domingo, novembro 12, 2023

OS SENHORES DO CÁLCULO, DA GUERRA E DA FOME

Joe Biden, anunciou recentemente que enviaria 100 milhões de dólares de "ajuda humanitária" para Gaza, mas veja você, os congressistas dos EUA aprovaram o envio de 14 bilhões para "ajuda militar" ao governo de Israel. Consegue perceber a disparidade?  

Outro dia eu ouvi em algum lugar, algo mais ou menos assim: o dinheiro que alegam faltar para acabar com a fome no mundo, aparece de sobra para financiar as guerras e conflitos militares no mundo. Não é muito louco? Para qualquer ser humano com o mínimo de civilidade deveria ser, mas não para os senhores da guerra. Como poderão enriquecer com armas sem as guerras?  

Nos últimos 25 anos, os gastos militares no mundo mais que dobraram, só no ano de 2022, foram mais de 2,2 trilhões investidos com "defesa". Por outro lado, para acabar com a fome no mundo, seriam necessários, de acordo com a Food Policy, 50 bilhões por ano até 2030, o que daria perto dos 500 bilhões.  Esse é o valor que a Ucrânia recebeu de "ajuda militar"... só os EUA já "doaram" mais de 70 bilhões.  A Rússia, por sua vez, já gastou mais de 100 bilhões para financiar a "operação militar" na Ucrânia. 

No Oriente Médio, os gastos militares também subiram muito, Israel investiu 23,4 bilhões em defesa no ano de 2022, a Arábia Saudita, 55,6 bilhões, Irã, 24,6 bilhões...

Detalhe de Guerra e Paz - Portinari - 1956

Não quero me estender sobre os gastos militares, mas demonstrar que o argumento da falta de dinheiro, é ridículo e descabido, só os EUA colocou, no último ano, 800 bilhões em "defesa."  - Ah mas como não investir em defesa? Você está sendo ingênuo! Alguém, supostamente não ingênuo diria. Eu, responderia, que ingenuidade é achar que "defesa" é uma palavra apropriada para o que temos aqui, esse é o jogo da retórica perversa dos senhores da guerra, todos os jornais do mundo adotam em seus noticiários e boletins: "os gastos com defesa subiram mais um ano".....blá, blá, blá.....retórica. 

Estamos falando de verdadeiros massacres e genocídios, são mais de 230 mil mortes no ano passado, esse ano tende a aumentar, fora os 110 milhões  de pessoas vivendo na condição de refugiados.  Eu escrevi acima sobre os 2,2 trilhões certo? Essa é a soma dos investimentos dos países no último ano com gastos militares, mas os gastos com as guerras são outra coisa, estamos falando de mais de 20 conflitos armados no mundo, toda a consequência gerada por esses conflitos, geram um gasto de 17 trilhões ao ano...e se o mundo gasta toda essa grana, significa que ela vai parar em alguns bolsos, não? Quem será que lucra com tudo isso? Adivinha?  

 
 



sexta-feira, novembro 10, 2023

O SENHOR DA GUERRA NÃO GOSTA DE CRIANÇAS.

                                                                                                      

Mas explicam novamente que a guerra

 Gera empregos, aumenta a produção

Uma guerra sempre avança a tecnologia

Mesmo sendo guerra santa

Quente, morna ou fria”

A canção do Senhor da Guerra. 

Legião Urbana -1992.



A poetisa e romancista palestina, Hiba Abu Nada, escreveu sobre Gaza: “A noite da cidade é escura, exceto pelo brilho dos mísseis, silenciosa, exceto pelo som dos bombardeios, assustadora, exceto pela garantia das súplicas.” Abu Nada, morreu aos 32 anos em um dos incontáveis bombardeios impetrados pelo Estado de Israel. 


No último dia 13 de outubro, a artista plástica, Heba Zagout morreu aos 39 anos, ao todo, segundo a ONU, são mais de 2 mil mulheres mortas. Dentre as sobreviventes de Gaza, 50 mil estão grávidas, sem qualquer possibilidade de cuidar da própria gestação… 50 mil fetos, que caso consigam nascer, nascerão já profundamente traumatizados. 


Quanto às crianças, é impossível não se sensibilizar (a menos, é claro, no caso de profunda desumanização), com as centenas de cenas de corpos pequenos, encobertos por poeira, inertes e enfileirados, alguns, esmagados pelos escombros, outros despedaçados. Só nesses pouco mais de 30 dias, já são mais de 4 mil pequeninos e pequeninas que nasceram em um território circunscrito por muros e cercas, que sonhavam com a liberdade… que não virá mais para estes humaninhos. E os pequeninos e pequeninas que sobreviverem? Como suportarão tamanha dor? Que tipo de adultos se tornarão se chegarem lá? Eles, os sobreviventes, ainda terão que lidar com mais uma diáspora, outro Nakba. Serão obrigados a crescer em campos de refugiados? Poderão um dia retornar a sua terra, ao seu lar? Terão em algum momento de suas vidas, condições dignas de existência? Não, se depender dos senhores da guerra.  


Os senhores da guerra gostam mesmo é de fortuna e poder. Eles não ligam para mais nada, desde que seus filhos estejam protegidos, como é o caso do filho de Netanyahu, que está em Miami. Me lembro do fantástico documentário de Michael Moore, Fahrenheit 11 de setembro (2004), quando o documentarista cercava os congressistas que haviam aprovado o aumento do envio de soldados para guerrear contra o Iraque (uma campanha horrorosa como promessas de green card, para encorajar negros, latinos, pardos e pobres ao alistamento), mas seus filhos estavam em segurança. Moore, abordava os congressistas, com uma folha de alistamento, eles desviavam (fugiam vergonhosamente), alguns poucos diziam: “sem comentários!”. 


Os senhores da guerra não são os governantes. Lamento dizer, não creio que seja certo falar sobre as guerras de Churchill, Bush, Obama ou as de Netanyahu, esses governantes, embora sejam co-responsáveis, estavam (e estão) a serviço dos verdadeiros senhores da guerra, os donos das indústrias bélicas e dos empreendimentos militares. São famílias poderosas que há séculos, aliadas às famílias de exploração coloniais como as do diamante, marfim, borracha, petróleo e muitas outras matérias primas, roubam, às custas da ocupação militar e da violência contra os autóctones, as riquezas dessas terras. 


O caso de Gaza e Cisjordânia não é diferente, por detrás de todo o discurso religioso ou daquele que evoca a tradição; o sionismo é um empreendimento capitalista de característica colonial. O Estado bélico de Israel tem sido capitaneado por setores estratégicos para controlar Gaza (cujas reservas consideráveis de petróleo e gás foram descobertas nas últimas décadas), do mesmo modo, agentes do setor imobiliário e do agronegócio na Cisjordânia, usam os modelos de assentamentos (construídos ilegalmente) para garantir novos empreendimentos na região. O último exemplo claro disso, foi o caso do chamado “acordo do século” apresentado por Trump e Netanyahu em 2020, que previa que Israel anexaria 30% das terras do Vale do Jordão (áreas mais férteis) da Cisjordânia, acorde este, recusado pelos palestinos, por representantes da ONU, entre outros.  


Os senhores da guerra ocidentais tornaram-se os senhores supremos das guerras no mundo. As campanhas de guerra contra o oriente se iniciaram com as cruzadas e nunca mais cessaram. As chamadas “guerras santas”, representaram, ao fim, a tomada de terras para as nobrezas europeias e o controle de novas rotas comerciais. Nos séculos XV e XVI, os Estados-Nação recém fundados, com seus exércitos nacionais financiados pelas elites comerciais conquistaram povos inteiros dos continentes asiático, africano e americano. Por onde os senhores da guerra passaram, deixaram um rastro de destruição, escravidão e morte. 


A acumulação da riqueza gerada pelo roubo de matérias primas dos três outros continentes, propiciou a modernização e a eficiência dos complexos militares ocidentais. Novos inimigos e novas ameaças são produzidas. Novas "operações militares", todas justificadas, o “bárbaro”, é sempre o outro, aquele que contesta e contrasta com a moral do “homem branco-civilizado-europeu”. As cruzadas, como eu escrevi acima, foram só o começo, mas os senhores da guerra estão longe de parar. O palestino, o indiano, o africano, o nativo americano, o chinês, todos, foram massacrados pelo colonizador ocidental. Os senhores ocidentais da guerra foram os únicos que se atreveram a dividir um continente inteiro entre eles com a justificativa de levar a civilização aos povos menos evoluídos. 


Não existe nada que se compare a eles, traíram uns aos outros e fizeram duas grandes guerras mundiais, milhões de jovens conduzidos a vida militar apenas para morrer, milhões de civis mortos. Com seus nacionalismos, suas doutrinas eugenistas, criaram o nazifascismo. Os senhores da guerra foram tolerantes com Hitler, pois temiam mesmo era o Stalin, os senhores da guerra inventaram a bomba nuclear e usaram-na por puro cálculo. Quanto custa? Jogar uma bomba agora, ou prolongar a guerra por mais alguns meses? 

 

Heba Zagout - óleo sobre tela. 
Os senhores da guerra, enriquecem não apenas roubando matérias primas, mas também, a partir da exploração do trabalho dos povos dominados, da incitação de guerras civis e dos golpes de estado, do tráfico de armas e das drogas. Trata-se de uma grande cadeia de produção e circulação de mercadorias legais e ilegais, que ao fim, parte do lucro irá parar em contas bancárias dos paraísos fiscais e outra parte refinanciará novas guerras.


Israel é um Estado bélico-colonizador a serviço dos interesses dos senhores da guerra judeus ocidentais e não judeus ocidentais. O Estado Nação israelense vive sob o mito da democracia, Netanyahu, está no poder desde 2009, só para comparar, vale lembrar que Nicolás Maduro, está no poder desde 2013. A reforma judiciária de Netanyahu, desequilibrou a interdependência dos três poderes, conferindo ao parlamento israelense condições de interferir nas decisões da suprema corte de Israel, além do mais, o país nunca produziu uma constituição. O Estado de Israel não é absolutamente laico, pois insere em sua legislação e diversos elementos da lei judaica, seus juízes, podem se valer da tradição, como o Talmud, o Rambam ou Maimonides. Há um conjunto de leis em Israel claramentente segregacionistas, uma delas, aprovada em 2018 pelo Knesset (parlamento), declara Israel um Estado unicamente judeu e Jerusalém sua capital oficial e indivizível, incorporando a parte oriental da cidade onde encontra-se a mesquista de Al-Aqsa, fundada no ano de 1035, terceiro lugar mais sagrado para o Islã.


Terminarei essa reflexão, com um exemplo citado por um ex-juiz da Corte Geral de Tel Aviv, Mário Menachem Klein, que proferiu uma palestra em Minas Gerais, sobre o “Panorama do Direito em Israel” (2014). Segundo o jurista, todo estudante da magistratura em Israel, se depara com a base religiosa do direito, a Torá, trata da figura do juiz pela primeira vez no exemplo de Sodoma e Gomorra, o juiz na história é o próprio Jeová, enquanto Abraão é o primeiro advogado de defesa. O juiz, prestes a condenar toda a população, se depara com a seguinte petição do advogado: e se tiverem lá 50 justos, o senhor haverá de condená-los também? Todo rabino sabe que a resposta é que os justos não devem pagar pelos pecadores. Portanto, essa não é uma reflexão sobre a violência de judeus contra não judeus, mas sobre um projeto colonizador, de características ocidentais que distorce a religião judaica, para fazer prevalecer os interesses econômicos dos senhores da guerra. 


Shalom - Salam.