sexta-feira, outubro 12, 2012

O Porto Maravilha e a faxina social no Rio de Janeiro.

 
  Assista o vídeo em HD: http://vimeo.com/49419197

O prefeito do Rio, eleito por maioria absoluta dos eleitores, nunca tratou em sua campanha caríssima (financiada não se sebe por quem!) sobre sua política de "desocupação" dos morros do Rio que estão no entorno do Porto Maravilha. Juntamente com o governador Sérgio Cabral, ambos estão praticando mais uma ação nefasta contra populações que há décadas vivem nos morros do Rio, populações estas, que foram empurradas para os morros durante a primeira metade do século XX; agora estão sendo removidos para sabe-se lá onde!!!
Parabéns para os eleitores dessa dupla que faz política para os grandes empresários como o Sr. Eike e sua corja!!
Em nosso município infelizmente não teremos opção no segundo turno, os dois candidatos (até agora 15X40) não mudarão a situação dos "sem-tetos", vítimas das enchentes e daqueles que tiveram suas casas demarcadas pelo INEA. É certo que o mais jovem (Bernardo Rossi), que tem um "estilo" do prefeito do Rio, irá adotar medidas parecidas, afinal será mandado pelo CABRAL. Já o mais velho (Rubens Bomtempo), que passou 8 anos (em um passado não tão distante) aumentando a dívida pública municipal, terminou seu mandato com 240 milhões de déficit, e por isso teve suas contas não aprovadas, não fará nada por essa população. 
As perguntas continuam sem respostas: Onde serão construídas as habitações? Quando estarão prontas? Quantas moradias serão providenciadas? 
Estamos definitivamente nas mãos do nada!

ACESSE: catarse.me/dominiopublico para fazer uma doação

quinta-feira, setembro 27, 2012

Intouchables

A noite fria de ontem em Itaipava só me animava a ficar em casa intocado, mas já havíamos planejado (eu e minha esposa) que iríamos no cinema. Após duas taças de vinho a disposição para sair na esperança de ver um bom filme veio firme e segui para o cinema. 
Sabia que assistiríamos "Intouchables" (Intocáveis), eu não havia lido nada sobre  filme, sabia apenas que era francês e que se tratava de uma história comovente (mas na verdade é uma comédia)
O filme me surpreendeu profundamente (e só depois verifiquei que já se tornou o segundo maior sucesso de bilheteria na França), baseado em uma história real. Seu maior atributo é demonstrar (o que o sociólogo alemão Norbert Elias chamou de "sociedade de corte"), que costumes aristocráticos tão caros, como óperas, sinfonias, artes plásticas e todo um conjunto de práticas, não fazem qualquer sentido para a maioria da pessoas, mas poucas tem a coragem de revelar que essas tradições inventadas estão fora de sintonia com o mundo real. O personagem do senegalês Omar Sy,  com uma  naturalidade pra lá de engraçada, escarnece de tudo que é altamente valorizado na cultura aristocrática francesa.... o melhor filme que eu vi este ano!         

segunda-feira, agosto 13, 2012

Aos meus filhos com amor.


Ontem fui surpreendido pela 10ª vez com um café da manhã magnífico.  Minha esposa transformou numa tradição, o ato de preparar um café matinal especial em dias como aniversários, dia das mães, dia dos pais e dias das crianças (este último já extinto devido ao tamanho avançado das minhas crianças). O dia começou maravilhosamente bem, para variar eu faria pela 10ª vez o churrasco do dia dos pais. Meu sogro e meus cunhados se fartariam como costumam fazer todos os anos, enquanto eu me defumo junto ao braseiro.  O único fator a contribuir para o dia não ser perfeito, estava no meu organismo, um desajuste (possivelmente motivado por excesso de álcool e uma alimentação essencialmente gordurosa) no meu fígado gerava um enjoo ininterrupto que durou uns três dias. 

Mas este "dia dos pais" me faz refletir sobre o meu papel social de pai, sobre o resultado da minha paternidade. Quando sabemos que a educação que procuramos transmitir aos nossos filhos surtiu efeito?  Quando descobrimos o tipo de caráter que nossos filhos possuem? Ontem meus filhos responderam plenamente estas questões. 

Por uma incrível coincidência minha esposa também não estava bem, nós tivemos uma dessas discussões que os casais costumam ter e transformam eventos que teoricamente são triviais, mas que devido às sobrecargas cotidianas tornam-se motivos para todo tipo de ofensas. Foi assim ontem.  Meus filhos presenciaram tudo, estavam vendo que o almoço do dia dos pais estava indo para o brejo, então trataram de conciliar do modo mais eficaz, não se envolveram na discussão, ao contrário, passaram a consolar a mãe que chorava. Não tomaram partido de ninguém, meu filho tratou de colocar carvão na churrasqueira, numa tentativa de assumir o meu lugar, minha filha grudou ao lado da mãe procurando antever o que precisava ser feito na cozinha.

Ao ver meu filho na churrasqueira, sem qualquer experiência, me coloquei ao seu lado para orientá-lo e embora eu tivesse dito que não faria mais churrasco coisa nenhuma, assumi aos poucos o posto que tem sido meu por anos. Enquanto isso minha mulher recebia nossos convidados com a alegria de sempre, o dia terminou como de costume, todos bem alimentados e felizes, graças às duas criaturinhas que sem se permitirem ser influenciados pelo ambiente tenso que criamos, tiveram o discernimento de equilibrar os ânimos domésticos. A eficácia da ação foi tamanha, que minutos depois nos falávamos como se nada tivesse ocorrido.

Este foi um dia dos pais onde pude colocar a prova que tipo de filhos nós temos... É claro que eles já nos deram muitas demonstrações anteriores de que são pessoas ótimas, mas foi a primeira vez que os vi atuando numa situação de crise e me surpreenderam profundamente.  Quando chegou a noite, eu e a Malau dávamos boas risadas de tudo isso, fizemos um ótimo trabalho, estávamos verdadeiramente orgulhosos.

Para João Mateus e Júlia. 

quarta-feira, agosto 08, 2012

O parque e os pobres

O projeto do parque fluvial do Piabanha prevê o desassoreamento de seis quilômetros do Rio Santo Antônio (que corta Itaipava). Este terá suas margens reflorestadas, serão construídas ciclovias e uma praça na área de confluência com o rio Piabanha. O discurso oficial se parece com aqueles das reformas autoritárias executadas no Rio de Janeiro desde Pereira Passos (1902-1906). No caso atual o que está em voga é o discurso da ecologia associado à segurança, os representantes do Estado alegam que o parque não só trará melhorias estéticas, como também resolverá o problema das enchentes evitando possíveis tragédias como as que ocorreram em 2008 e 2011. Na época de Pereira Passo, o discurso não era tão diferente, o progresso (assim como a ecologia nos dias de hoje), justificava as interferências que levaram a expulsão das populações pobres do centro do Rio de Janeiro. Entre os anos de 1920 e 1922, Carlos Sampaio, prefeito da cidade do Rio de Janeiro demoliu o morro do castelo, removendo os pobres que ali habitavam para os subúrbios sem qualquer estrutura. Nas décadas de 40 e 50 diversas intervenções do Estado (demolição do morro Santo Antônio, abertura da Avenida Presidente Vargas, Avenida Brasil, criação da Radial Oeste) provocaram mais deslocamentos das populações de classe baixa, o ápice, foi a remoção de mais de 70 mil pessoas que viviam nas “favelas” da praia do pinto (Leblon), catacumba (Rodrigo de Freitas) e Macedo Sobrinho (Botafogo) que foram transferidas para a Cidade de Deus, Cidade Alta e Agua Branca, periferias que não contavam na época com serviços de iluminação, água canalizada e saneamento básico.
É assim que tem sido desde então. Todas as obras sobre a égide do progresso tiveram como pano de fundo a “higienização” das áreas contempladas por meio da remoção das populações mais vulneráveis. Os representantes do Estado sabem que tais projetos recebem apoio da maioria de seus cidadãos devido ao argumento do “bem maior”. Não é atoa que associações como a “Novamossanta”, uma associação que se reúne nos condomínios do bairro Santa Mônica em Itaipava apoiam e fomentam este tipo de ação. Para seus associados trata-se de um projeto justo, que irá melhorar a qualidade de suas vidas. Os condôminos poderão sair de suas lindas casas, ocupadas nos finais de semana, de bicicleta apreciando a bela paisagem que se estabelecerá com a remoção dos “casebres” que antes comprometiam visualmente o trajeto das ruas. Estes nobres defensores da natureza, bastiões da ordem pública não estão preocupados para onde irá a população que habita a “área vermelha”, mesmo sabendo que muitos dos que ali vivem são seus empregados; caseiros, jardineiros, zeladores e domésticas. Pouca importa para eles se o valor pago pelo Estado nos imóveis desapropriados é injusto, o fato destas populações não conseguir adquirir outras casas com a indenização do Estado, ou o fato de centenas de famílias viverem por anos de “aluguel social” (que muitos acham uma insensatez do Estado), até que uma casa popular lhes seja entregues, aos seus olhos, é apenas efeito colateral.
Outra alegação que justifica o projeto está nas “edificações irregulares”, o “desrespeito” a legislação que determina que toda edificação deverá obedecer à distância de 30 metros dos rios. Tal argumento desconsidera edificações legalizadas, com seus devidos impostos em dia, portanto, autorizadas pela Prefeitura Municipal de Petrópolis. Desconsidera ainda as centenas de propriedades e condomínios (um exemplo é o condomínio Itaipava Country Club, cujas casas nesta situação não serão atingidas pela política de remoção) que foram constituídos com desmatamentos e à margem desses mesmos e canais. As construções irregulares são resultado da falência das políticas de habitação dos Estados e Municípios. As comunidades que se constituíram nas encostas de morros ou margens de rios, no caso de Petrópolis são muitas, sofrem com o estigma de “invasores”, são os “bodes expiatórios” das tragédias anunciadas, que permite aos governantes se isentarem da responsabilidade de elaborar políticas públicas que garantam moradia para todos os seus cidadãos.
Políticas como esta que está ocorrendo com os moradores da Estrada das Arcas, Gentil, Madame Machado, Benfica e Cuiabá, visam remover estas moradias que “enfeiam” a paisagem, estas são impedimentos para o avanço da especulação imobiliária e, por conseguinte da valorização patrimonial da região. O parque teria neste sentido, um duplo objetivo, primeiro transformar a paisagem retirando dela o “feio” e o “desordenado”, segundo elevar o status habitacional da região de modo que apenas as classes mais abastadas tenham condições de adquirir terrenos e propriedades na mesma.
Após o exposto, cabe uma reflexão sobre a palavra "desapropriação". Os dicionários definem assim: procedimento pelo qual o Poder Público, fundado na necessidade pública, utilidade pública ou interesse social, compulsoriamente, despoja alguém de certo bem, móvel ou imóvel, adquirindo-o para si em caráter originário, mediante justa e prévia indenização. Tal definição suscita outros questionamentos: o que é "interesse público"? A quem cabe decidir pelo "interesse social"? Quem define a "justa indenização"? A história das desapropriações no Brasil, sobretudo, as praticadas pelo Estado do Rio de Janeiro, é uma história de injustiça, de imposição da força e de intolerância. Hoje sob o argumento da preparação da Cidade para a Copa do Mundo (2014) e Olimpíadas (2016), milhares de pessoas estão sendo removidas de seus lares, alguns casos (como na construção da transoeste) as remoções se deram sem a “prévia e justa indenização”, como manda a lei.[1] O “interesse público” no caso da construção do Parque Fluvial do Piabanha segue a mesma ordem do discurso, embora a Secretária do Inea alegue que o órgão está “negociando” com os moradores.
Não me espantarei se em breve máquinas surgirem acompanhadas de oficiais de justiça com ordem de demolir as casas dos “intransigentes” por recusar a “generosa oferta” de Estado, mas realmente espero que isso não ocorra. Se ocorrer, será mais um ato insano de um Estado ausente, que quando se faz presente é para oprimir e discriminar aqueles que mais necessitam de sua assistência.


Jonatas C. de Carvalho.
É historiador e pesquisador associado ao LEDDES – Laboratório de Estudos das Diferenças e Desigualdades da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

[1]Alana Gandra: Repórter da Agência Brasil.
Rio de Janeiro – Boletim divulgado hoje (26) em Genebra, na Suíça, pela relatora especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Moradia Adequada, a urbanista brasileira Raquel Rolnik, alerta o governo brasileiro sobre casos de violações dos direitos humanos na remoção de comunidades em função das obras para a Copa de 2014 e, no caso do Rio de Janeiro, também para as Olimpíadas de 2016. Veja a matéria completa aqui: http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2011-04-26/onu-denuncia-violacao-de-direitos-humanos-na-remocao-de-familias-para-obras-da-copa-do-mundo-de-2014



sexta-feira, agosto 03, 2012

Causa Justa Itaipava

Não tenho tempo para escrever ultimamente. Este blog que existe desde 2008, vem nos últimos anos caindo de produção....definitivamente não sou um blogueiro! Mas as circunstâncias me levaram a criar outro blog. Geralmente somos individualistas, no modelo de sociedade que vivemos, fica cada vez mais difícil nos envolver em causas alheias, por mais simpáticas e essenciais que estas possam parecer. Mas quando somos diretamente atingidos, devemos reagir, devemos demonstrar toda nossa sobriedade e força. 
O Estado do Rio, por meio do INEA -Instituto Estadual do Ambiente, encarregado pelo projeto de criação do Parque Fluvial do Piabanha, está, sob o argumento das enchentes em Itaipava, aterrorizando os moradores que vivem às margens do rio Santo Antônio e córrego do carvão (parte das comunidades do Gentil e Laginha). Para denunciar mais uma injustiça cometida pelo Estado, como as que estão ocorrendo na construção da transoeste e transcarioca (intervenções que tiveram denúncias por parte da representante das Nações Unidas sobre o desrespeito aos direitos humanos), para demostrar o lado fascista do governo do Estado do Rio cujo governador é o Sr. Sérgio Cabral é que criei o blog: Causa Justa Itaipava. O objetivo é que este blog seja mais um canal de denúncia. Que por meio dele seja possível unir as comunidades envolvidas, contra este processo que busca tão somente retirar as populações vulneráveis que habitam áreas valorizadas em Itaipava. 
Acesse e contribua... ajude-nos a divulgar as injustiças praticadas pelo Estado. 
Veja mais no  Causa Justa Itaipava.
   

sexta-feira, maio 25, 2012

NEIP

 Na última semana, tive o prazer de me associar ao NEIP - Núcleo de Estudos Interdisciplinares Sobre Psicoativos, um grupo de pesquisa que tem por principal objetivo o "antiproibicionismo".  Fundado em 2001, o  NEIP  foi composto por pesquisadores vinculados a USP, mas que nos últimos anos conta com estudiosos da área das Ciências Humanas de todo canto do Brasil e de vários países. Dentre seus fundadores cito aqui a antropóloga Bia Labate, o historiador e professor da USP Henrique Carneiro e o antropólogo Edward MacRae. O NEIP conta com mais de 80 pesquisadores, em 2008 estes pesquisadores publicaram o livro "Drogas e Cultura: Novas Perspectivas" (Edufba/MinC, 2008).É uma satisfação poder fazer parte de um projeto como este, agradeço a Bia Labate e a todo o grupo pela recepção e acolhimento, espero poder dar minha contribuição nesta luta contra a "guerra às drogas".
Quem quiser conhecer o Neip - segue o link da minha página: 

Abraços. 

quinta-feira, março 08, 2012

La victoria de los macaquitos

Foi em um confronto entre Brasil e Argentina na cidade de Buenos Aires no ano de 1937 que os brasileiros receberam o apelido de macaquitos. A partida entrou para história como o "jogo da vergonha" pela imprensa brasileira, a Argentina ganhou o jogo por 2 x 0, os jogadores da seleção do Brasil,  que teve quase a metade dos seus jogadores contundidos em um jogo violento, tentaram deixar o gramado, mas deparam-se com as portas dos vestiários fechadas. Foi um jogo para esquecer.

Os argentinos não só evoluíram seu futebol, como também aos poucos estão abandonando aquele clássico estilo de catimba e malícia que lhes eram característicos. Apesar rivalidade, os confrontos entre Brasil e Argentina (muito equilibrados são 92 confrontos com 36 vitórias do Brasil contra 33 dos Argentinos e 23 empates), são menos violentos de uns anos pra cá.

Mas jogar em la Bombonera dá medo, não é atoa que apenas Santos (1963), Paysandú (2003) e Cruzeiro (1994) venceram o Boca Juniors em casa, contudo só o Santos e o Fluminense tiveram o prazer de eliminar los hermanos de uma competição continental. Em 2008 o tricolor carioca empatou em 2 a 2 jogando em la Bombonera com gols dos dois Thiagos  o Silva e o Neves, mas atropelou o rival no Maracanã eliminando o Boca da libertadores na ocasião.

Ontem, porém,  foi um dia épico. Pouco me importa se o Messi fez 5 ou se Neymar fez 3, nada do que ocorreu na quarta feira, dia 07 de março de 2012  foi mais fantástico que ver Deco, Fred  e o outro "cabeludinho" o Wellington Nem destroçando o time de Riquelme. Se ganhar de argentino é bom em qualquer competição ou categoria esportiva, ganhar dos argentinos no futebol e na Bombonera não tem comparação... só um time de guerreiros e sua torcida sabe o sabor de uma vitória assim.  Los macaquitos já não tem medo da la Bombonera. Esperamos que com a vitória de ontem o Boca não chegue a próxima fase da competição, assim seremos os primeiros a ter despachado o Boca duas vezes.

Salve Fluzão!!

segunda-feira, fevereiro 06, 2012

INTERRUPÇÕES

Minha maratona de escritas e leituras tem sido ininterruptas desde dezembro. Com quatro trabalhos de final de curso do último semestre, não faço outra coisa, dois artigos já foram escritos e estou em pleno processo de gestação do terceiro. Geralmente acordo lá pelas 7:30h, sento à mesa e só faço intervalos para ir ao banheiro e almoçar. Nas semanas que estou trabalhando em casa, faço pausas à tarde para descontrair a mente, assistindo um filme ou jogando um buraquinho.    
Hoje porém, me vi obrigado a paralisar minhas atividades mais cedo, às 8:00h, meu amigo Luciano ligou para comunicar o falecimento de outro amigo. Jorge tinha 56 anos, um ótimo sujeito, com uma bela família, não falo de família perfeita, mas de dois filhos com bom caráter e uma esposa companheira. Havia dez anos que Jorge lutava com a hemodiálise, com uma serenidade que eu nunca vi.
Nos nos afastamos nos últimos anos devido a uma série de fatores que não cabe mencionar agora, mas sempre que nos encontrávamos falávamos como se nunca tivéssemos interrompido nossa relação. Eu sempre tive carinho por ele, sempre admirei sua compostura e seu jeito apaziguador.
Hoje durante o funeral fui incapaz de falar com sua esposa ou com seus filhos, não sabia o que dizer, nem tinha coragem para encará-la. Havia muita gente; sinal de como era querido. Observei que houve um excessivo volume de discursos religiosos, cuja eficiência numa hora destas é duvidosa, pelo menos para mim. Acompanhei o enterro até o fim e testemunhei o choro inconsolável de quem fica olhando até o último minuto a tampa encobrir a cova definitivamente.
Fico irritado em ser interrompido quando planejo escrever o dia todo, mas hoje percebi que as interrupções fazem parte da vida, algumas interrupções podem ser maiores que outras e que a última interrupção é a morte.
     
 Adeus meu amigo!