domingo, junho 29, 2008

Proibicionismo para quem vê?

Mais uma lei "pra inglês-ver" entrou em vigor este mês (Projeto de Lei de Conversão nº 13/2008), a lei que proíbe qualquer teor de álcool no organismo é um caso tipicamente brasileiro. Me fez lembrar a lei que levou a revolta da cachaça no século XVII em Mariana nas Minas Gerais, a lei, proibiu o consumo interno e a produção em larga escala. Os donos de alambiques se revoltaram, a medida tinha por objetivo proteger os produtos portugueses; no caso a bagaceira e o vinho do porto.
O que me impressiona é que após trezentos anos nossa administração pública continua uma bagunça (claro, não em todos os setores!), o exército sobe o morro para garantir as reformas do projeto do bispo político que não é mais bispo. Depois o exército desce o morro porque alguns militares se envolveram com traficantes do morro vizinho e a globo fez o que pôde para derrubar o ex-bispo.
A lei sobre o álcool é outra confusão, primeiro proíbem a comercialização nos arredores das rodovias brasileiras, depois resolvem relaxar. Agora baixam uma medida de “tolerância zero”, bem, se antes dois chopes ou duas taças de vinho podiam ser toleráveis, ou seja, mais ou menos 6 decigramas de álcool no sangue. Hoje estamos na iminência de uma nova “lei seca”, uma lei, que demonstra a ausência de percepção política dos nossos médicos políticos. O sistema repressivo já deixou muitas evidências de sua total ineficácia, os EUA, servem como um exemplo, basta lembrarmos de Alcapone.
O caso brasileiro não só é um retrocesso, como também trata-se de um episódio hilário, já que não dispomos de equipamentos; os tais bafômetros. Para piorar dos que dispomos em sua grande maioria estes aparelhos não podem detectar pequenos teores de álcool no organismo. Temos uma boa política nacional no que tange a questão das drogas, já avançamos em vários aspectos, a atual política nacional sobre o álcool também e relativamente boa, o problema é quando se parte para medidas radicais. A radicalização não faz outra coisa senão provocar no outro resistência, é um fenômeno que Nilton já tratara em uma das suas leis, a lei da ação e reação. No Brasil, porém, aprendemos a adotar uma outra lei, ao invés da reação, damos um “jeitinho” ( o que não deixa de ser uma reação), o famoso jeitinho brasileiro, que já nos fez ficar famosos no mundo todo por tal peculiaridade, certamente nos permitirá a driblar mais uma vez a truculência legislativa que impera em nosso país.
Sabemos que os acidentes de trânsito em nossas estradas são em sua maioria provocadas por jovens bebedores de finais de semana que abastecem seus tanques nas lojas de conveniência das grandes redes de postos de gasolina. Mas a partir de agora se você quiser sair para jantar com a família ou namorar, não pode tomar nem uma taça de vinho. Esta certamente é mais uma das tantas leis que logo, bem logo, cairá no esquecimento, assim como ocorreu com o kit socorro, com a luz na bola do reboque entre outras, então todos poderemos voltar a vida normal e tomar nossas cervejinhas sem maiores problemas.

quarta-feira, junho 11, 2008

AS HISTÓRIAS DE NOSSA VIDA

Ontem eu assisti ao filme “A dona da história” dirigido por Daniel Filho, com Marieta Severo, Antônio Fagundes, Rodrigo Santoro e Debora Falabela. O enredo do filme trata da avaliação dos últimos trinta anos de casamento de uma mulher, esta, chega a conclusão que não quer mais manter seu casamento. Uma série de arrependimentos sobre coisas que gostaria de ter feito sondam sua mente, mas devido aos quatro filhos que criou não pôde fazer. A personagem volta na história e interage consigo mesma quando ainda jovem antes de casar, e avalia outras possibilidades de escolhas que poderia ter-lhe dado um outro tipo de futuro. Na primeira escolha, ela não se casou, tornou-se uma solteirona arrependida que trabalhava em uma locadora e amargava todos os dias com a lembrança do seu grande amor. Na segunda escolha, ela havia se casado com um cara cheio da grana e se tornara uma senhora da alta sociedade e uma infeliz alcoólatra. Na terceira, ela era uma atriz de teatro famosa, mas que daria tudo para ter vivido uma grande história de amor. No final do filme, ela conclui que não havia razões para se arrepender do que não fez, a sim se orgulhar, afinal ela havia vivido um grande amor.
O filme me levou a refletir sobre os níveis de insatisfação pessoal que faz com que milhares de pessoas todos os dias busquem consultórios médicos e psicológicos, pastores, padres, pais de santo, na esperança de minimizar suas frustrações. O arrependimento pelos erros cometidos, por decisões não tomadas, por escolhas equivocadas, fazem dessas pessoas, seres incapazes de vislumbrar o presente como uma realidade satisfatória, com uma possibilidade de um futuro livre de ressentimentos. Peter Drucker escreveu que a única forma de prever o futuro é construí-lo, somos donos de nossa própria história, mesmo quando somos obrigados por forças contrárias a vivenciar situações que não gostaríamos. Lamentar o que já passou é como discutir com o espelho, é res-sentir a frustração. Não há nada que se possa fazer sobre o passado, o tempo perdido foi-se e não volta mais. Kierkegaard dizia que a vida só poderia ser entendida olhando-se para trás, mas deve ser vivida para frente. Provavelmente as pessoas mais felizes não são aquelas que erram menos e sim as que aprendem mais rápido com seus erros, lamentavelmente esta virtude é incomum no espírito humano, ao invés de se procurar entender e aprender rapidamente com os erros as pessoas paralisam-se diante da vida. São muitos os sentimentos que às fazem sofrer, o medo, a vergonha, a sensação de impotência, o receio de falhar novamente geralmente fazem com que algumas pessoas desistam de seus sonhos. O sonho, aliás, torna-se um projeto inviável, possível apenas a poucos “sortudos” tal postura, serve evidente, para minimizar a frustração e propiciar a conformação (uma pseuda-conformação) da realidade.
Por outro lado, nesta sociedade globalizada as pessoas são vítimas dos veículos de comunicação de massas, da economia de consumo. Numa sociedade onde a valorização narcisista do eu, que procura eleger faraós e cleópatras modernos, é fácil se sentir culpado por não ter tido “sucesso” como o esperado. Somos separados por classes e subclasses, sempre se busca estar um andar acima. Toda existência humana está pautada na lógica de possuir, do obter, trabalha-se dia e noite em nome de uma causa que não objetiva mais o bem estar social como nas eras passadas e sim o status pessoal. Um modelo de vida diversificado que gira em torno da preparação para a vida, ou seja, estudar e trabalhar para ser alguém e constituir família. E é justamente neste ponto onde as frustrações aparecem, transformando pessoas que deveriam viver livre e plenamente a vida em verdadeiros peregrinos, cujo fardo já não é mais suportado.
Felizmente, a felicidade é um caminho que passa pela desconstrução de todos esses paradigmas pós-modernos, um amigo certa vez me disse – quer se aproximar do divino? Aproxime-se do simples – eu nunca mais esqueci. A simplicidade muitas vezes confundida com pobreza, não está fundamentada em o quanto você adquiriu, mas no que você se tornou. Sabe aquele papo – se arrependimento matasse eu já estaria morto! – Pois é, muita gente já teria morrido e muitas de fato morrem. A grande maioria não morre, porém deixa de viver, parece estranho, mas é isso mesmo. Não se trata de uma teoria do caos, e sim de uma continuidade de vida resultante de escolhas que fizemos e fazemos. O pessimismo não deve se aplicar a tudo isso, já que sempre é possível fazer novas escolhas e decidir ser diferente, fazer diferente, viver diferente. Se nos desprendermos do passado e focarmos nossas ações no acerto, ainda que voltemos a errar (e certamente erraremos), não será um ato inconseqüente e sim um acidente de percurso. Nossa história pode e merece ter um final feliz, ainda que uma parte dela tenha sido marcada por tragédias, é possível dar um outro ritmo, outra cor, outro tom a vida. Dependerá exclusivamente do que escreveremos no livro de nossas vidas daqui para frente, o que passou é página virada.

terça-feira, junho 03, 2008

A ESTRADA

O asfalto ainda está úmido de orvalho,
o sol vagarosamente escapa a bruma fria que lhe envolve, revelando um céu azul límpido.
Contemplo a serra dos órgãos enquanto ouço Capital Inicial,
“quando a chuva cai, nestas noites solitárias, lembre-se sempre, estarei aqui...,”
meu pensamento vai ziguezagueando como as curvas da estrada,
trazendo a todo momento você em minha memória.
E embora o dia esteja singularmente irradiante, meu coração é feito a flor que ao receber os
primeiros raios solares desperta alegremente em meio a relva.
Mas o meu sol ainda não brilhou pra mim, desta forma sigo em frente, quero ir ao encontro do teu
horizonte, ofuscar-me no teu brilho, captar tua luz, sentir teu calor e me aquecer no teu colo.

Jonatas C. de Carvalho