quinta-feira, abril 23, 2015

LINDA JUVENTUDE


“Os velhos desconfiam da juventude porque foram jovens.”  (William Shakespeare)

"Nossa juventude adora o luxo, é mal educada, caçoa da autoridade e não tem o menor respeito pelos mais velhos. Nossos filhos hoje são verdadeiros tiranos. Eles não se levantam quando uma pessoa idosa entra, respondem a seus pais e são simplesmente maus." (......?)

Na noite de ontem fui a uma boate com minha filha e algumas amigas dela, um programa incomum entre pais e filhos é verdade, todavia, nós pais falamos tanto em honestidade e diálogo franco com nossos filhos, mas quase nunca estamos dispostos a saber quem eles são quando nenhum adulto está de olho.  
Há anos que escuto comentários sobre o quanto à juventude de hoje está perdida, não têm conteúdo, são irresponsáveis e frequentemente suscetíveis às más influências.  Fico me perguntando se haveria momento mais propício na vida para se experimentar as mais variadas formas de vivências do que a juventude.
 O chamado conflito de gerações é uma constante nas sociedades desde Sócrates (470/399 a.C.)... sim, Sócrates é o autor do segundo texto acima entre aspas! Desde então filósofos, pedagogos e outros pensadores destilaram suas críticas sobre esses “seres incompreendidos”.   
Talvez Shakespeare estivesse certo, toda essa desconfiança reside no fato de que já fomos jovens, já fomos inconsequentes suficientemente para não querer que nossos filhos corram os mesmos riscos que estivemos sujeitos um dia. Queremos protegê-los das frustrações, decepções, das experiências sexuais impróprias e de tantas outras “ameaças”. Por isso, sempre os julgamos despreparados para serem autônomos.
Mas não foi isso que eu vi ontem, ali naquela festa, tomada por mais de cinquenta jovens, eu que na maioria do tempo permaneci sentado com minha cervinha, constatei que tanto as moças quanto os rapazes experimentavam um ritual de iniciação de interações sociais. Esses rituais estão repletos de componentes, cuja moral religiosa (no nosso caso a judaico-cristã) rejeita sob o argumento da degradação do espírito. Não diferindo de nenhuma cultura em qualquer temporalidade, eles exploraram as mais variadas formas de interações, algumas carregadas de sensualidades, alteraram seus estados de consciência com substâncias permitidas em nossa cultura (talvez até algumas não permitidas nos tempos atuais), mas no final, tratava-se de diversão, de conhecer seus limites, de autoconhecimento.   
E foi isso que eu vi, muita diversão. É claro que alguns passam do ponto, mas a grande maioria vai fazer dessa fase da vida aquilo que ela realmente deve ser... uma fase e só. No futuro próximo serão profissionais de boa qualidade, constituirão famílias, serão pais e, assim como nós, desejarão o melhor para seus filhos. Como nós, terão lembranças nostálgicas dos amores vividos, das amizades raras (algumas carregaremos pelo resto da vida), de momentos inesquecíveis...
Termino com a frase de uma música de uma banda que marcou minha juventude, o  14 Bis:
Nossa linda juventude
Página de um livro bom
Canta que te quero
Cais e calor
Claro como o sol raiou
Claro como o sol raiou..


Jonatas Carvalho