Ontem eu assisti ao filme “A dona da história” dirigido por Daniel Filho, com Marieta Severo, Antônio Fagundes, Rodrigo Santoro e Debora Falabela. O enredo do filme trata da avaliação dos últimos trinta anos de casamento de uma mulher, esta, chega a conclusão que não quer mais manter seu casamento. Uma série de arrependimentos sobre coisas que gostaria de ter feito sondam sua mente, mas devido aos quatro filhos que criou não pôde fazer. A personagem volta na história e interage consigo mesma quando ainda jovem antes de casar, e avalia outras possibilidades de escolhas que poderia ter-lhe dado um outro tipo de futuro. Na primeira escolha, ela não se casou, tornou-se uma solteirona arrependida que trabalhava em uma locadora e amargava todos os dias com a lembrança do seu grande amor. Na segunda escolha, ela havia se casado com um cara cheio da grana e se tornara uma senhora da alta sociedade e uma infeliz alcoólatra. Na terceira, ela era uma atriz de teatro famosa, mas que daria tudo para ter vivido uma grande história de amor. No final do filme, ela conclui que não havia razões para se arrepender do que não fez, a sim se orgulhar, afinal ela havia vivido um grande amor.
O filme me levou a refletir sobre os níveis de insatisfação pessoal que faz com que milhares de pessoas todos os dias busquem consultórios médicos e psicológicos, pastores, padres, pais de santo, na esperança de minimizar suas frustrações. O arrependimento pelos erros cometidos, por decisões não tomadas, por escolhas equivocadas, fazem dessas pessoas, seres incapazes de vislumbrar o presente como uma realidade satisfatória, com uma possibilidade de um futuro livre de ressentimentos. Peter Drucker escreveu que a única forma de prever o futuro é construí-lo, somos donos de nossa própria história, mesmo quando somos obrigados por forças contrárias a vivenciar situações que não gostaríamos. Lamentar o que já passou é como discutir com o espelho, é res-sentir a frustração. Não há nada que se possa fazer sobre o passado, o tempo perdido foi-se e não volta mais. Kierkegaard dizia que a vida só poderia ser entendida olhando-se para trás, mas deve ser vivida para frente. Provavelmente as pessoas mais felizes não são aquelas que erram menos e sim as que aprendem mais rápido com seus erros, lamentavelmente esta virtude é incomum no espírito humano, ao invés de se procurar entender e aprender rapidamente com os erros as pessoas paralisam-se diante da vida. São muitos os sentimentos que às fazem sofrer, o medo, a vergonha, a sensação de impotência, o receio de falhar novamente geralmente fazem com que algumas pessoas desistam de seus sonhos. O sonho, aliás, torna-se um projeto inviável, possível apenas a poucos “sortudos” tal postura, serve evidente, para minimizar a frustração e propiciar a conformação (uma pseuda-conformação) da realidade.
Por outro lado, nesta sociedade globalizada as pessoas são vítimas dos veículos de comunicação de massas, da economia de consumo. Numa sociedade onde a valorização narcisista do eu, que procura eleger faraós e cleópatras modernos, é fácil se sentir culpado por não ter tido “sucesso” como o esperado. Somos separados por classes e subclasses, sempre se busca estar um andar acima. Toda existência humana está pautada na lógica de possuir, do obter, trabalha-se dia e noite em nome de uma causa que não objetiva mais o bem estar social como nas eras passadas e sim o status pessoal. Um modelo de vida diversificado que gira em torno da preparação para a vida, ou seja, estudar e trabalhar para ser alguém e constituir família. E é justamente neste ponto onde as frustrações aparecem, transformando pessoas que deveriam viver livre e plenamente a vida em verdadeiros peregrinos, cujo fardo já não é mais suportado.
Felizmente, a felicidade é um caminho que passa pela desconstrução de todos esses paradigmas pós-modernos, um amigo certa vez me disse – quer se aproximar do divino? Aproxime-se do simples – eu nunca mais esqueci. A simplicidade muitas vezes confundida com pobreza, não está fundamentada em o quanto você adquiriu, mas no que você se tornou. Sabe aquele papo – se arrependimento matasse eu já estaria morto! – Pois é, muita gente já teria morrido e muitas de fato morrem. A grande maioria não morre, porém deixa de viver, parece estranho, mas é isso mesmo. Não se trata de uma teoria do caos, e sim de uma continuidade de vida resultante de escolhas que fizemos e fazemos. O pessimismo não deve se aplicar a tudo isso, já que sempre é possível fazer novas escolhas e decidir ser diferente, fazer diferente, viver diferente. Se nos desprendermos do passado e focarmos nossas ações no acerto, ainda que voltemos a errar (e certamente erraremos), não será um ato inconseqüente e sim um acidente de percurso. Nossa história pode e merece ter um final feliz, ainda que uma parte dela tenha sido marcada por tragédias, é possível dar um outro ritmo, outra cor, outro tom a vida. Dependerá exclusivamente do que escreveremos no livro de nossas vidas daqui para frente, o que passou é página virada.
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