRALIBERALISMO BRASILEIRO E A INTERVENÇÃO NA GORJETA

Hoje cedo dei uma olhada na medida provisória 905, que "Institui o Contrato de Trabalho Verde e Amarelo, altera a legislação trabalhista, e dá outras providências." Preciso dizer inicialmente algumas coisas, primeiro que sou favorável a políticas públicas que visem promover o incremento da economia, sobretudo, em um país com altos índices de desemprego, políticas que vão ao encontro dessa massa de desempregados devem ser sempre recebidas com entusiasmo. A outra coisa que devo dizer é que não sou economista, logo não quero aqui dar pitacos em área que não domino, muito menos falar como um entendido, mas como cidadão tenho o direito e dever de me manifestar. 

A MP 905 é um tanto assustadora em volume e complexidade, são 40 páginas que possivelmente ainda irão aumentar significativamente quando for discutida nas comissões e câmaras, segundo alguns analistas elas alteram mais de 33 artigos da CLT e tantos outros artigos da legislação trabalhista e previdenciária. Me indago sobre a necessidade de uma medida provisória dessa envergadura em um espaço de apenas dois anos após o país ter realizado uma reforma trabalhista, diga-se de passagem, na ocasião os defensores da proposta diziam que depois da reforma o mercado de trabalho no Brasil voltaria aos eixos, então essa reforma de fato nem de perto atingiu os objetivos previstos oficialmente. Outras previsões, no entanto, desdenhadas por certas bancadas no congresso,  diziam que a reforma trabalhista iria acarretar em aumento do trabalho precarizado e informal, o IBGE recentemente divulgou que o trabalho informal atingiu record, isto é, 41,4% do total da população ocupada no país. 

Não pretendo aqui comentar todo o projeto da equipe de Paulo Guedes, mas gostaria de comentar apenas mais alguns tópicos. 

O projeto trata da criação de novos postos de trabalho, não se destina, portanto, a todos os trabalhadores, as empresas só podem contratar nessa modalidade  até 20% do seu efetivo. Mas qual a vantagem do contratante? Ele vai reduzir os "gastos" com contribuições, sobretudo com o FGTS que irá contribuir apenas com 2% e não mais com 8%,... até aqui acho aceitável principalmente que tal modalidade tem prazo de vencimento. Minha crítica aqui é qual a contrapartida do Governo? Então é assim, vamos promover emprego, o empregador paga demais, assim se o empregado quer trabalhar deve simplesmente aceitar às condições, para estimular vamos desonerar o empregador, desde que isso não implique em onerar as contas públicas, logo, sobra pra você que está desempregado e precisa muito desse emprego. 

Aí vem  mais alguns problemas graves, o primeiro já nomeado pelo Élio Gaspari, como "uma covardia", trata-se do item (Cap. VI) que taxa o o seguro desemprego, a proposta é que o seguro desemprego seja taxado para fins de contribuição da previdência social, isso é, bizarro, como diria um certo amigo. 

Mas minha maior surpresa foi ver uma proposta ultraliberal que saiu desregulamentando geral, entrar numa de regulamentar a gorjeta, são quase duas páginas visando solucionar a situação de como se deve fazer com a gorjeta, a solução da equipe econômica? Vamos taxar a gorjeta! Segundo o texto a taxação serviria para o empregador cobrir gastos com outros encargos. Já há uma lei de 2017 prevendo isto, pelo visto, não fora implementada. 

Lembrei de Reginaldo Rossi:
"Garçom, aqui nessa mesa de bar
Você já cansou de escutar
Centenas de casos de amor" 

Mas por essa o Garçom não esperava... 

Jonatas Carvalho 


    












sábado, novembro 16, 2019

LUZ, CÂMARA, AULÃO - PLURAL NO CINEMA.

Eis uma história de sucesso! O Plural no Cinema foi um evento na cidade. Mas antes de falarmos dessa história, permita-nos uma breve retrospectiva (talvez não tão breve assim), porque nenhum evento emerge da noite pro dia, há sempre um processo, em alguns casos gradual, em outros tempestivos; o que parece ser este caso.
O projeto nasceu e foi se desenvolvendo nas mentes de alguns professores petropolitanos em 2018. A pergunta central era; como montar um curso preparatório universitário diferente do que se tem por ai?  

Sem responder plenamente a esta questão, o Plural Curso Preparatório foi aberto no distrito de Itaipava (Petrópolis) no inicio desse 2019. Éramos cinco sócios na ocasião, todos trabalhavam em rotinas pesadas de aulas em outras escolas, decidiu-se então por um sistema de revezamento onde cada um estaria no curso em um dia da semana e contávamos ainda com o suporte da nossa querida estagiaria, Maria Eduarda. No dia da inauguração do curso havia uma aluna efetivamente matriculada, mas ocultamos este pequeno detalhe dos convidados, estávamos temerosos, apreensivos, no entanto, ligeiramente felizes e confiantes. 

Nossa expectativa era de que iríamos passar o ano de 2019 com 10 ou 15 alunos e assumir o ônus, se o trabalho fosse bom (e aqui residia nosso alicerce, pois confiávamos em nossa capacidade), quem sabe em 2020, teríamos uma sala cheia de alunos. Tudo caminhava conforme a expectativa, até que algo aconteceu. Em meio a reuniões de autocrítica e discussões sobre se estávamos no caminho certo, passamos a ter surtos criativos e motivacionais. Era necessário sair da mesmice. 

Da esquerda pra direita os sócios: Eric, Jonatas, Marina, Lícia e Felipe
Dissemos acima que não havíamos respondido plenamente a questão sobre como seria um curso preparatório diferenciado, respondemos parcialmente, sabíamos o que queríamos; criar um espaço onde a pluralidade seria valorizada como resultado das individualidades. Só não sabíamos bem como fazer isso acontecer. Tínhamos um ambiente razoavelmente confortável e acolhedor, montamos um ótimo time de professores, mas isso seria suficiente?  Precisávamos fazer com que professores e alunos acreditassem que éramos capazes de prover uma relação de ensino-aprendizagem diferenciada, então surgiu o primeiro projeto, no dia 30 de março fizemos nosso primeiro aulão, cinco professores caracterizados misturaram, história, geografia, biologia, atualidades e filosofia.  Foi ótimo!  

O experimento nos encheu de ânimo, iniciamos outros planos, o próximo projeto seria com foco na primeira fase da UERJ, mas antes de falarmos disto, precisamos falar do PISM (Programa de Ingresso Seletivo Misto), uma importante porta de entrada na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), cujo processo se dá em três etapas cada uma delas correspondendo a um ano do ensino médio. Resolvemos abrir uma turma de PISM 1, para nossa felicidade as inscrições foram acontecendo, a turma foi criada com 10 alunos, não 11, 12...bem, sabemos que terminamos o ano com 17 pluradolescentes maravilhosos... já voltamos a eles. 

Decidimos também que usaríamos o Instagran como nossa principal ferramenta de comunicação com o público, atingimos ao longo do nosso primeiro ano mais de 500 seguidores,  fizemos 70 postagens até aqui e centenas de stories. Usamos essa ferramenta de maneira diversificada, uma delas é divulgar nosso timaço de professores, fazendo um perfil de cada um. Também fazemos postagens informativas, dias comemorativos, como o Dia da Terra , a Abolição da Escravidão ou os 180 anos do nascimento de Machado de Assis, só pra ficar em alguns exemplos, ah, não deixem de ver o do Dia do Vestibulando, com o nosso sócio Eric Mota sendo um fofo. 



Convidamos ao longo do ano alguns professores externos para aulas especiais e temas diferenciados como foi o caso do nosso querido parceiro e entusiasta Eduardo Galves que nos presenteou com uma belíssima aula sobre Planejamento Estratégico, assim como o queridíssimo Pedro Paulo, vulgo PP, que brilhou na sua aula sobre Desenvolvimento de Habilidades Socioemocionais. Por falar em emoção também tivemos um reforço nessa área, sabemos a importância de um emocional equilibrado para realizar essa maratona de provas, desta forma promovemos alguns encontros entre nossos alunos e a psicóloga, Fabíola Foster. Finalmente não podemos deixar de contar sobre as participações de duas feras da literatura as professoras Leda d'Aguila que veio de Teresópolis para dar duas super aulas, uma para a turma do PISM1 e outra para nossa galera do Intensivo (segura ai que ainda vamos falar dessa turma), e nossa querida Gisele Costa com participação especial no Plural no Cinema. 

Voltemos agora ao nosso projeto UERJ, porque no Plural a vida é intensa e cheia de oportunidades para desenvolver o conhecimento, além dos aulões e das aulas especiais, havia listas de exercícios diariamente e quatro simulados modelo ENEM no ano. Descobrimos que o aprendizado criativo é fruto de um conjunto de fatores sociais e biológicos, mas que acima de tudo o ambiente deve favorecer e para que isso ocorra devemos transformá-lo constantemente. Assim, realizamos o Viradão da UERJ e o Plural de pernas pro ar, o primeiro tinha por objetivo um aulão na madrugada, com direito a pijamas, pizzas e muita aula, terminando com um café da manhã reforçado. O segundo, aconteceu no sábado às vésperas da prova da UERJ, professores e alunos foram no Parque de Exposições de Itaipava, só diversão, piquenique e muitas risadas, veja aqui.  

Iniciamos o segundo semestre com a corda toda, não satisfeitos de já termos superado nossa meta inicial, resolvemos abrir uma turma de intensivo aos sábados, pensando nessa galera que não tinha tempo de frequentar as aulas em dias de semana. Mais uma vez fomos felizes e montamos uma bela turma. Tinham se passado seis meses e já estávamos com três turmas, uma de extensivo, uma de PISM e agora uma de intensivo. Nossa questão agora era, como vamos administrar isso?  Quatro professores, cada qual com suas características e personalidades (altamente distintas, às vezes contrastantes)  metidos a administradores de cursinho, é claro que tinha tudo pra dar errado, mas não deu. Sim, falhamos em várias ocasiões, o que é perfeitamente normal, mas mandamos bem demais também!  O fundamental: sabíamos que faríamos diferença na vida dos nossos alunos e eles na nossa. Não deu outra. 

Então perto da reta final ressurgiu uma ideia que já tínhamos discutido lá no inicio, mas na ocasião não levávamos isso muito a sério pelo fato de não termos ideia de como estaríamos, mas agora sabíamos que era possível, e assim tocamos em frente nosso projeto mais ousado do ano; o Plural no Cinema Agora estávamos em quatro, um de nós não gostou de viver com a adrenalina em alta constantemente, pelo menos não do modo que vivíamos, talvez nosso "modelo de gestão" fosse demais pra ele, só que ao invés dele nos abandonar de vez, ficou como nosso super professor de biologia e brilhou. Voltando, alugamos o Cine Itaipava por dois sábados das 8 h às 12 h, a primeira semana seria dedicada as questões de Humanas e Linguagens, a segunda, voltada para Naturezas e Matemática. Foi  como preparar um espetáculo, rolou gravações de vídeos e áudios, produção de jingles e paródias, organização de figurinos, negociação de parcerias e muito, mas muito mais. 
Como dissemos éramos apenas quatro agora, mesmo que fôssemos cinco não daríamos conta, foi então que descobrimos que éramos muito mais, havia um time de pluralistas externos pronto para dar todo suporte que precisávamos, companheiros (as), namorados (as), primos (as), filhos (as), mães e pais, irmãos e irmãs, em fim, sem essa galera não teríamos conseguido. Alguns que estão ao nosso lado desde o nascedouro do projeto sem os quais também não poderíamos ter alcançado nosso objetivo, companheiros e companheiras como Pedro Bastos, Douglas França e Luciene Esteves. Não podemos esquecer de um outro reforço, nossa assistente a Aline Funchal, que logo na primeira semana nos ensinou coisas sobre nosso próprio curso que desconhecíamos, como por exemplo, usar adequadamente a máquina copiadora. 

Plural no Cinema foi um evento e tanto, nunca havia ocorrido algo assim na cidade, demos entrevistas para jornais e televisão, isso foi bom! Mas nada se compara a visão de um cinema cheio de guris e gurias na expectativa do aulão do ano. Foram dois finais de semanas intensos e altamente produtivos, mais do que ensinar, conseguimos transmitir confiança a gurizada, e também provamos para nós mesmos que nós podemos mais. Agora se você pensa que o ano acabou, se enganou meu bem! Estamos em pleno processo de reta final das específicas da UERJ e do PISM. Vai rolar aula de campo em Juiz de Fora e a segunda edição do Plural de pernas pro ar. Já estamos cheios de planos para 2020 e estabelecendo metas até 2030. 

Não temos como deixar de prestar aqui nossa gratidão a todos os nossos professores, Nicolau BorsatoBárbara Soares, Felipe MauroLeandro MagraniSilvana Moraes, Jaqueline SilvaLeonardo Carvalho, Laio Zago, vocês foram vitais nesta pequena, mas significativa história de sucesso! 
Nossas sócias Marina Sá e Licia Quinan que nos mostram todos os dias o que é empoderamento feminino!  

Aos pluralunos que acreditaram no projeto, nosso muito obrigado! Toda essa confusão ai acima foi por vocês!! 

E aí, achou que vale a pena ser plural? Então #venhaserpluralvocetambem !!

                                      
                                                
                                                     Jonatas Carvalho
É sócio e professor de Filosofia e Sociologia do