As teorias behavioristas entendem por insanidade a repetição de certos comportamentos associados a expectativa de resultados diferentes, isto é, repetir os erros e esperar que as conseqüências sejam outras.
A partir desta perspectiva poderíamos afirmar sem temor, que a sociedade é insana. Afinal, por anos repetimos todo o tipo de comportamentos sociais contraproducentes em detrimento da própria sociedade. Citarei alguns destes comportamentos no âmbito da política, e aqui defendo que, a ambição de poder e a ganância dos poderosos, estão intrinsecamente relacionadas com este tipo específico de insanidade. Vamos aos exemplos:
Apesar de a comunidade científica apontar para os problemas e conseqüências do aquecimento global desde a década de 80, os EUA não assinaram o protocolo de Kioto em 1997. O protocolo de Kioto foi conseqüência de uma sucessão de estudos e eventos internacionais, dentre estes eventos citamos a Conference on the Changing Atmosphere, (Canadá 1988), e a ECO 92, no Brasil. O comportamento insano veio a se repetir, não inteiramente, mas parcialmente no Fórum mundial do clima em Copenhagen em 2009, onde as metas apresentadas pelos países poluentes (e isto inclui o Brasil), estão longe de serem alcançadas.
Esta semana temos um exemplo mais interessante sobre este tipo de insanidade. Israel atacou um navio de ajuda humanitária em mares internacionais, matando nove pessoas, ferindo várias e até amanhã irá deportar o que restou, o que para mim não é novidade. A insanidade não está nisto, mas sim na reação internacional, ou seja, os órgãos multilaterais repudiam o ataque, alguns presidentes de países europeus condenam as ações de Israel e pedem que se retomem as negociações de paz. No Oriente médio, as populações vão às ruas, queimam as bandeiras de Israel, os líderes muçulmanos alegam “terrorismo de Estado” e incitam o povo palestino a reagir. O Conselho de Segurança da ONU condena o ataque e pede que a investigação dos fatos, enquanto os EUA evitam manifestar-se veementemente, alegando ser mais prudente aguardar os resultados das investigações.
Se olharmos os últimos ataques de Israel seguidos de morte de civis, seja em Gaza, seja nas regiões (como na Cisjordânia), onde o projeto de ampliação dos acampamentos judaicos segue com as derrubadas de casas de palestinos, a reação internacional é sempre a mesma. Entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009, Israel em mais um ataque de “reação” desproporcional descarregou um bombardeio matando mais de 1.400 civis, dando início ao bloqueio a Gaza, sob a alegação de impedir que o Hamas e outros grupos recebam armas de Síria e do Irã. Passaram três anos, desde então e o bloqueio segue.
O ataque a um navio em mares internacionais, cuja tripulação seria composta de ativistas de várias nacionalidades poderá servir de “moeda de troca”, nas negociações sobre o desbloqueio a Gaza, mas está longe de ser suficiente para uma discussão mais ampla sobre a paz. Isto porque os EUA não irão pressionar Israel, já que o mesmo é o braço do Tio San na Região. Braço nuclear, diga-se de passagem, afinal Israel possui um programa nuclear clandestino, conforme o relato do professor de relações internacionais da UNB, José Flávio Saraiva, embora só o Irã receba sanções. A insanidade, nestes casos, são resultados de comportamentos motivados pela conveniência política. Conveniência esta que, implica na manutenção do status quo, dos acordos políticos e na manutenção do poder.
Esperarmos uma mudança nas relações no oriente médio que vislumbre a paz, significa esperarmos mudança nas reações dos organismos internacionais, que passa por pressionar os EUA em agir no sentido de criar o Estado Palestino. Se tal esforço não ocorrer, o que veremos por muito tempo ainda, para infelicidade do povo palestino, é a insanidade política repetindo-se ano após ano.
Jonatas C. de Carvalho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário