quinta-feira, junho 24, 2010

A COPA DO MUNDO E O MUNDO DA BOLA NAS COSTAS.

Este mês o mundo estará atento a bola, pelo menos é isto que a mídia brasileira propaga. Não creio que esta será uma realidade mundial, afinal qual o interesse dos países não classificados em acompanhar a copa do mundo? O que dizer então dos países sem qualquer tradição futebolística distribuídos nos seis continentes.
Tomemos alguns exemplos: a Oceania é composta por 15 países, destes, no quesito futebol creio que apenas a Austrália e a Nova Zelândia são conhecidos, o restante, bem ai vai uma listinha dos outros 13 países: Fiji ; Ilhas Marshall;Ilhas Salomão; Kiribati; Micronésia (Federação dos Estados); Nauru; Palau; Papua Nova- guiné; Samoa; Timor-Leste; Tonga;Tuvalu; Vanuatu.
Vamos a outro exemplo; a África. Este gigantesco continente que foi partilhado feito bolo de fubá entre as potências imperialistas no século XIX e que atualmente é dividida em dois grandes grupos: a África Branca ou setentrional formada pelos 8 países da África do norte, mais a Mauritânia e o Saara Ocidental, e a África Negra ou subsaariana formada pelos outros 44 países do continente. Este enorme continente hoje conta com 54 países independentes, destes, apenas seis foram a copa neste ano, um recorde na verdade. Entre os classificados para a copa da África estão: Gana, África do Sul, Camarões, Costa do Marfim e Nigéria, representando a África negra, a Argélia (a parte Árabe ao norte do continente).
No caso americano a situação não é muito diferente dos outros continentes. O continente americano é dividido em três: o Norte-Americano com 3 países independentes; Canadá, Estados Unidos e México, os dois últimos participam da copa da África. Na América Central há 7 países independentes mais o Caribe (região insular da América Central) que possui 13 países independentes (fora os 11 territórios), totalizando 20 países. Para a copa de 2010 apenas Honduras de classificou (apesar do belo time da Costa Rica), logo em todo esse universo de países, apenas um disputa a copa do mundo. Já na América do Sul, a participação dos países muda significativamente, dos 11 países (não contei as duas Guianas), 5 estão disputando a copa na África.
A Europa é o continente que mais possui vagas para disputar copas do mundo, são 13 vagas, para 50 países e 8 territórios. Na América do sul e África, por exemplo, são 5 vagas para cada um dos continentes, isto é, os dois continentes juntos não dão a Europa. Dentre os países europeus, na eliminatória para a copa da África, 53 disputaram as 13 vagas. Logo a distribuição desigual só se justifica por um quesito o PIB. Sem falar em números, creio que apenas dizer que enquanto a Europa (como continente) agrega o maior PIB do mundo, o PIB de toda África representa apenas um pouco mais de 1% do PIB mundial, sendo que a África do Sul sozinha representa 1,5% do total do PIB da África.
Feito esta exposição, o que se evidencia é que o mundo da bola é muito menor do que parece. Esta história de que o futebol A ou B tem mais tradição que o C e D não passam de argumentos inventados, como disse Hobsbawm muitas tradições são inventadas para a manutenção do status quo. A tradição neste caso me parece ser puramente econômica, o time dos EUA pode ser usado como exemplo, participou das duas primeiras copas do mundo (1930-1934), depois só voltou a disputar em 1990, desde então, graças a investimentos pesados, classificou-se para todas as copas subseqüentes, embora o máximo que tenha chegado numa copa foi a disputa das quartas-de-final contra a Alemanha em 2002.
O mundo da bola, ou o mundo da FIFA que nesta copa, estima-se, faturará 4 bilhões de dólares, destes, 75% vem dos direitos de transmissão televisiva, com a participação de 400 emissoras e estimativa de atingir 30 bilhões de espectadores ao longo das 64 partidas transmitidas, ou seja, uma média de 468 milhões de telespectadores por partida. Em um mundo cuja população mundial atinge a casa dos 6.8 bilhões de pessoas, o acesso ao mundo da bola é ainda restrito.
O mundo onde 75% da população vive com menos de 2 dólares por dia, onde 22% são analfabetos, metade nunca utilizou um telefone na via e apenas 0,24% possui internet, contrasta com o evento bilionário de futebol. A África, sobretudo, há anos toma “bola nas costas” dos países ocidentais, o que restará quando a copa acabar? Alguém acredita no “legado” deixado para África, como afirma a FIFA? Eu duvido.
Jonatas C. de Carvalho

Nenhum comentário: