"Uma mulher negra feliz é um ato revolucionário"
Juliana Borges
A frase de Simone de Beauvoir "ninguém nasce mulher; torna-se mulher", foi tema de questão do ENEM em 2015, e deixou nossos conservadores loucos. Absurdo! Bradavam os defensores da moral judaico-cristã em um surto de ignorância. A intolerância, filha da ignorância se manisfestou de todas as formas para denegrir a filósofa francesa, parceira de Jean Paul Sartre. O que essa gente não compreendeu é que Beauvoir fazia referência a construção social do papel feminino na sociedade, papel esse, diga-se de passagem, definido por uma sociedade machista, que durante boa parte da história decidiu que ser mulher significava submeter-se ao homem, qualquer mulher que recusasse tal papel era considerada como alguém que estava ferindo a moral e os bons costumes. Tonar-se mulher, implicava um processo que começa no próprio lar, a menina deveria ser "educada" para corresponder aquilo que se esperava de uma mulher. Seu papel social já estava definido, cabia-lhe apenas ser conduzida, disciplinada, preparada para exercê-lo.
Não foram os homens que resolveram que o papel social das mulheres deveria mudar, que já estava na hora de lhes garantir mais direitos, a história dos direitos é uma história de luta, de conquista, de sangue e de dor. Ser mulher na época de Simone de Beauvoir não era fácil, imagina ser mulher negra? Seriam os desafios das mulheres brancas os mesmos das negras? Eis uma questão que é pertinente ainda nos dias atuais, basta olhar para alguns dados para percebermos isto, o Mapa da Violência de 2015 os indicativos são reveladores, enquanto o número de mulheres negras assassinadas no Brasil subiu 54% nos últimos dez anos, as mulheres brancas recuaram 9,8%. A taxa de mortalidade por HIV das mulheres negras no Brasil é o dobro das brancas. Enquanto o movimento feminista comemora suas vitórias (não sem razão afinal foram séculos de lutas), as mulheres negras ainda terão um enorme percurso para que lhes sejam garantidos seus direitos.
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Rosa Parks e Claudette Colvin |
Você provavelmente já ouviu falar de Rosa Parks a costureira negra do Alabama que em 1955 recusou-se a dar lugar a um homem branco. Parks estava infringindo a Lei Jim Crow criada em 1876 e que vigorou até 1965 (importante ressaltar que a escravidão nos EUA acabou em 1863), a lei estabelecia que o Estado deveria providenciar nos lugares públicos espaços separados para brancos e negros. No caso dos ônibus, a primeira metade dos acentos eram destinados aos brancos e a segunda metade (fundos) aos negros, caso a primeira metade estivesse cheia e alguém de cor branca entrasse no ônibus um negro deveria se levantar para dar lugar, Rosa Louise McCauley (Rosa Parks) foi presa. A prisão de Parks provocou o primeiro grande boicote ao uso dos ônibus em Montgomery, dentre os líderes do movimento estava o jovem reverendo Martin Luther King Jr. estima-se que 40 mil usuários negros do transporte coletivo deram seu jeito de ir e voltar do trabalho por 381 dias. (essa por si só é uma história a parte).
A história de Rosa Parks é bem difundida mundo afora, a costureira acabou se tornando um dos ícones dos direitos civis. Mas se eu perguntasse a você sobre Claudette Colvin, creio que a resposta será: desconhecimento total. Colvin foi presa por se recusar a dar lugar a um branco no ônibus em Montgomery nove meses antes de Parks. Se Claudette Colvin foi a pioneira porque Parks virou o símbolo do movimento? Porque todo esse desconhecimento sobre a Colvin? A explicação é que Parks tinha 46 anos quando foi presa, era uma mulher que se "encaixava" na lógica machista de decência, já Colvin era uma jovem adolescente, devia ter por volta de 16 anos quando foi presa. Sua atitude, pensaram os líderes do movimento, poderia ser encarada como um ato de rebeldia juvenil e não de consciência política, além do mais havia um agravante, Claudette estava grávida de um homem casado. Uma situação assim seria utilizada contra o movimento, ficou resolvido que o caso da jovem seria tratado em sigilo. Quando o caso da segregação nos ônibus em Montgomery chegou a Suprema Corte, Colvin foi a última a depor. Em 1956 a Suprema Corte emitiu uma ordem para Montgomery e o estado do Alabama para acabar com a segregação de ônibus, e o boicote de ônibus de Montgomery foi cancelado.
A luta da mulher negra até os dias de hoje vão além da sua condição de mulher pois a questão da cor ainda não foi superada.
Parabéns a todas as mulheres, parabéns as mulheres negras.
Jonatas Carvalho
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