quinta-feira, janeiro 30, 2020

SEM MEDO DE ERRAR

Perdi as contas dos erros que cometi no último ano,
erros como professor,
como aluno,
como sócio de um negócio,
como pai,
como companheiro,
como amigo....
Na verdade, cometi erros ao longo de toda vida.

Errei porque sou humano,
porque é humanamente impossível acertar tudo em todos papéis sociais que exercemos.
Errei porque me desafiei,
porque é melhor errar do que não tentar,
errei,
tentando acertar,
mas bom mesmo é acertar sem precisar errar né?
Não exatamente.

Insistimos na ideia de que existe o CERTO e o ERRADO,
o bem e o mal,
o erro foi associado ao mal em nossa sociedade, 

já foi errado escrever com a mão esquerda,
já foi certo os pais definirem com quem os filhos se casariam,
erros de uma sociedade inteira, de gerações...

Errar é aprendizado,
a ciência tá ai pra mostrar que é,
pegam-se os erros e os transformam em descobertas que mudarão o mundo.

Só sei de uma coisa,
Todas as outras vezes que eu não errei,
eu acertei,
acertei em decidir ser professor,
em continuar estudando,
em ser sócio de um negócio que acredito,
em ser pai de dois seres humanos maravilhosos,
em ser companheiro de uma pessoa incrível,
em ter os amigos que tenho....

Se lidarmos com os erros como parte do processo da vida,
não como um fim de linha, um game over,
eles se tornarão aliados de nosso sucesso.

Jonatas Carvalho.

quarta-feira, janeiro 15, 2020

SOBRE NOSSA VERTIGINOSA DEMOCRACIA E AMERICAN FACTORY; O OSCAR VAI PARA O NEOLIBERALISMO.

Não sou crítico de cinema, documentários e coisas afins, quando assisti “Democracia em Vertigem”, consegui captar (pelo menos acho que sim) a escolha (certeira) do título. Petra Costa, produziu uma obra que cuja narrativa mistura sua história pessoal e familiar com a história política brasileira. Seu objetivo, me pareceu, promover uma análise que vai muito além do impeachment de Dilma Rousseff, mas abordar o quanto nossa democracia é frágil. Por isso é vertiginosa, está sempre oscilando, cambaleante, apesar do discurso sobre as instituições estarem funcionando, um olhar mais observador sobre estas, facilmente detectará que o que temos é uma aparência (maquiavélica) de democracia.

Para aqueles que julgaram o documentário como um panfleto pró PT, só posso dizer que, ou não assistiram de fato, ou não prestaram a atenção devida no mesmo. Petra, inicia a obra tratando da ascensão do PT ao poder e faz duras críticas a política de conciliação com o PMDB, ao mensalão e aos esquemas junto a Petrobras. É claro, boa parte do documentário se concentra no processo de impeachment da ex presidente Dilma Rousseff, e nos brinda com uma sequência de fatos coerentemente colocados que tem como ponto de partida a chamada primavera brasileira em 2013, aquelas manifestações que diziam que não era pelos vinte centavos, lembra? 

A partir daí o que vemos são os equívocos econômicos (política de austeridade) do seu governo em 2014. Dilma cria um pacote anticorrupção (que trazia nele a delação premiada), força os bancos a derrubar os juros, isola Temer e o PMDB. No final de 2014 ela ganha de Aécio (aquele que em um áudio disse: tem que ser um que a gente mata antes dele fazer delação), que nunca aceitou a derrota e prometeu derrubá-la. Aí veio o Eduardo Cunha (o cara que tinha milhões em uma conta na Suíça por meio de uma empresa chamada Jesus.com), que implantou as chamadas pautas bombas na câmara para imobilizar o governo Dilma e contou com o apoio de Aécio, o MBL e a Globo para colocar os verdes-amarelos nas ruas. A Lava-jato de Moro e Dellagnol incriminam Lula, o Gilmar Mendes (sim, ele mesmo) impede que Lula tome posso como Ministro da Casa Civil. O processo do impeachment ocorre tocado por Cunha e com o apoio de 367 deputados que por Deus e suas famílias votaram sim e cantaram “tchau querida”. No senado, o rito contou com o “Supremo com tudo” (lembram do áudio do Jucá?), e tivemos um vampiro presidente. 

Como disse, o documentário é uma mostra de como nossas instituições funcionam, ou melhor, para quem elas funcionam. Alguns anos depois, Teori Zavascki, morrera em um acidente de aéreo, Lula foi condenado, impedido de concorrer com Bolsonaro, e o Procurador Geral de República escolhido a dedo pelo Messias, estancou a sangria, desmobilizando a turma da Lava-jato. O The Intercept Brasil revelou os bastidores dos procuradores e a ativa participação do juiz de primeira instância na investigação e o Deltan (um servidor público), fazendo fortuna com suas informações privilegiadas. 
Apesar de eu achar o documentário da Petra Costa excelente, digno da indicação que recebeu, não creio que ela leve a estatueta, a concorrência é forte, sobretudo, no caso do documentário que recebeu o apoio dos Obamas (Barack e Michelle), “American Factory” (Indústria Americana), dirigidos pelo casal Steven Bognar e Julia Reichert. Trata-se da história de uma fábrica da General Motors que fechou após a crise de 2008 e com ela mais de 8 mil postos de trabalhos também se encerraram. A fábrica localizada em Dayton, no Estado de Ohio, tornou-se anos mais tarde na chinesa “Fuyao Glass América”, produzindo vidros automotivos. O documentário se concentra em tratar do processo de reabertura da fábrica e das diferenças entre a mão de obra chinesa e a estadunidense, assim como os modos de tocar o negócio pelos empresários chineses. 
Inicialmente impressiona (é assim que se escreve senhor ministro da educação), a revelação de alguns trabalhadores sobre o quanto ganhavam na GM e quanto passaram a ganhar na Fuyao executando a mesma atividade, Shawnea, uma operária, conta que recebia US$29, por hora, e que passou a ganhar US$12,84, uma redução de mais de 100% em um espaço de 5 anos. 

O choque só ocorre mesmo quando os diretores da nova fábrica são levados para conhecer a matriz em Fuqing. As diferenças tornam-se ainda maiores, os estadunidenses são incapazes de compreender aquela cultura de trabalho. Para começar os trabalhadores cantam um hino da fábrica que fala sobre transparência, eficiência e muita luta. Se espantam ao saber que o turno dos chineses é de 12 horas e que a maioria deles só descansavam dois dias por mês. Já os chineses achavam os estadunidenses preguiçosos.A coisa fica série quando alguns funcionários da fábrica de Dayton passam a cogitar a criação de um sindicato. A fábrica fora mal avaliada pelos órgãos de controle de qualidades, casos de acidentes de trabalho e denúncias levaram a imprensa a divulgar as más condições dos trabalhadores. A empresa trocou o presidente estadunidense da filial por um presidente chinês. As reuniões de funcionários eram separadas, chineses falavam das dificuldades dos estadunidenses em se adequar ao ritmo produtivo, enquanto estes demostravam sua insatisfação com o tratamento recebido pelos chefes chineses. 

A Fuyao pagou a uma empresa de consultoria mais de 1 milhão de dólares para uma campanha antissindicalista entre seus funcionários. Os funcionários estadunidenses responsáveis pela mobilização do sindicato foram demitidos. Uma votação interna para decidir sobre a sindicalização resultou na derrota para os que queriam o sindicato, foram 868 contra e 444 a favor. O presidente geral da empresa, Cao Dewang, era terminantemente contra a criação de um sindicato, alegando que era espaço para corrupção. O que ele não revelara era que a matriz na China, todos os funcionários eram sindicalizados, mas o sindicato era vinculado ao PC Chinês e o presidente do sindicato era seu cunhado. 

O ensaio de que ambas as culturas coexistiriam em um mesmo espaço com amistosidade e solidariedade, não passou do primeiro ato, o sonho da integração acabara. O documentário termina fazendo uma reflexão sobre como o mundo da automação industrial deslocará 375 milhões de pessoas no mundo até o ano de 2030. 

Confesso que é difícil a decisão sobre o melhor documentário, muito embora, eu não tenha assistido os outros três concorrentes; Honeyland, The Cave e For Sama. Os dois últimos são sobre a guerra na Síria, The Cave me parece ser espetacular, vou assistir ainda essa semana. 

Quanto a relação entre Democracia em Vertigem e American Factory, eu diria que se há uma relação entre os dois é que ambos demonstram efeitos diferentes do avanço do neoliberalismo no mundo. Em democracias vertiginosas como a nossa deve-se desregular o trabalho, desmontar o Estado, obrigando-o a privatizar recursos naturais, para que isso ocorra, vale qualquer negócio, mesmo derrubar um presidente. Já em democracias mais sólidas como é o caso dos EUA (o que não o torna mais sério ou melhor), espera-se, como vem ocorrendo por sinal, o encolhimento da classe média e elevação das desigualdades. O depoimento dos funcionários da Fuyao é sintomático, alguns sabiam que nunca mais voltariam a ganhar o que chegaram a receber no passado, pesquisas revelam que nos últimos 40 anos metade dos estadunidenses só conseguiram elevar sua renda em US$200. 


Jonatas Carvalho.