segunda-feira, dezembro 28, 2015

CRÔNICAS DE UM ANO QUE NUNCA ACABARÁ

Hoje faz um ano que minha mãe partiu, digo hoje porque foi a última vez que eu a vi consciente, que olhei nos olhos dela. A pior lembrança que tenho desse dia não foi vê-la gritar com dor no peito, nem vê-la sendo entubada pelos médicos, foi chegar no portão da casa deles e ver as lágrimas nos olhos do meu pai quando percebeu que ela não voltara comigo. - Ela não gosta de dormir fora de casa! Exclamou chorando. Nesse período meu pai estava no meio de uma série de sessões de rádio e quimioterapia. Por alguns dias minha rotina foi levá-lo diariamente para fazer radioterapia e em seguida ir para a UTI visitar minha mãe em coma induzido. O coração da velhinha parou dia 08 de janeiro dez dias após o infarto. Uma das coisas que mais incomodou meu pai foi o fato de não poder visitar minha mãe, devido a ferida aberta no pescoço.

A partir dai até o mês de setembro travamos uma longa batalha contra o câncer de meu pai. Batalha essa que foi perdida após oito messes que minha mãezinha tinha partido, mas que assim como toda luta, trouxe-nos muitas experiências e aprendizagens. Lutas essas que não suportaríamos sem a união dos irmãos, principalmente minha irmã Janete e meu cunhado Josué. Minha irmã Sandra já vinha travando uma batalha em outro front – contra a esclerose lateral amiotrófica – que acometeu meu cunhado Moisés. Meu irmão Davi mora em outra cidade. Assim coube aos dois caçulas da família a responsabilidade de dar ao nosso velhinho um fim de vida com menos sofrimento possível. 

Também contamos com a solidariedade de centenas de amigos (um alento imensurável nessas horas), ainda assim, foram meses de muita dor. E se as batalhas nos fazem crescer e amadurecer, é porque elas nos deixam marcas profundas, marcas de dor e amor. Os ferimentos desse ano, que ainda estão cicatrizando, jamais apagarão. O ano de 2015 será um ano sem fim na minha vida (possivelmente na dos meus irmão também), é o ano que não acabou e não acabará, apesar de a vida continuar. 

Todavia o sentimento é de paz e não tristeza, ambos tiveram uma infância muito sofrida, viveram com muita simplicidade e muitos problemas, mas passaram seus últimos anos com certa paz. Meu pai costumava dizer, “meu capital são meus filhos” ele partiu bem, sabendo que os filhos haviam conquistado certa estabilidade, acima de tudo tinham se tornado pessoas de bem. Duas pessoas com baixíssima instrução escolar, cada qual com suas imperfeições, mas que nos deixaram um exemplo indispensável; viver como honestidade e dignidade mesmo nas dificuldades. 


Obrigado meu velho e minha velha!!!

Jonatas Carvalho

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