sábado, agosto 04, 2018

JUVENTUDE TRANSVIADA SIM, MAS CONSCIENTIZADA.

“Os velhos desconfiam da juventude porque foram jovens.” (William Shakespeare)

"Nossa juventude adora o luxo, é mal educada, caçoa da autoridade e não tem o menor respeito pelos mais velhos. Nossos filhos hoje são verdadeiros tiranos. Eles não se levantam quando uma pessoa idosa entra, respondem a seus pais e são simplesmente maus." (......?)

Neste último sábado (04/08/18), tive a enorme satisfação de participar de um evento no Pensi Teresópolis. Uma espécie de mostra temática desenvolvida a partir de uma disciplina que permeia todas as séries cujo nome é muito interessante: Laboratório de Inteligência de Vida (LIV). A mostra ficou por conta do ensino médio que partiu do conceito de família para abordar questões que ainda são incômodas, quando não silenciadas na vida social. 

Foi em 1955 que Nicholas Ray produziu para o cinema o filme “Rebel Without a Cause”, aqui no Brasil traduzido por “Juventude Transviada”, uma história que mostra os conflitos da geração da Primeira Guerra e da Crise de 1929 com aquela do pós Segunda Guerra, a geração do ator James Dean (protagonista do filme que morreu neste mesmo ano ainda muito jovem). Em 1975, Luis Melodia, compôs para uma novela (Pecado Capital) uma canção com o mesmo título do filme que acabei de citar... “eu entendo a juventude transviada e o auxílio luxuoso de um pandeiro” 

Há anos que escuto comentários sobre o quanto a juventude de hoje está perdida, não têm conteúdo, são irresponsáveis e frequentemente suscetíveis às más influências. Sempre que ouço isso (em algumas ocasiões em sala de professores), me pergunto se haveria momento mais propício na vida para se experimentar as mais variadas vivências e sensações do que a juventude.

O chamado conflito de gerações é uma constante nas sociedades desde Sócrates (470/399 a.C.)... sim, Sócrates é o autor do segundo texto acima entre aspas! Desde então filósofos, pedagogos e outros pensadores destilaram suas críticas sobre esses “seres incompreendidos”. Talvez Shakespeare estivesse certo, toda essa desconfiança reside no fato de que já fomos jovens, já fomos inconsequentes suficientemente para não querer que nossos filhos corram os mesmos riscos que estivemos sujeitos um dia. Queremos protegê-los das frustrações, decepções, das experiências impróprias e de tantas outras “ameaças”. Por isso, sempre os julgamos despreparados para serem autônomos.

Mas o que vimos hoje na mostra desconstrói esse tipo de ideia que nós pais temos da geração y (ou yy - yz). Na mostra de hoje o que vimos foi um espetáculo de autonomia, informação com base em conhecimentos sólidos, habilidades de trabalho em equipe, consciência social e muita disposição. O resultado? Pais, professores e equipe pedagógica impactados, emocionados, deslumbrados. 

Sim eles transviaram, romperam com décadas de hipocrisia e preconceitos, demonstraram que não se iludem mais com mitos como o da “família de comercial de margarina”, sabem que laços de afeto são tão fundamentais (em muitos casos mais) que o chamado laços de sangue, ampliaram o conceito de família ao ilimitado. Eles transviaram com a intolerância sexista em detrimento do ser humano, nos mostraram que não se pode medir caráter a partir da sexualidade de quem quer que seja. Eles transviaram o determinismo familiar da escolha sobre o que serão no futuro, são senhores do seu amanhã. Transviaram não da moral, mas de um tipo de moral; a patriarcalista. Eles não são suscetíveis, só estão mais abertos às mudanças sociais, praticando o desapego a todo tipo de tradição que nega a pluralidade e tolerância. Transviar não é afastar-se do bom caminho é construir outros caminhos quando o que existe já não nos atende como sujeitos do conhecimento. 

O nosso papel, como geração anterior não é o de guiá-los, pois eles já sabem onde querem ir, acima de tudo o que querem e o que não querem ser, cabe-nos apenas a orientação sábia, serena, amiga, cabe-nos acima de tudo, o apoio, a confiança e a parceria. Foi isso também que vi nessa bela e jovem equipe pedagógica. Termino minha homenagem a estes jovens com um trecho da canção de Flávio Venturini….”nossa linda juventude, página de um livro bom, canta que te quero cais e calor, claro como o sol raiou”. 

Jonatas Carvalho é professor de história da arte no Pensi.