domingo, agosto 09, 2015

Sobre ser PAI....e outras coisas.

Nunca me considerei um exemplo de pai. Por vezes me culpei por não ter sido presente o suficiente, por ter ignorado suas necessidades, não ter observado um olhar. Me culpei por meu filho ter escolhido torcer pelo Flamengo e gostar de pagode (hoje ele abandonou o pagode e eu não sei se foi a melhor opção). Me culpei todas às vezes que falava com minha filha ao telefone e ouvia dela a pergunta: que dia você vai voltar pra casa? Sempre admirei alguns amigos e até com alguma inveja sobre o modo como se dedicaram a paternidade. Ser pai para mim nunca foi “natural”, sempre requereu esforço, paciência e outras coisas que nem sempre eu tinha. Nunca fui resignado o suficiente ao ponto de abrir mão de mim mesmo, de abdicar da minha carreira e projetos. 

Mas de alguma forma, de um jeito pouco convencional e com a ajuda irrepreensível da mãe deles (que por vezes, muitas vezes foi mãe e pai), eu consegui ser pai. Ser pai de menina e menino é algo muito louco, não dá pra ser o mesmo tipo de pai para ambos, pois são seres totalmente distintos, com subjetividades singulares e necessidades extremamente contrastantes. 

O caminho da paternidade que busquei foi de ser tolerante, de amá-los incondicionalmente, respeitar suas escolhas e ser sempre uma opção salutar de um ombro amigo nos momentos de dúvidas e conflitos. Não me preocupei em ser um exemplo de moral ou de sucesso, não cobro deles nada disso. A única coisa que realmente importa, a única que faço questão de lhes dizer que desejo a eles é que sejam felizes. Isso pode soar um tanto hedonista, foda-se, que seja. Não me agrada a ideia de ter filhos envoltos pela lógica do capital, vivendo sob a égide do consumo, dominados pela mentira de que só se pode ser feliz tendo sucesso financeiro. Desejo-lhes que desfrutem de diferentes prazeres nessa vida, que aprendam o valor das coisas que realmente importam, como uma amizade sem interesses ou fazer o bem sem que ninguém além do beneficiado saiba do que fez. 

Hoje enquanto eu me matava em uma churrasqueira para encher a pança de um monte de familiares esfomeados, meu filho ficou ali ao meu lado, compartilhando meu whisky e cerveja, conversando sobre seus projetos, me dando socos de leve, um sacaneando o outro. Minha filha aparecia de vez em quando pra saber se tinha carne mal passada e a cada leva que comia eu ganhava um beijo sujo e ouvia um “eu te amo”. O que eu poderia querer mais? O que faria um pai mais feliz do que ver seus filhos sentados ao seu lado sem máscaras, sem receio de serem recriminados, livres para serem eles mesmos? Se falhei sobre tantas coisas, e falhei, eis algo de que me orgulho, não se trata de querer bancar o moderninho, pois não sou “moderno” em muitos quesitos, nem bancar o liberal pra deixar os outros pais furiosos (mesmo sabendo que eles “tiram onda” com seus amigos por isso). Trata-se de escolher um caminho e o que eu escolhi foi esse. Se me arrependo de não ter feito outras tantas coisas, sim claro. Mas adoro o que vejo quando olho pra eles tão livres, sem neuras, medos, sem inveja besta, frescuras, sem mesquinharias e tantas outras coisas repugnantes (e tenho plena consciência de que se são assim hoje, devemos isso a mãe deles), São jovens que não perdem a oportunidade de se divertir, de viver, são dois seres humanos generosos e tantas outras qualidades que todos deveriam ter. 

Jonatas Carvalho
Pai de João Mateus Albuquerque de Carvalho e Júlia Albuquerque de Carvalho

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