sábado, maio 18, 2019

A DESEDUCAÇÃO DO GOVERNO BOLSONARO

Desinformado (ou mal intencionado) é quem disse que as manifestações de professores e estudantes das redes públicas e privadas só ocorreram para prejudicar Bolsonaro, os que alegam isso, dizem que governos passados inclusive os do PT também cortaram recursos da educação, mas não houveram reações. Inclusive, que não havia necessidade de paralisação, uma vez que o Ministro da Educação alega que se trata apenas de um contingenciamento de 3,5%. 

É preciso então começar com o que há de alguma verdade ai, sim, governos anteriores trataram de impor cortes na educação, e mesmo que os investimentos em educação tenham saído de 3% do PIB ao fim da Ditadura para próximo dos 7% atuais, os cortes seguem assombrando o setor. Mas é preciso dizer também, que os educadores e educandos nunca deixaram de protestar contra eles, para ficar apenas em dois casos que ocorreram no governo do PT, em 2012 professores fizeram vigília na praça dos Três Poderes, em Brasília, em defesa da educação pública do país. Tempos depois a luta era sobre a cota dos 10% do PIB e 50% do pré-sal para a educação e plano de carreira sólido para professores eram a pauta da época. Poderíamos ainda lembrar um muito maior; 2013.  

Mas uma coisa é certa, não me lembro de ter visto nada parecido no Brasil referente a mobilização de professores e estudantes como ocorreu no último dia 15. A ausência de reconhecimento ao protesto legítimo por parte do governo é um indicativo importante aqui. 

A Dimensão do protesto não tem necessariamente relação com o tamanho do corte anunciado (até porque não se sabe até agora ao certo, pois o governo muda a informação a cada hora), mas está relacionada com o desrespeito aos docentes e discentes desse país, com a total falta de consideração com o ensino público superior, com o jogo torpe dos discursos moralista/idealista para atacar a pesquisa acadêmica, com as ofensas a esta categoria que rala de sol a sol em ambiente precarizado. 

É claro que há projetos ruins nas Universidades Públicas, é obvio que há problemas de gestão, de corrupção, de lutas internas, mas esse é o dia a dia da comunidade acadêmica (aqui e no resto do mundo), você que não frequenta uma Universidade Pública, não vai ver na TV ou mesmo nas suas redes sociais, mas alunos e professores lutam constantemente contra todos esses fatores, são centenas de reuniões, assembleias, manifestações no interior da universidade, visando corrigir seus problemas. 

Mas o Brasil só chegou até aqui como potência econômica graças a Universidade Pública, o país tem pesquisa de ponta em várias áreas de conhecimento, astrofísica, biologia molecular, neurociência, virologia, geociências, agronomia, tantos, mas tantos, só o catálogo de laboratórios de pesquisa da UFRJ são de 376 páginas (confira aqui:http://posgraduacao.ufrj.br/public/suporte/pr2/publicacoes/2018/Catalogo04Jan18.pdf?1515091294), para você ter uma ideia, apenas o Instituto de Geociências possui mais de 60 laboratórios de pesquisas, aliás, você conhece os avanços do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) na cura do mal de Alzheimer publicado na revista Journal of Neuroscience? Sabia que apenas esta Universidade oferece 177 cursos e que ela possui quase 70 mil alunos? A UFF possui mais de 50 mil e a UERJ mais de 30 mil. A USP já ultrapassou a casa dos 100 mil. São daí que saem jovens que vão ganhar o mercado nacional nos mais diversos setores da economia. 

Exaltar nossa educação e os avanços científicos promovidos por brasileiros e brasileiras, não implica em não reconhecer seus problemas, sabemos o quanto distantes ainda estamos em muitas áreas, nas dificuldades da educação básica e na formação de professores, por exemplo, mas não é desmoralizando o todo que chegaremos a mudança necessária. Generalizações são equívocos, estratégia perigosa, tratar as universidades públicas com sansões sem os processos administrativos legais é agir por convicção ideológica. A Universidade Pública não é inimiga da educação de qualidade, ao contrário, é sua maior aliada hoje. 

Enquanto eu escrevo isso (tempo que ganhei graças a uma virose maldita), pude ver as declarações do ministro da educação (o segundo ministro em cinco meses) na câmara federal, um homem dotado de uma arrogância rancorosa e de um desprezo enorme pela Universidade Pública. Também vi a terceira nomeação para a presidência do INEP, órgão responsável pelo ENEM, três em cinco meses. 

Jonatas Carvalho