quinta-feira, dezembro 29, 2016

Feliz 2017?

Eu adoraria desejar um feliz 2017 para todos amigos aqui no Brasil e fora dele. Eu almejaria todo sucesso, toda felicidade e paz, muita paz nos corações, mas temo não poder. Não por falta de vontade de minha parte, como escrevi acima eu adoraria poder dizer que em 2017 tudo de bom ocorra conosco, no entanto, só vou mesmo desejar que sejamos fortes.

O cenário nacional e internacional é um dos piores possíveis, crises que se instalaram e estão longe de se dissipar, infelizmente há poucas esperanças de paz. Na América do Norte, Donald Trump acena para Israel continuar a massacrar o povo palestino, aumentar os muros com o México e deportar imigrantes latinos. No Oriente Médio a Síria vive um drama entre os imperialismos e a islamização radical, tensões de uma segunda Guerra Fria, envolvendo Irã e Turquia. O projeto da União Europeia desmancha-se com o Brexit, a Itália caminha para o poço fundo que a Grécia entrou, a dívida pública da União Europeia é de 86% do PIB (mais alta que o Brasil que está na casa do 70-74%). A China sofre sua mais forte desaceleração e o Japão prevê uma nova crise a caminho nos moldes do que foi em 2008 com a Lehman Brothers.

Por aqui, este ano especificamente, não poderia ser pior (ou poderia?), um ano que incluirá mais um triste capítulo na nossa história. Diante da recessão mundial, articulou-se a tomada do   governo eleito para a implementação de uma política de redução do Estado Brasileiro. Redução, diga-se bem, apenas para as parcelas trabalhadoras, o Estado continuará a ser grande para as corporações. O sistema privado de saúde e educação agradecerão a PEC 55, os bancos não apenas terão garantidos os pagamentos de juros do governo, mas elevarão seus lucros com previdência privada, planos de saúde e outros. As “flexibilizações” das relações de trabalho colocarão uma massa de trabalhadores em condições de subsistência, possibilitando assim, o aumento da lucratividade das grandes empresas. Nossas reservas de petróleo são vendidas a preço de água para os oligopólios internacionais. Enquanto isso, os três poderes e os militares (nãos as PMs), seguirão com seus orçamentos estáveis nos próximos vinte anos. 

O ano de 2017 exigirá de nós a capacidade de resistir e lutar, as articulações sociais precisam ultrapassar "panelaços" e os desfiles de verde e amarelo, liderados por organizações liberais "apartidárias", com cobertura da grande imprensa, reprise no Fantástico. Em 2017 serão necessárias manifestações de todas as ordens, mas mais que isso, será fundamental uma grande campanha de conscientização para que em 2018 possamos fazer uma substituição maciça dos nossos parlamentares, tanto na âmbito federal, como no estadual e municipal.    

#resistirelutarem2017

Jonatas Carvalho 

segunda-feira, dezembro 26, 2016

A NOIVA É BELA, MAS É CASADA COM OUTRO HOMEM.

Foi no ano de 1897 na Basileia que o movimento sionista emerge como um movimento político que reivindicava a criação do Estado Judeu, com base nos escritos de Theodor Herzl, jornalista e escritor judeu austro-húngaro. Herzl dizia que o povo judeu precisava de um lar e criou o slogan “uma terra sem povo, para um povo sem terra”. Mas foi só após a Segunda Guerra que o movimento ganhou força, o holocausto, que sensibilizou o mundo, não sem razão, foi politicamente usado para pressionar as grandes potências na criação do Estado Judeu em 1948.

Muito antes da criação do Estado de Israel, no entanto, muitos judeus incentivados pelo movimento sionista já haviam migrado para a palestina. No congresso que ocorreu na Basileia ficou decidido que uma comissão viajaria para a Palestina e faria uma avaliação sobre as condições da terra. No relatório uma frase chama muito a atenção: “a noiva é bela, mas é casada com outro homem.” A anunciada “terra sem povo” de Herzl, na verdade era ocupada por árabes há dezenas de séculos. 

O movimento sionista criou um fundo internacional, além de contar com o apoio da Inglaterra que controlava a região, para organizarem grupos paramilitares com o objetivo de expulsar os palestinos das suas terras. Um desses grupos, o Haganah, que teve dentre seus líderes, figuras como Ariel Sharon, Yitzhak Rabin e Shimon Peres. O grupo  sionista deu origem ao exército de Israel e ao Likud, partido ultranacionalista no poder e atualmente comandado por Benjamin Netanyahu, atual primeiro ministro. O movimento sionista, liderado por Bem-Gurion, um dos fundadores do Haganah e defensor da “transferência compulsória” de palestinos, foi responsável por diversos massacres, como o liderado por Sharon na aldeia de Kibyia na Cisjordânia em 1936. O Haganah desenvolveu uma série de estratégias e técnicas para fomentar a expulsão de palestinos, o Plano Dalet, por exemplo, implicou em diversos ataques militares aos povos árabes que viviam na Palestina. Os grupos sionistas percorriam por vilarejos com jipes e transmitiam via alto-falantes sons de gritos e lamentos de mulheres árabes seguida da mensagem, “fujam para salvar suas vidas!”. 

Em tempos de comemorações do calendário cristão, importa chamar atenção, uma vez que após 68 anos da criação do Estado de Israel, por mais de seis décadas o povo palestino continua sendo eliminado. Só no período entre 1933 e 1948 estima-se que 53 mil palestinos foram expulsos de suas terras. Entre 1967 e 2009 mais de 68 mil casas de palestinos haviam sido demolidas e 4000 assentamentos judaicos foram construídos. Somente em 2014, mais de mil e quinhentos palestinos foram expulsos de seus lares e 2,2 mil morreram devidas as ações do Estado de Israel, dos quais 550 eram crianças. A construção do Estado Judeu implica na eliminação total do povo palestino. Enquanto o mundo cristão comemora mais um natal, Sião segue firme seu plano de extermínio étnico com o consentimento dos EUA e a conivência da ONU. 

A recente abstenção dos EUA e a aprovação de uma resolução da ONU contrária ao prosseguimento dos assentamentos judaicos em áreas palestinas não interferirá no projeto do Estado de Israel. Donald Trump que condenou a abstenção dos EUA, retomará relações com Netanyahu, os anos que se seguirão serão ainda mais terríveis para os palestinos. 

Fontes: 

PALUMBO, Michael. The Palestinian Catastrophe: the 1948 expulsion of a people of their homeland. Londres, 1998.

SAID, Edward. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Cia. das Letras, 1990.

HOUAT, Stephan Fernandes. A criação do Estado de Israel e um Estado único como solução dos conflitos. Belém Centro Universitário do Pará. Belém/PA:

FINKELSTEIN, Norma G. Imagem e realidade do conflito Israel-Palestina. Trad. De Clóvis Marques. Rio de Janeiro: Record, 2005.