domingo, agosto 23, 2020

ENTRE PROJEÇÕES E AS MORTES REAIS: O BRASIL QUE IGNOROU A CIÊNCIA E O QUE NÃO IGNOROU.

Em 12 de maio deste ano o Brasil contava com um pouco mais de 12 mil mortes por COVID-19. Na ocasião, o Instituto para Métricas de Saúde e Avaliação (IHME), ligado a Universidade de Washington (USA), havia previsto que o Brasil chegaria a 90 mil mortes no início de agosto, caso não fossem tomadas medidas drásticas de isolamento. A previsão do Instituto fez com que vários governadores reafirmassem a necessidade do isolamento social. Neste mesmo dia Jair Bolsonaro, bradou aos jornalista no Alvorada: "Estamos voltando ao país da fome!" Em um ataque claro aos governadores. Nove dias depois, o Brasil superava 20 mil mortes, o Instituto reavaliou a situação do país, a estimativa chegara a 125 mil mortes no início de agosto. Na verdade nosso Messias já sabia dessas estimativas. Em abril já havia sido alertado pela equipe do Ministério da Saúde que ultrapassaríamos 100 mil mortes em setembro. 

Antes de continuar, se estiver passando pela sua cabeça que o Instituto de Métricas errou as projeções, já te digo que não foi bem assim. A projeção se baseava na situação de maio, momento que Jair pressionava os Estados para relaxar as medidas de isolamento e a Ministra Damares pedia a prisão de prefeitos e governadores. Mas foram esses prefeitos e governadores que conseguiram, mesmo não contando com o apoio do presidente, minimizar os efeitos do vírus nos meses que se seguiram e frustrar minimamente a previsão do Instituto, isto, claro em alguns Estados. O Instituto para Métricas de Saúde havia previsto que São Paulo atingiria 32 mil mortes, os números de hoje são 28 mil. No caso do Rio de Janeiro a diferença é bem maior, estimou-se 25 mil mortes e temos um pouco mais de 15 mil. O alerta serviu para ações importantes no norte e nordeste que na ocasião davam sinais de descontrole da contaminação, a projeção para o Ceará havia subido para 15 mil mortes, hoje o Estado está com um pouco mais de 8 mil. Em Pernambuco, a projeção era de 13 mil, até hoje um pouco mais de 7 mil morreram por lá. Já a região Sul do país, a situação era bem diferente na ocasião. O governador de Santa Catarina, fiel ao Messias, abriu o comércio, em um mês a contaminação por lá triplicou. A projeção de Santa Catarina que não passava de 500 óbitos, hoje ultrapassou os 2 mil. O Rio Grande do Sul tinha em maio uma projeção de um pouco mais de mil mortes, hoje são mais de 3 mil. Já sobre o Paraná, estimava-se que em agosto haveria 600 óbitos, hoje o Estado tem quase 3 mil. Os dados aqui apresentados demonstram a diferença que faz conduzir políticas públicas de saúde pautando-se pela ciência. 

O fato é que mesmo com o esforço de alguns Estados e prefeituras, temos pouco a comemorar ao evitar mais mortes que o previsto, pois chegaremos aos 125 mil mortos em breve, talvez em 5 ou 6 dias, já que hoje estamos atingindo os 115 mil. Lembre-se que estou ignorando aqui toda subnotificação dos óbitos. O que não se pode ignorar é que o presidente tenha conseguido deslocar-se da responsabilidade destas mortes, para uma parcela significativa da sociedade. A pesquisa do Datafolha revelou que para 47% dos brasileiros, o Messias não é culpado pelas mortes, este é o dado surpreendente, dado que fez a esquerda, a direita e toda forma de oposição ao governo a buscar uma explicação. Alguns acharam que a explicação estava no benefício emergencial de R$600,00. Será? Não creio que seja tão simples. Mas este é outro assunto. Seguimos sendo o segundo país do mundo com maior número de óbitos, talvez sejamos ultrapassados pela Índia até dezembro. Aguardemos.

Jonatas Carvalho















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