O homem não é só feito pela história, a história é feita pelo homem. (Erich Fromm)
Após Francis Fukuyama ter escrito "O fim da História e o último Homem" em 1992, uma série de ataques foram desferidos contra sua tese, mas, por outro lado, o cientista político também tornou-se livro de cabeceira de muita gente. O que Fukuyama queria dizer na verdade? Não era exatamente sobre o fim da História como disciplina que estuda a ação dos homens ao longo do tempo, mas o fim de uma história; a da busca pelo modelo perfeito de sociedade. Após todas as utopias proclamadas no século XIX, todos os "ismos", finalmente havíamos achado a fórmula certa de funcionamento das sociedades, este seria a combinação entre a democracia e a economia liberal. Fukuyama escreveu sua tese influenciado pela queda do muro de Berlim em novembro de 1989, a derrubada do muro tornou-se a representação simbólica da derrota do sistema socialista e o fim da URSS. O que Fukuyama não percebeu é que sua tese incidiu em uma série de predicados utópicos, como exportar o modo de vida americano em todo globo, mesmo reconhecendo as dificuldades desse projeto, o autor previu que ele se expandiria e alcançaria todas as nações. O que Fukuyama não entendeu é que a economia de mercado liberal não quer levar a democracia tripartite mundo afora, o liberalismo econômico não deseja um mundo igualitário, ele precisa dos ditadores, precisa alimentar as desigualdades para continuar expropriando as riquezas, para continuar parasitando como diria Baumam. O modelo defendido por Fukuyama é aquele em que as corporações impõem aos Estados a agenda e as demandas sociais, que privatiza saúde e educação tal como querem fazer o atual governo brasileiro.
A reforma do ensino médio, assim como a a previdência são exemplos dessa lógica perversa que visa desonerar o Estado ampliando os lucros das corporações. O que é mais lastimável nisso tudo são as mentiras empregadas como argumentos de convencer as populações para a aceitação do programa de governo. A propaganda veiculada pelo Ministério da Educação em âmbito nacional divulga o "Novo Ensino Médio", afirma que o aluno agora terá mais liberdade para estudar, podendo escolher os conteúdos de acordo com sua vocação, parece um sonho que finalmente será realizado.
O que a propaganda não diz é que quando o aluno ou aluna chegar aos 14 ou 15 anos no primeiro ano do ensino médio e por acaso ele julgar que no futuro ele será um contador(a), engenheiro(a) ou economista, ele ou ela chegará a faculdade sem ter tido aulas de geografia e história, e ao longo dos três anos terão um ano de sociologia e de filosofia. O novo ensino médio, propõe que estes alunos passem três anos aprendendo português e matemática exaustivamente, para que um engenheiro ou um contador precisará de história e geografia? A nova proposta do governo deixa de lado o aspecto da educação de formação sócio-integral para uma linha de montagem de tecnocratas e os tecnocratas são programados para serem pragmáticos e produtivos, não críticos.
É evidente que o atual modelo é retrógrado, é exaustivo, incoerente. Mas seria a solução mais inteligente excluir da obrigatoriedade a História e a Geografia? Um aluno decide que fará medicina e passará todo o ensino médio estudando matemática e português (as duas únicas obrigatórias nos três anos), e uma parte desse tempo estudando ciências da natureza, sem qualquer noção da história ou da geografia. Um médico não precisa saber sobre democracia e globalização, claro que não. Não estou afirmando aqui que categoricamente um profissional de saúde será menos humanista sem o conhecimento de história e geografia, mas que o contato com tais disciplinas podem ser importantes para ampliar sua visão de mundo e decidir que tipo de médico ele quererá ser.
Por fim, cabe perguntar, por que História de Geografia deixam de ser obrigatórias? Por que Filosofia e Sociologia serão aplicadas apenas em um ano nos três? Deve-se a isso a fantasiosa noção reverberada pelo Escola Sem Partido de que os profissionais dessa área são um bando de "doutrinadores"? Nesse caso é melhor que estudantes de medicina e engenharia nunca tenham contato com os ensinamentos de Milton Santos ou Jacob Gorender, mesmo que para isso também lhes sejam tiradas as oportunidades de ter contato com as ideias de Evaldo Cabral de Mello, Boris Fausto, Maria Yedda Linhares, Ângela Castro Gomes, Amélia Luísa Damiani Pasquale Petrone.... isso pra ficar só com os nacionais. O novo ensino médio tem um caráter de tecnologia de poder sobre o corpo, como já nos alertava Foucault (outro nome que será cada vez menos conhecido entre nossos alunos), uma educação que procurará produzir sujeitos dóceis, disciplinados para o mercado de trabalho e de pouca resistência crítica. Talvez Fukuyama não esteja de tudo equivocado, o modelo último de sociedade que ele previu, poria um fim a história.
Jonatas Carvalho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário