A espécie humana foi aos poucos se diferenciando das demais a medida que tomava conhecimento de si, que adquiria consciência da própria existência. Daí veio a necessidade de dar sentido a esta existência, então formulou-se ao longo da história humana uma sucessão de possíveis respostas a maior de todas as questões; o que fazemos aqui? As respostas para tal questão já sofreram diversas alterações e seguirão alterando-se enquanto estivermos na terra. Enquanto isso, presenciamos todo tipo justificação da nossa existência.
Alguns encontraram o sentido da vida nas explicações religiosas, outros se doando a causas humanitárias ou à defesa dos animais, há também os que decidiram pelo poder e riqueza e, os que acreditaram que o sentido da vida está em dedicar-se ao trabalho e a família. Sociedades inteiras definiram sua moral baseando-se no sentido da vida, grupos, tribos, movimentos são criados constantemente com propostas de soluções para a grande questão. Não há um humano vivo que escape desse dilema existencial.
Quem sabe possamos responder apenas parcialmente em termos gerais, uma vez que a resposta não exista na realidade e que cada um dará sentido a própria existência conforme sua subjetividade e tantos outros fatores. Mas em termos gerais, sabemos que estamos aqui, que há um enorme grupo de humanos ocupando a terra, que essa ocupação nunca foi pacífica, que o que a terra tem a nos oferecer, isto é, seus recursos foram apropriados por alguns de nós, que a grande maioria de nós encontram-se destituídos de acesso a tais recursos. Assim, criamos áreas nobres e periferias, condomínios de luxos e favelas, resorts e lixões. Decidimos por uma longa caminhada que algumas ações humanas são mais importantes que outras, inventamos o mérito, a honra e a dignidade, mas estes só são atribuídos a humanos bem estabelecidos, ninguém educa seus filhos para serem lixeiros, motoboys ou diaristas.
Decidimos quais conhecimentos são válidos e quais habitarão o limbo, mais uma vez, alguns de nós apropriaram-se desses conhecimentos e resolveram restringi-los, mais uma vez, a maioria de nós ficou à margem. Franqueamos a vida um valor inestimável, a protegemos por um conjunto de regulações, estabelecemos sanções e penalidades aos que a ameaçam, mas resolvemos que a vida de uns valem mais que as de outros, que esse valor está relacionado ao quanto sua existência é justificável, que tais justificativas são mais ou menos validadas (numa espécie de silogismo às avessas), conforme a cor da pele, o habitat, o gênero, a origem familiar...
Por outro lado, quantos de nós, compreenderam que as coisas são o que são não porque sempre foram, e que é possível alterá-las, subvertê-las, refazê-las? É assim que a arte popular e periférica emergem e confronta uma noção estilizada de arte, é assim que as lutas por direitos políticos, civis e sociais eclodem e dão voz a pluralidade dos indivíduos, é assim que as mulheres assumem dia pós dia o controle do próprio corpo.
Esse texto era pra ser sobre o sentido da docência, pois bem, ei-lo ai.
Jonatas Carvalho,
Professor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário