EU já escrevi aqui que fui demitido de uma escola por falar abertamente com os alunos sobre drogas, nas verdade no caso da demissão eu nem sequer falei abertamente, apenas brinquei que como pesquisador sobre o assunto eu tive que experimentar todas.
Sei que eu não devia me espantar por reações tão retrógradas, afinal, apesar de vivermos em pleno século XXI o que não faltam são notícias de pensamento retrógrado neste mundo, todavia, boa parte desses expressões já foram superados no ambiente escolar, xenofobia, machismo, sexismo, homofobia, todos são temas condenáveis em qualquer ambiente escolar. No caso do sexismo há ainda algumas barreiras a serem derrubadas, mas em algumas escolas tais barreiras estão prestes a serem ultrapassadas, como é o caso do Colégio Pedro II. Agora, quando o tema é drogas, há uma perturbação generalizada que atinge todo o corpo pedagógico da escola.
Como sou teimoso por ideologia, a única coisa que minha última demissão me ensinou é que eu devo seguir sendo franco com meus alunos. Não consigo imaginar como se pode tolerar outra forma se ser em se tratando dos nosso adolescentes. Programas como o PROERD da Polícia Militar só funcionam com os pequenos que ainda são suscetíveis a pedagogia do terror. Quero ver esses camaradas entrar numa sala de ensino médio com esse papo careta, quero ver convencer um aluno que seja que a maconha é a porta de entrada para outras drogas.
Essa semana falei para três turmas de ensino médio acerca das minhas pesquisas sobre a criminalização das drogas. Enquanto falava podia perceber nos seus olhares que compartilhavam das minhas posições, não vi um olhar de reprovação. Não fiz apologia ao uso (como já fui acusado de fazer), não preciso fazer, eles sabem muito bem maconha não mata ninguém, não vicia, que usuários de drogas não são doentes, muito menos criminosos. No caso da maconha, ela está presente em todas os ambientes de recreação dessas galeras, se o garotão ou a mocinha não usa, tem amigos que usa, se não experimentou, tem vários amigos que experimentaram. Amiguinhos que estão fazendo cursinho para fazer faculdade de engenharia, medicina, direito, que estudam a vera de segunda a sexta, mas no sábado vai pra balada e "dá uns tapas", assim como toma uns "shots".
Não se pode pensar que é alimentando a ideia da guerra às drogas que você irá evitar que um adolescente experimente uma substância ou outra. Não vai. Disse-lhes que sou antiproibicionista, acredito que há alternativas viáveis, mais humanas e descentes à proibição. Procurei tratar com os meus filhos assim, nunca proibindo, o resultado foi o melhor possível, pois se tornaram indivíduos responsáveis e conscientes de suas ações, o que não lhes impediu de experimentar essa ou aquela substância.
Há no entanto uma diferença grande entre um pai proibir o filho de sair sábado à noite e a proibição das drogas, uma vez que essa última cria criminosos, A lei tem esse poder de tipificar o sujeito, colocando-o em condições iguais a outros, assim se você estava com sua namorada fumando um baseado e a polícia te flagrou e na revista encontraram com você um saquinho com umas cinquenta gramas de maconha e outro com algumas sementes, você corre o sério risco, de dividir uma cela com gente que foi pego com cem quilos ,gente que matou, sequestrou, que assaltou... Claro, a menos que seu carro seja uma Ferrari, uma Land Rover, um Jeta, que estava estacionado na Zona Sul, nesse caso a lei lhe será mais benevolente. Mas se for um fiat uno daqueles antigos....já era parceiro.
Ser honesto com jovens e adolescentes não significa incentivar o uso disso ou daquilo, significa apresentar-lhes uma lógica que escape a hipocrisia, a falácia, o tabu. A proibição até aqui só conseguiu aumentar o mercado ilegal com substâncias sem qualquer controle de qualidade, criar uma massa de "criminosos", matar milhões de pessoas. É urgente o fim dessa guerra, é vital uma outra política de drogas.
Jonatas Carvalho
Para quem quiser ler o outro texto da demissão veja aqui:
http://histosofiaevida.blogspot.com.br/2016/02/drogas-o-tabu-ainda-vivo-nas-escolas.html
Jonatas Carvalho
Para quem quiser ler o outro texto da demissão veja aqui:
http://histosofiaevida.blogspot.com.br/2016/02/drogas-o-tabu-ainda-vivo-nas-escolas.html
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