segunda-feira, junho 10, 2019

MAIS DO QUE NUNCA... A UERJ RESISTE.




A prova do vestibular para 2020, organizada pela UERJ foi um sucesso! Ao começar pelos mais de 60 mil escritos, uma demonstração de força de uma instituição que vem recebendo duros golpes por aqueles que desejam extinguir a Universalidade Pública, gratuita e de qualidade, atacando-a com cortes de verbas e por meio do patrulhamento moral. Que ela sirva de exemplo e motivação para as outras, que as marchas dos estudantes nas últimas semanas mantenham as universidades públicas desse país produzindo ainda mais, apesar de tudo. 

Mas a UERJ não arrasou somente na organização da prova, ela brilhou nos conteúdos das questões (e aqui me refiro as de ciências humanas e suas tecnologias, onde sou apto para falar). É necessário enfatizar que esta instituição é pioneira na produção de questões de caráter multidisciplinar e problematizadoras sobre a sociedade contemporânea. Neste ano, a UERJ mostrou o quanto sabe fazer isso bem. Além disso as questões refletiam, contrariando uma certa direita de caráter extremado e atualmente no poder, sobre temáticas referentes aos processos migratórios (refugiados, xenofobia), racial e de gênero, dentre outras. Chamo atenção aqui para quatro questões em especial (mas poderiam ser muito mais). 

O retorno de Simone de Beauvoir, é uma demonstração da luta quanto ao esclarecimento sobre o papel da cultura na produção de identidades e subjetividades consideradas mais suscetíveis ou frágeis. A questão 48, retoma essa problemática ao trazer a obra “O segundo sexo”, cujo segundo volume encontra-se o trecho proposto na edição do ENEM de 2015, “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher”. 


A questão de número 50 trouxe um debate sobre Brexit, ilustrada com um painel poderoso produzido por Banksy em Dover, a questão problematizou a crise monetária da União Europeia, contextualizada pelas contradições do neoliberalismo e o nacionalismo. 

Já a questão 51, apresentava um texto emocionante do comandante do navio Lifeline, Claus Peter Reisch, cujo título foi “Mediterrâneo é o maior cemitério da Europa hoje”, numa alusão as cetenas de refugiados que, ao fugir de seus países, seja pela guerra ou pela fome, naufragam no mar na tentativa de chegar a Europa. A questão discutia os efeitos tardios da herança imperialista na África.

A discussão sobre racismo é tratada na questão 55, por meio de um debate sobre a existência da Ku Klux Klan em pleno século XXI. A questão veio ilustrada por um cartaz e uma cena do filme “O nascimento de uma nação” (1915), o primeiro longa-metragem do cinema mundial, cuja história versava sobre como a Klan salvou os EUA do problema da miscigenação da raça, evidenciando a supremacia branca. 

Muitas outras temáticas importantes foram problematizadas na prova, como a relação entre reforma agrária e concentração de fundiária (57), ou ainda, a questão do chamado deficit habitacional (58). O que posso dizer é que a cada questão eu me orgulhava mais de ter sido aluno nesta instituição e acima de tudo, de ser professor e ter a oportunidade de debater tais temas com meus alunos. 

Mais do que nunca a UERJ resiste.

Jonatas Carvalho