terça-feira, junho 26, 2018

LIBERALISMO DESEMBESTADO À BRASILEIRA


Passei alguns dias lendo alguns autores liberais, alguns clássicos (como John Stuart Mill), alguns intelectuais (como Mario Vargas Llosa), na busca pelo pensamento liberal no Brasil me deparei com um site chamado Academia do Liberalismo Econômico (Link-https://aleconomico.org.br/quem-somos/). O site, ao que parece, recebe colaboração de voluntários, que traduzem textos de liberais nos EUA, Inglaterra dentre outros, sobretudo, trata-se de um site que reproduz o pensamento econômico da escola austríaca, como é o caso de Ludwig Heinrich Edler von Mises. A Academia do Liberalismo Econômico tem um objetivo óbvio, lutar contra a “escolarização de esquerda”, alimentando assim a ideia de que o pensamento de esquerda é predominante no ambiente escolar. (tese esta nunca comprovada, mas persistente no Escola sem Partido).
O projeto da Academia do Liberalismo não é um caso isolado, há outros, como, por exemplo, Mises Brasil (Veja aqui: https://www.mises.org.br/Default.aspx), trata-se de deliberadamente preparar a juventude brasileira na defesa do liberalismo. Não que nossos jovens não devam ter contato com o pensamento liberal, pelo contrário, creio que seja essencial, mas os sites que citei acima, defendem um liberalismo ortodoxo, a escola austríaca e, sobretudo, Mises, são exemplos de uma certa radicalidade.
As publicações do Academia do Liberalismo Econômico são voltadas para criticar políticas de caráter intervencionista, defensores vorazes do Livre Mercado, os autores apresentam trabalhos com pouco teor teórico, salvo algumas exceções. Entre os “artigos” é possível verificar todo tipo de incongruência como é o caso de “O capitalismo é bom para os pobres”, de Steven Horwitz, liberal da escola austríaca. Neste “artigo”, podemos encontrar proposições que fariam Adan Smith revirar no túmulo:

“Hoje, os pobres em países capitalistas vivem como reis, graças em maior parte à liberdade de trabalhar e à habilidade em acumular capital que torna o trabalho mais produtivo e enriquece até os mais pobres de todos.”

Outro “artigo”, que traz como título “Como o livre mercado atua sobre a pobreza”, escrito por Thiago Serpa Alves, vemos a seguinte proposição:

"Ao longo dos últimos 200 anos houve diminuição gradativa da situação de pobreza extrema presente no mundo. De 1820 a 2015 a população mundial passou de cerca de 1,1 para 7 bilhões de habitantes, porém a quantidade de pessoas em situação de pobreza extrema caiu de cerca de 1 bilhão em 1820, para aproximadamente 700 milhões em 2015."

O jovem liberal utiliza o índice GINI para produzir gráficos demonstrativos dessa afirmação.
Lendo um pouco mais, encontrei o “artigo” de Felipe Lungov, presidente da Academia do Liberalismo Econômico, cujo título é “O lucro faz mal para a sociedade?” Para o economista com formação na USP, o lucro é um fenômeno natural, benéfico a sociedade como um todo. Quanto mais lucrar uma empresa, mais justiça social haverá, recorto aqui uma proposição:

"O lucro é o atestado inviolável de que seu portador conseguiu encontrar pessoas que estavam pagando demais em produtos cujos produtores estavam ganhando de menos. E tem mais: quanto maior for o lucro obtido, (a) mais defasada estava a renda do trabalhador em relação ao preço pago pelo consumidor, e/ou (b) maior foi o número de trocas realizadas que beneficiaram essas pessoas todas. Ou, nas palavras de Robert Murphy, lamentar que um capitalista esteja tendo lucro muito alto é como reclamar de um cirurgião por salvar muitas vidas”.

A produção desses argumentos de caráter pouco crítico, que naturaliza o capitalismo e o livre mercado, estão se disseminando nas redes sociais e encontrando reverberação na juventude brasileira, sobretudo, nos filhos da classe média. O sintoma mais agudo desse tipo de liberalismo é a organização de grupos como o Movimento Brasil Livre (MBL), grupos esses de olho em investidores estrangeiros dispostos a propagar o liberalismo (como a Open Society Fundations de George Soros). Outro sintoma é a criação de partidos liberais como o Partido Novo, que terá como candidato as eleições de 2018 um de seus fundadores, João Amoedo. Defensor ferrenho de um Estado Mínimo, Amoedo prega uma privatização geral no país como solução de reduzir o tamanho do Estado.

As diferenças ideológicas entre os liberais são enormes, seria um erro grave colocá-los todos no mesmo saco, há liberais cujas pautas políticas estão conectadas com parte da esquerda no que tange as liberdades civis, como legalização do aborto, descriminalização das drogas, casamento homoafetivo e adoção de crianças por esses casais. Mas o tipo de liberalismo que está de disseminando entre nossos jovens é conservador no que diz respeito as liberdades individuais, idolatram o livre mercado, mas são patrulheiros morais. Para esses novos liberais, demanda e oferta são deuses do olimpo, não devem ser questionados, se o mercado quiser nossos recursos naturais (nossas águas, petróleo….) que seja, ainda que para isso use de estratégias que coloque o país em crise financeira para depois comprar nossas riquezas a preço de banana. Esses jovens liberais, não viram qualquer problema em romper com o sistema democrático em 2016 ao apoiar figuras como Eduardo Cunha e Michel Temer, mas acham um absurdo, uma degradação a arte contemporânea brasileira. Agora disseminam ideias como a de que o salário-mínimo é gerador de desemprego, ou que política de igualdade salarial é um equívoco, como defende Jefferson Shupe, segundo ele:

Claramente existem mulheres que ganham menos do que um homem na mesma função, mas também existem mulheres ganhando mais do que um homem na mesma função. Se estas leis igualitárias passarem, estou certo de que muitas mulheres, além de homens, teriam seus rendimentos cortados para igualar as coisas.

Termino aqui com uma citação de Adan Smith em “A riqueza das nações”: "Onde há grande propriedade, há grande desigualdade. Para um muito rico, há no mínimo quinhentos pobres, e a riqueza de poucos presume da indigência de muitos."

Jonatas Carvalho.

domingo, maio 13, 2018

SEGUNDO DOMINGO DE MAIO DE 2018.


– Hoje é dia das mães! Disse a profetisa!
Todos acenaram positivamente.
– As redes sociais estão tomadas de mensagens, poemas....
É! Exclamavam....compartilhavam...
A profetisa fechou os olhos e continuou.
– Mas não se esqueçam da rosa, da rosa...
– Eu comprei um buquê! Bradou alguém na multidão.
– Lembrem-se das mães sírias, palestinas, curdas, congolesas....
Silêncio na multidão.
– Lembrem-se das mães negras, faveladas, periféricas.
Uma pequena dispersão na multidão.
– Lembrem-se das mães dos encarcerados, dos desaparecidos, dos injustiçados.
– Lembrem-se das mães agredidas, das que pariram na rua, nas prisões,
 Lembrem-se das mães abortivas, desnutridas, estupradas, incestadas, humilhadas.
– Lembrem-se das mães interditadas, da bala perdida, da dispensa esvaziada.
– Lembrem-se das mães que hoje não poderão almoçar no shopping, que não porão à mesa, que não ganharão sequer uma flor.
No que abre os olhos, a profetisa só vê uma menina de pé a sua frente.
– Para onde foram todos?
– Embora. Respondeu a menina.
– Por que você também não foi?
– Porque a senhora estava falando da minha mãe. E sorriu.

Jonatas Carvalho.


quarta-feira, fevereiro 21, 2018

INTERVENÇÃO PRA QUÊ...PRA QUEM?



Há ainda muito o que se revelar no que diz respeito as intenções desse projeto, caso a segunda turma do STF o "autorize" (Gilmar mendes já o fez por conta própria), será a primeira intervenção federal desde 1988, com Supremo com tudo. Isto porque a câmara dos deputados já o fez por 340 X 72 e ontem o senado também 55 X 13. Nossa história de fracassos acumulados com intervenções federais ou projetos afins são inúmeras e em alguns casos irrisórias, como nos lembrou Felipe Betim do El País, o atual ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência e um dos idealizadores da atual intervenção federal, (Wellington) Moreira Franco, também conhecido pelas listas da Odebrecht de Angorá, venceu as eleições de 1986 para governador do Estado do Rio prometendo acabar em seis meses com a violência, mas na prática só conseguiu mesmo foi acabar com os CIEPS. 
Sobre a legitimidade da Intervenção, o Decreto Nº 9.288/2018 é vago quanto a sua constitucionalidade, confunde “ordem pública” (a que se refere o artigo 34 da constituição) com “segurança pública”, questões muito distintas, mas em um país onde “atos de ofícios indeterminados” são validados em segunda instância isso não faz muita diferença.  
Quais serão os verdadeiros motivos da intervenção? A violência no Rio?  O 11º anuário de Segurança Pública no Brasil traz uma série de dados sobre a violência no Brasil, segundo o qual em 2017 a cidade do Rio de Janeiro registrou uma taxa de 32,5 por 100 mil habitantes, enquanto, Porto Alegre que alcançou o terceiro lugar no ranking, perdendo apenas para Aracaju e Belém, registrou 64,1 por 100 mil. Há pelo menos 6 capitais no país cujo número de homicídios estão acima de 50/100 mil habitantes. Sim, é evidente que a violência no Rio chama mais atenção que em Aracaju ou Pernambuco, mas isso não muda o fato que a violência é um fenômeno brasileiro e não específico de um Estado da Federação, por isso não se justifica a intervenção federal, não pelas alegações do governo pelo menos.
Minhas leituras sobre as verdadeiras razões me conduziram para caminhos que nada tem a ver com a violência em si. Vamos a elas: a estratégia de intervir no Estado ESTÁ DIRETAMENTE associada as Eleições 2018. Temer tenta com isso seu pulo do gato para ousar uma “reeleição” (palavra entre muitas aspas, dado sua ilegitimidade no cargo), a proposta vai ao encontro do maior clamor da população, já demonstrado em pesquisas. Caso as taxas de desemprego caiam e as operações sejam aprovadas pelo público sua popularidade pode aumentar. Sem Lula na disputa (pois não creio que a justiça autorize que Lula participe do processo), o processo está aberto, mesmo para Temer. Se o termômetro eleitoral do "Vampirão" não subir o suficiente para participar na disputa presidencial, pode ao menos dar ao PMDB mais força para uma aliança com o PSDB. Caso as operações sejam desastrosas, se jogará a responsabilidade nos militares, na falta de diálogo com o Estado do Rio e as forças policiais.
É preciso lembrar ainda que uma intervenção federal aciona uma série de “dispositivos legais” na União que afetam Estados e Municípios. Como suspender o pagamento de dívidas do Estado, o que inclui repasses deste aos municípios. Mas o foco dessa intervenção em particular é mesmo a reforma da previdência. Como assim?  Você perguntaria. É simples, com a intervenção federal, a Câmara e o Senado não podem fazer alterações na Constituição, logo, para aprovar a reforma da previdência seria necessário suspender a intervenção para que se vote o projeto. A estratégia do Governo seria pressionar para que o texto da reforma enviado aos parlamentares seja aprovado sem que haja emendas dos deputados. Se a estratégia vai funcionar é outra coisa, o risco é enorme, mas caso a intervenção esteja agradando o povo e nisso a grande imprensa irá certamente colaborar, será possível que Temer e seu bando consiga terminar esse mandato com chave de ouro.
O que nos cabe fazer diante disto? Denunciar a maledicência desta ação. É momento de demonstrar aos nossos velhos e jovens que tal projeto não tem relação com segurança pública, mas com política do mais baixo nível. Ao que parece a classe média já se convenceu de que tal medida é necessária, mas a população afetada de verdade, essa que ganha até três salários mínimos e que corresponde a 70% dos brasileiros, estes viverão dias de terror.

Jonatas Carvalho
Historiador.

terça-feira, janeiro 30, 2018

A CIA E O LSD - A HISTÓRIA DE FRANK OLSON.

Madrugada de 28 de novembro de 1953, Hotel Pennsylvania, Nova Iorque, o relógio marcava 2;30h em ponto, Robert Lashbrook lentamente senta-se à beira da cama e mira seu companheiro de quarto por uns segundos. Levanta-se vai em direção a porta destrava-a e segue para o banheiro. Senta-se no vaso, acende um cigarro enquanto escuta o som da porta do quarto se abrir ao mesmo tempo que por baixo da porta do banheiro observa o clarão que invadiu o quarto vindo do corredor. O som que se seguiu foi o de duas pancadas e depois de vidros quebrando. 

Na calçada da sétima avenida o subgerente do hotel fitava um corpo, atônico olhou para cima e viu as cortinas balançarem para fora da janela do décimo andar. O corpo era do hóspede do hotel, tratava-se de Frank Olson, um cientista especializado em bacteriologia e armas biológicas que trabalhava para a CIA. A informação oficial sobre a morte de Olson na época foi de que ele havia se jogado do quarto 1018-A, que vinha apresentando um quadro de depressão e a Agência o havia levado para Nova Iorque para tratamento médico.

Em 1975 após a renúncia de Nixon, auge da Guerra Fria, a vergonha da derrota do Vietnã, o chamado RELATÓRIO ROCKEFELLER revelara uma série de segredos da CIA, espionagem doméstica, grampos telefônicos, experimentos como hipnose, controle mental e métodos de interrogatórios com indução de morfina. O caso de Frank Olson foi alterado, a Agência se desculpou, lamentou a fatalidade e alegou que Frank havia feito uso de LSD no Projeto MKULTRA, o que o levou a um surto paranoico e por fim o suicídio. 

O filho de Frank, Eric Olson, um menino na época da morte do pai, cresceu sem nunca ter acreditado na história do suicídio. Em 1994 conseguiu exumar o corpo de Frank e o maior perito forense dos EUA James Starrs encontrou dois grandes hematomas no corpo, um na cabeça e outro no peito, um caso de suicídio agora virara um caso de homicídio. Mas quem matara Frank Olson e por que? 

As investigações levaram a um caminho sombrio e ultrassecreto, Frank havia descoberto que seu país estava usando armas biológicas na Guerra da Coréia (1950-1953) e começou a manifestar sua indignação com isso. Em 18 de novembro de 1953, convidado para participar de uma reunião com outros colegas em Deep Creeck área rural de Maryland, foi submetido sem seu consentimento a experimentos com LSD. Sob efeito da substância revelou sua insatisfação, a droga na época era utilizada como um soro da verdade. Frank tornara-se um problema para a Agência, um cientista que sabia demais e estava decepcionado com os métodos do governo e de suas instituições. 

Eric Olson, passou 40 anos de sua vida tentando provar o assassinato de seu pai, chegou a convencer Seymour Myron ou "Cy" Hersh como era conhecido, vencedor de um Pulitzer em 1970, Cy nunca chegou a escrever sobre os fatos que levaram ao homicídio de Frank Olson, alegando que isso implicaria revelar suas fontes. Eric, hoje já com mais de 60 anos não acredita mais que um dia a verdade virá à tona, mas não tem dúvidas de que seu pai foi assassinado com permissão dos chefões da CIA. 

Uma forma de conhecer mais essa história é por meio da série documentário WORMWOOD (Absinto) produzida pela Netflix, criada por Errol Morris. 



Jonatas Carvalho.

segunda-feira, janeiro 22, 2018

SOBRE LEIS INJUSTAS E INJUSTIÇAS PRATICADAS DENTRO DA LEI; O CASO LULA.


Um indivíduo tem a responsabilidade moral de desobedecer leis injustas... Martin Luther King Jr.


A frase acima é muita conhecida nas páginas de facebook e outras mídias sociais, poucos sabem, porém, que trata-se de um trecho da chamada Carta da Prisão de Birmingham, prisão que Luther King passou um tempo em 1963, acusado de infringir a lei segregacionista do Estado do Alabama. A carta é uma resposta à oito líderes religiosos que se pronunciaram alegando que as ações do pastor negro eram “inoportunas”. Na prisão, King viu de perto a diferença entre lei e justiça, em outro trecho de sua carta, esse menos conhecido, escreve: Uma lei injusta é um código que um grupo, majoritário, força uma minoria a obedecer, sem que alguém seja responsabilizado (…) um indivíduo que viola uma lei injusta deve fazê-lo abertamente, amorosamente e disposto a aceitar as penalidades. Acusado de extremista entre os seus, sofreu todo tipo de perseguição, muitas com bases legais. King chegou a receber uma carta anônima em 1964 (que hoje sabemos fora enviada de dentro do escritório do FBI de J. Edgar Hoover), cujo conteúdo dizia que ele era uma “besta maléfica anormal”, a carta sugeria que ele se suicidasse caso contrário, revelariam seus casos extraconjugais. Hoover, o grande chefe do FBI acreditava que King sofrera influência do comunismo.

A história da infidelidade conjugal de Martin Luther King é francamente discutida pelos seus biógrafos, mas cheia de controvérsias. Ele fora acusado de ser um “ativista sexual”, de usar dinheiro de dízimo para financiar orgias, de curtir prostitutas brancas dentre outras. Mas o fato é que o FBI nunca usou suas “provas” contra ele, alguns biógrafos dizem que chegaram a mandar a gravação de uma noitada em um hotel para sua esposa, mas que esta se negou a reconhecer se a voz era de seu marido. O fato aqui é: um dos personagens mais importantes dos direitos civis estadunidense não era nada santo.
  
Escrevo isso como modo de responder a uma série de conteúdos que vi essa semana que condenavam a fala da senadora e presidente do PT, Gleisi Hoffman, que em fala recente afirmara que não aceitaria a condenação de Lula. Diversos grupos e indivíduos se manifestaram contra a senadora, disseram: então a senhora não respeita a justiça?

Não estou aqui para defender a senadora ou o Lula, não sou petista, nunca fui...votei em Lula? Sim, duas vezes. Recentemente escrevi um artigo em parceria com a colega, doutora em antropologia, Beatriz Brandão, onde fizemos críticas ao “Estado Penal” na gestão do PT e ao seu “neoliberalismo social”, demonstramos ali como a lei de drogas do governo Lula em 2006 foi injusta ao dizer que reduziria as penas a usuários e aumentaria as dos traficantes... condenando milhares de pessoas por tráfico sem de fato serem, elevando a população carcerária brasileira ao posto de a 3ª maior do mundo.

Combato essa lei injusta, assim como combato a Lei Seca e tantas outras leis que como Luther King escreveu tenho a responsabilidade moral de desobedece-las. Muita injustiça já foi praticada em nome da lei. Homens e mulheres comuns todos os dias são penalizados injustamente com base em leis, por outro lado, a impunidade para os ricos reina por entre artigos, parágrafos únicos e incisos.

Você poderá me questionar, estás comparando a lei segregacionista do Alabama com a lei de responsabilidade fiscal, ou outras leis de combate a corrupção no Brasil? Evidente que não. Há leis injustas e há aplicações injustas de leis justas. Foi Deleuze que disse em entrevista a Toni Negri: “é a jurisprudência a verdadeira criadora do direito; ela não deveria ser confiada aos juízes”. Me lembro das tentativas estapafúrdias para não dizer vergonhosas de deputados ligados ao direito tentando justificar (seria melhor dizer: inventar) uma jurisprudência para o “crime” de Dilma durante o debate na comissão que optou por seu impedimento. Para ao fim, ouvirmos falas como a do senador Cristóvam Buarque que ela não “tinha condições de governar”, como se vivesse em um sistema parlamentarista. Aquele Frankenstein de Janaína Pascoal e Miguel Reale Jr, foi  construído, também, com mãos do legislativo, judiciário, imprensa, sendo transformada na maior peça de ficção jurídica brasileira ao fazer de Dilma a primeira, a única e a última condenada pelo crime de “pedaladas fiscais”.  

Não tenho dúvidas que o TRF4 irá manter a condenação de Lula, não nos termos que Moro estabeleceu, com penalizações mais brandas, suficiente para comprometê-lo eleitoralmente. Significa que Lula é culpado? A questão mais apropriada aqui seria: sobre quais dispositivos legais haverão de culpar o Lula? Que provas concretas serão apresentadas referente a acusação? Elas serão ocultadas do povo brasileiros? Que outros cerceamentos lhe serão impostos após uma segunda condenação?

Se formos mais combativos deveríamos perguntar mesmo é como um caso de tríplex no Guarujá (SP), foi parar nas mãos de um juiz de primeira instância em Curitiba. Isto é, que manipulações legais foram necessárias para levar Lula a Moro? Vários juristas no Brasil e no mundo vem denunciando a fraude disfarçada de legalidade na ação contra Lula, para citar apenas um, o jurista italiano Luigi Ferrajoli, apontou três “traços da deformação do processo contra Lula.” O primeiro seria a confusão entre a acusação e a justiça, o que significa dizer que o juiz instrutor de um processo não pode e não deve fazer parte da equipe de acusação, pois desta forma ele perde sua condição de juiz isento que analisará com o mesmo cuidado as provas e as contraprovas. O segundo traço é o que ele chamou de hipótese acusatória, a hipótese aqui em questão é sobre a propriedade de um tríplex ATRIBUÍDO a Lula, imóvel esse que recentemente sofreu um pedido de penhora da 2ª vara de execuções de títulos. A juíza que mandou executar a penhora alegou que a ordem de penhora não “emite juízo de valores sobre a propriedade do tríplex”, mas a penhora é para a “satisfação” de dividas da OAS e não de Lula. Voltando ao Luigi Ferrajoli, o terceiro traço de deformação do referido processo é a “espetacularização do processo”, onde Juiz e Ministério Público aparecem na mídia, dão palestras (e até cobram por elas), vão a talk shows, manifestam-se sobre o caso e vazam informações sigilosas para a grande imprensa. São muitas as investidas contra a lei feitas por representantes da lei para se alcançar um objetivo; derrubar o Lula.

Dia 24 de janeiro de 2018 entrará para a História (juntamente com o dia 31 de agosto de 2016 - dia do impeachment de Dilma), como mais uma data onde a justiça, o direito e a democracia  brasileira foram envergados e contorcidos para atender aos interesses internacionais sobre o nosso petróleo (que já não é mais nosso e sim da Shell), pois a maior ameaça a esses interesses atende pelo sobrenome de da Silva e sustenta até aqui a liderança nas pesquisas presidenciais.



Jonatas Carvalho. 



quinta-feira, dezembro 14, 2017

QUEM TEM MEDO DA ESQUERDA?

Foi a indústria do medo do comunismo, sobretudo, após a revolução cubana que abriu caminho para a derrubada de Jango e a instauração de 21 anos de ditadura no Brasil. As farsas envolvendo conspirações comunistas vinham ocorrendo desde o plano Cohen em 1937, quando Getúlio acabou com as chances de eleição e implementou seu Estado Novo por meio de uma constituição fascista. É claro, em 1964 o acirramento pode ser razoavelmente explicado, estávamos em plena bipolarização das forças capitalistas e socialistas, ambos se demonizavam.

Mas como entender esse fenômeno retornar em pleno século XXI? Com quais fundamentos tais discursos se estabelecem? O que faz um indivíduo gritar para o outro "vai pra Cuba!".Curioso é que ninguém grita "vai pra China!" Na última crise do capital, a Venezuela foi a escolhida como a vilã do momento, vimos nas manifestações de verde e amarelo cartazes dizendo que o Brasil iria virar uma Venezuela. Como não lembrar da senhora que foi a Brasília pedir por intervenção milita e ao avistar uma homenagem da integração Brasil e Japão, disparou a denunciar que estavam transformando nossa bandeira numa bandeira comunista. 

Não foram poucos os manifestantes que, ao serem indagados sobre comunismo, fizeram declarações pavorosas, alguns o associaram com o próprio satã. Quando perguntados sobre a diferença entre socialismo e comunismo pouquíssimos sabiam diferenciar. Ao serem questionados sobre o que pensa a esquerda, berravam: esquerdopatas!!!   

Mas o que é ser esquerda hoje? Quem são os comunistas da atualidade? O que defendem? Se você percorrer os programas de governo dos partidos de esquerda mundo a fora, verá que a diferença mais brutal em relação aos de centro e direita diz respeito a participação do Estado na Economia. A esquerda no mundo trabalha com conceitos como democracia, liberdade, igualdade, pluralidade, justiça social participação social ... reconhecem os sistemas parlamentaristas e presidencialistas...defendem o equilíbrio dos três poderes. Então no que diferem de fato da direita? Em geral o que se quer é superar o capitalismo, isto é, passar para uma outra fase, não mais por meio das propostas formuladas no século XIX, não se quer extinguir o capitalismo, o que se quer é superar um certo tipo de capitalismo, se quer atacar suas principais contradições a saber: a alta concentração da produção da riqueza e consequentemente as desigualdades. A esquerda questiona uma meritocracia cujas condições de largada para se atingir o topo são desiguais. Questiona que recursos naturais tal como a água, florestas, petróleo não sejam geridas por uma ou duas multinacionais. 

A esquerda no mundo se opõe ao neoliberalismo, modelo que já demonstrou em diversos países no mundo que não se sustenta por muito tempo. Para não me estender demais vou dar dois exemplos onde a esquerda vem obtendo razoável sucesso, dois países que sofreram seriamente com a crise em 2008, refiro-me a Islândia e a Portugal. A Islândia por sinal tem uma primeira ministra feministas e de esquerda, trata-se de Katrín Jakobsdóttir, que obteve uma grande popularidade ao dirigir o ministério da Educação, Ciência e Cultura durante a crise. Os islandeses saíram da crise fazendo uso de políticas exatamente contrárias das que vem sendo aplicadas aqui. Aliás a Islândia não tem Mc'Donald. Você pode contestar: "Mas a Islândia é do tamanho do Espirito Santo!" Sim. Então vamos a outro exemplo? 

Portugal conseguiu uma forte aliança entre os grupos de esquerda do país, assim como ocorreu na Islândia (algo improvável no Brasil). O governo português, liderado por Antônio Costa, também vem apresentando resultados muito positivos. Claro que a extrema direita por lá, também tentou aterrorizar a população, mas de lá pra cá, sem fazer uso das fórmulas de austeridade, o país reduziu o déficit fiscal pela metade e ainda aumentou os salários e as aposentadorias. 

Vale a pena dar uma olhada nesses dois exemplos, infelizmente você não irá assistir os sucessos da esquerda por ai, ainda que pequenos. Na Globo, por exemplo, sempre que a esquerda aparecer terá a bandeira da Venezuela na frente. 

Jonatas Carvalho.  







   



segunda-feira, dezembro 11, 2017

LULA X BOLSONARO?

Se por um lado é prematuro levar quaisquer pesquisas a sério faltando quase um ano para as eleições, por outro estas não devem ser completamente ignoradas. Afinal, para que servem tais pesquisas? Com quais intenções são solicitadas? Eu diria que são produzidas para construção dos cenários possíveis. Não se pode estabelecer metas eleitorais sem saber com certa antecedência, como está a cabeça do eleitor. 

E o que revelou a última pesquisa do Datafolha? Me parece que o sinal mais evidente é que apesar de todos os golpes desferidos contra o Lula, este continua bem de pé. Em todos os cenários Lula lidera com folga, muito embora sua rejeição seja enorme (acima de 40%). Esse cenário favorável a Lula, que se repete pesquisa após pesquisa, indica aos seus maiores adversários que até aqui, suas estratégias não surtiram o efeito esperado. A única alternativa seria tirá-lo do páreo em 2018? Há aí, quem defenda que a única via possível é pela lei (diferencio aqui lei de justiça), a pressão sobre o tribunal da 4ª Região em Porto Alegre tende a aumentar, aliás, a apelação entregue pela defesa de Lula a este tribunal foi avaliado em tempo recorde. Outros projetos visam continuar a estratégia de fazê-lo “sangrar”, Lula precisa ser derrotado nas urnas, como defendeu o colunista Mário Vitor Rodrigues, na IstoÉ independente, cujo artigo teve por título "Lula deve morrer" (morte política).

Outra importante revelação é a situação do PSDB, há quem acredite que este está morto, eu temo que não. Os tucanos ainda são os preferidos nos setores financeiros, especulativos, rentistas ou seja; os poderosos. Alckmin consolida-se à frete do partido, enquanto Aécio foi lançado como boi de piranha, o governador de São Paulo é blindado pelas famílias da máfia da comunicação. O PSDB possivelmente vai apostar na polarização com o PT como vem fazendo desde a primeira eleição de FHC. Para isso é necessário tirar Bolsonaro definitivamente da jogada, o que ocorrerá fatalmente, sobretudo, com apoio da Globo e Veja. Sequências de denúncias virão para desmoralizar o homem e o político de ultradireita, como a última sobre o deputado ter empregado a ex-mulher e seus parentes. Não será difícil para os enxadristas tucanos jogarem Bolsonaro para fora do tabuleiro e, nessa tarefa, terão o PT como aliado. Ao PSDB falta apenas trazer o PMDB para o seu lado nessa disputa, sua máquina de propaganda já afundou o PT (mas também não matou), mas Alckmin sabe muito bem o que é debater com Lula. 

Por fim, o que dizer de Marina e Ciro? Marina despenca nas pesquisas, perdeu a segunda colocação para Bolsonaro, acredito que terá dificuldades de construir alianças para lançar uma candidatura forte. Já Ciro poderá ser o maior beneficiado com uma possível retirada de Lula por decisão legal. Ciro é de longe muito mais articulado que seus adversários, em situações de debates ele engoliria Marina e Bolsonaro, sua maior dificuldade é convencer o mercado financeiro, Ciro aposta um pouco no modelo populista/desenvolvimentista e nacionalista de Getúlio e Juscelino, quem estudou a história sabe que não acabou bem para os dois.

Como escapar dessa polarização entre PT e PSDB? Dificilmente será possível uma mudança de cenário em 2018. O PMDB, caso tivesse um nome forte seria o única capaz de alterar essa situação, tudo indica, porém, que este adotará a mesma estratégia até aqui, isto é, aliar-se a um dos dois e requisitar ministérios estratégicos. Ao que parece o mesmo ocorrerá com o PP. 

Obs: Não pude deixar de perceber a incrível queda de popularidade de Dória, aquele queridinho do MBL, creio que esta é a primeira e última vez que terá um cargo público com apoio de eleitores.