segunda-feira, junho 22, 2009

As Pontes de Madison

É véspera dos dias dos namorados, estamos em casa, eu escrevo um texto sobre a transitoriedade da vida, no fundo do quarto a TV ligada sem qualquer finalidade, até que escuto o anúncio de um filme da Warner Bros, “As pontes de Madison.” Não é necessário dizer que se trata de um clássico, dirigido e estrelado por Clint Eastwood e com Meryl Streep.
Este é um filme de uma sensibilidade singular, se eu pudesse defini-lo numa máxima, utilizaria Fernando Pessoa: “O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que elas acontecem, por isso há momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.”
Eu poderia arriscar que o cerne deste filme esta no quanto alguns de nós nos privamos de nossos sonhos em função de escolhas convencionais. A convencionalidade, no entanto, não significa amarrar uma pedra no pescoço e pular no rio. Muitos são felizes vivendo de forma convencional, isto é, seguindo o que nossa sociedade chama de comportamento padrão esperado; estudar, trabalhar, pagar impostos, casar, criar filhos, aposentar e morrer. Não estou certo, contudo, se há realmente algo de convencional nesta sequência (Saudades da velha ortografia!!), visto que as implicações para tal processo são extremamente complexas. O fato é que alguns realmente não sonham com uma vida assim e a acabam vivendo desse modo por força da tradição ou falta de coragem em ir ao encontro daquilo que realmente querem.
Por que escolhemos o convencional? Ai temos outra grande sacada do filme, talvez seja por sermos culturalmente lavados a buscar a eternidade em tudo, menosprezamos os momentos, os acontecimentos ou tudo mais que não nos traga certezas estáveis. Creio que seja por isso que fico imaginando que o amor platônico entre a dona de casa e um fotógrafo da Nacional Geografic, se realimentou do sonho do que poderia ter sido aquela relação, assim como em Abelardo e Heloisa. Afinal fazemos isto com as coisas de um modo em geral, isto é, imaginamos como teria sido nossas vidas se tivéssemos feita a outra escolha, se não tivéssemos desperdiçado aquela oportunidade.
Não quero fazer pouco caso do amor ou da paixão, mas em As Pontes de Madison uma coisa me chamou mais atenção que a relação entre a dona de casa e o fotógrafo viajante. A trama é ricamente desenvolvida a partir da leitura do diário da mulher, leitura esta, que é feita por seus dois filhos, na verdade um casal. O que me impressiona no filme é como cada filho irá reagir àquela história guardada em segredo pela mãe até a sua morte. Os filhos, agora adultos, vivenciando as problemáticas da relação a dois, olham para suas próprias vidas, e percebem que é necessário fazerem algo com relação a seus relacionamentos. A questão é que este algo a fazer, se estabelece de modo completamente distinto, na verdade suas ações chegam a ser paradoxais. Imbuídos em não repetirem a história da mãe, resolvem agir para mudar suas realidades, a jovem, porém, liga para seu marido e anuncia que não deseja mais continuar casada com ele, enquanto o rapaz corre para os braços de sua esposa, prometendo fazê-la feliz até o fim dos seus dias.
Arrisco-me novamente a outra máxima, desta vez de Sartre: “O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós”.

sexta-feira, junho 12, 2009

TRANSITORIEDADES

“Tem gente que vem e que voltar, tem gente que vai e quer ficar, tem gente que veio só olhar, tem gente a sorrir e a chorar. E é assim chegar e partir são só dois lados da mesma viagem” (Encontros e Despedidas. Milton Nascimento e Fernando Brant).

Aqui estou eu novamente. Eu não sou muito adepto da matemática, mas realmente preciso arriscar-me em um cálculo. Julgando que viajo semanalmente entre Itaipava e Cabo Frio, transitando por conta disto duas vezes por semana pela rodoviária novo rio. Julgando ainda que um mês tem quatro semanas, logo, transito pela rodoviária oito vezes no mês, caso o ano tivesse dez meses eu teria passado pela rodoviária oitenta vezes no ano. Se acham que contabilizei dez meses só pra facilitar a conta, estão enganados, eu levei em consideração as férias e algumas vezes que vou de carro.
Oitenta vezes no ano! Por que a exclamação? Porque nos últimos sete anos eu faço esta rotina, ora multiplicando oitenta por sete, segundo minha calculadora dá 560, isto mesmo, deixarei em algarismos numéricos para destacar, 560 vezes eu já passei por esta rodoviária! Será que devo requisitar um recorde? Quantas pessoas já transitaram por uma rodoviária tantas vezes? Acredito realmente que tirando o pessoal que trabalha por aqui, ninguém passou mais vezes neste lugar que eu.
A rodoviária me ensinou muitas coisas, no entanto, entre elas, eu entendi que a vida é transitória. A transitoriedade não necessariamente está vinculada a instabilidade, não. Por transitório, compreendo a dinâmica da vida, as mudanças, os acontecimentos e as descontinuidades. A vida é transitória, isto quer dizer que estamos em trânsito o tempo todo, nada é estático, estamos sempre em movimento, a cada dia, a cada hora, a cada minuto, a vida transita. Para onde? Esta já é outra discussão.
Apesar desta constatação, observo que muitas pessoas preferem viver fixamente, isto é, alguns necessitam de agarrar-se a algo, nossa cultura insiste nisto, precisamos criar raízes, estabelecer vínculos sólidos, é fundamental a nossa espécie a sensação de pertencimento. Creio que tudo isso se inicia no momento que nossa espécie transita de sociedades nômades para sedentárias. No momento em que percebeu-se que era possível estabelecer-se sem mais aquela obrigação de correr atrás da caça.
De qualquer forma, me parece que com o advento do capitalismo passamos a consumir e acumular como loucos, para que? Qual o objetivo deste tipo de sujeito que só faz pensar em acumular e ter? Podemos alegar que estamos pensando nos nossos descendentes, mas na verdade fazemos isto porque de uma forma ou de outra não queremos andar em desconformidade com as regras sociais e as verdades universais.
Ao olharmos ao nosso redor, com alguma lucidez é possível ver que a vida é infinitamente mais que acumular, devíamos apenas viver... seguir a vida com propósitos que sejam mais significativos, como fazer amigos legais e leais, amar, gozar e divertir-se muito. Não consigo imaginar algo mais sensato diante da transitoriedade da vida que isto. O transitório não significa ser vazio ou vulgar, não há problemas em dar sentido as coisas, em buscar uma felicidade duradoura, não é só porque a vida é transitória que vamos nos comportar como se o mundo fosse acabar amanhã.
O que proponho é uma relação de equilíbrio entre o viva e deixe viver e o acumule o máximo que puder. Poderíamos estabelecer um outro conceito, logo, proponho viva o máximo que puder e acumule o suficiente. Se a vida é uma grande rodoviária, assim com na canção as pessoas vivem a vida e a percebem de forma diferente, para alguns trata-se de uma dádiva, outros a vê como um carma, eu a sinto como um bem inestimável, embora tenha consciência de sua transitoriedade.
Jonatas C. de Carvalho.