quinta-feira, dezembro 14, 2017

QUEM TEM MEDO DA ESQUERDA?

Foi a indústria do medo do comunismo, sobretudo, após a revolução cubana que abriu caminho para a derrubada de Jango e a instauração de 21 anos de ditadura no Brasil. As farsas envolvendo conspirações comunistas vinham ocorrendo desde o plano Cohen em 1937, quando Getúlio acabou com as chances de eleição e implementou seu Estado Novo por meio de uma constituição fascista. É claro, em 1964 o acirramento pode ser razoavelmente explicado, estávamos em plena bipolarização das forças capitalistas e socialistas, ambos se demonizavam.

Mas como entender esse fenômeno retornar em pleno século XXI? Com quais fundamentos tais discursos se estabelecem? O que faz um indivíduo gritar para o outro "vai pra Cuba!".Curioso é que ninguém grita "vai pra China!" Na última crise do capital, a Venezuela foi a escolhida como a vilã do momento, vimos nas manifestações de verde e amarelo cartazes dizendo que o Brasil iria virar uma Venezuela. Como não lembrar da senhora que foi a Brasília pedir por intervenção milita e ao avistar uma homenagem da integração Brasil e Japão, disparou a denunciar que estavam transformando nossa bandeira numa bandeira comunista. 

Não foram poucos os manifestantes que, ao serem indagados sobre comunismo, fizeram declarações pavorosas, alguns o associaram com o próprio satã. Quando perguntados sobre a diferença entre socialismo e comunismo pouquíssimos sabiam diferenciar. Ao serem questionados sobre o que pensa a esquerda, berravam: esquerdopatas!!!   

Mas o que é ser esquerda hoje? Quem são os comunistas da atualidade? O que defendem? Se você percorrer os programas de governo dos partidos de esquerda mundo a fora, verá que a diferença mais brutal em relação aos de centro e direita diz respeito a participação do Estado na Economia. A esquerda no mundo trabalha com conceitos como democracia, liberdade, igualdade, pluralidade, justiça social participação social ... reconhecem os sistemas parlamentaristas e presidencialistas...defendem o equilíbrio dos três poderes. Então no que diferem de fato da direita? Em geral o que se quer é superar o capitalismo, isto é, passar para uma outra fase, não mais por meio das propostas formuladas no século XIX, não se quer extinguir o capitalismo, o que se quer é superar um certo tipo de capitalismo, se quer atacar suas principais contradições a saber: a alta concentração da produção da riqueza e consequentemente as desigualdades. A esquerda questiona uma meritocracia cujas condições de largada para se atingir o topo são desiguais. Questiona que recursos naturais tal como a água, florestas, petróleo não sejam geridas por uma ou duas multinacionais. 

A esquerda no mundo se opõe ao neoliberalismo, modelo que já demonstrou em diversos países no mundo que não se sustenta por muito tempo. Para não me estender demais vou dar dois exemplos onde a esquerda vem obtendo razoável sucesso, dois países que sofreram seriamente com a crise em 2008, refiro-me a Islândia e a Portugal. A Islândia por sinal tem uma primeira ministra feministas e de esquerda, trata-se de Katrín Jakobsdóttir, que obteve uma grande popularidade ao dirigir o ministério da Educação, Ciência e Cultura durante a crise. Os islandeses saíram da crise fazendo uso de políticas exatamente contrárias das que vem sendo aplicadas aqui. Aliás a Islândia não tem Mc'Donald. Você pode contestar: "Mas a Islândia é do tamanho do Espirito Santo!" Sim. Então vamos a outro exemplo? 

Portugal conseguiu uma forte aliança entre os grupos de esquerda do país, assim como ocorreu na Islândia (algo improvável no Brasil). O governo português, liderado por Antônio Costa, também vem apresentando resultados muito positivos. Claro que a extrema direita por lá, também tentou aterrorizar a população, mas de lá pra cá, sem fazer uso das fórmulas de austeridade, o país reduziu o déficit fiscal pela metade e ainda aumentou os salários e as aposentadorias. 

Vale a pena dar uma olhada nesses dois exemplos, infelizmente você não irá assistir os sucessos da esquerda por ai, ainda que pequenos. Na Globo, por exemplo, sempre que a esquerda aparecer terá a bandeira da Venezuela na frente. 

Jonatas Carvalho.  







   



segunda-feira, dezembro 11, 2017

LULA X BOLSONARO?

Se por um lado é prematuro levar quaisquer pesquisas a sério faltando quase um ano para as eleições, por outro estas não devem ser completamente ignoradas. Afinal, para que servem tais pesquisas? Com quais intenções são solicitadas? Eu diria que são produzidas para construção dos cenários possíveis. Não se pode estabelecer metas eleitorais sem saber com certa antecedência, como está a cabeça do eleitor. 

E o que revelou a última pesquisa do Datafolha? Me parece que o sinal mais evidente é que apesar de todos os golpes desferidos contra o Lula, este continua bem de pé. Em todos os cenários Lula lidera com folga, muito embora sua rejeição seja enorme (acima de 40%). Esse cenário favorável a Lula, que se repete pesquisa após pesquisa, indica aos seus maiores adversários que até aqui, suas estratégias não surtiram o efeito esperado. A única alternativa seria tirá-lo do páreo em 2018? Há aí, quem defenda que a única via possível é pela lei (diferencio aqui lei de justiça), a pressão sobre o tribunal da 4ª Região em Porto Alegre tende a aumentar, aliás, a apelação entregue pela defesa de Lula a este tribunal foi avaliado em tempo recorde. Outros projetos visam continuar a estratégia de fazê-lo “sangrar”, Lula precisa ser derrotado nas urnas, como defendeu o colunista Mário Vitor Rodrigues, na IstoÉ independente, cujo artigo teve por título "Lula deve morrer" (morte política).

Outra importante revelação é a situação do PSDB, há quem acredite que este está morto, eu temo que não. Os tucanos ainda são os preferidos nos setores financeiros, especulativos, rentistas ou seja; os poderosos. Alckmin consolida-se à frete do partido, enquanto Aécio foi lançado como boi de piranha, o governador de São Paulo é blindado pelas famílias da máfia da comunicação. O PSDB possivelmente vai apostar na polarização com o PT como vem fazendo desde a primeira eleição de FHC. Para isso é necessário tirar Bolsonaro definitivamente da jogada, o que ocorrerá fatalmente, sobretudo, com apoio da Globo e Veja. Sequências de denúncias virão para desmoralizar o homem e o político de ultradireita, como a última sobre o deputado ter empregado a ex-mulher e seus parentes. Não será difícil para os enxadristas tucanos jogarem Bolsonaro para fora do tabuleiro e, nessa tarefa, terão o PT como aliado. Ao PSDB falta apenas trazer o PMDB para o seu lado nessa disputa, sua máquina de propaganda já afundou o PT (mas também não matou), mas Alckmin sabe muito bem o que é debater com Lula. 

Por fim, o que dizer de Marina e Ciro? Marina despenca nas pesquisas, perdeu a segunda colocação para Bolsonaro, acredito que terá dificuldades de construir alianças para lançar uma candidatura forte. Já Ciro poderá ser o maior beneficiado com uma possível retirada de Lula por decisão legal. Ciro é de longe muito mais articulado que seus adversários, em situações de debates ele engoliria Marina e Bolsonaro, sua maior dificuldade é convencer o mercado financeiro, Ciro aposta um pouco no modelo populista/desenvolvimentista e nacionalista de Getúlio e Juscelino, quem estudou a história sabe que não acabou bem para os dois.

Como escapar dessa polarização entre PT e PSDB? Dificilmente será possível uma mudança de cenário em 2018. O PMDB, caso tivesse um nome forte seria o única capaz de alterar essa situação, tudo indica, porém, que este adotará a mesma estratégia até aqui, isto é, aliar-se a um dos dois e requisitar ministérios estratégicos. Ao que parece o mesmo ocorrerá com o PP. 

Obs: Não pude deixar de perceber a incrível queda de popularidade de Dória, aquele queridinho do MBL, creio que esta é a primeira e última vez que terá um cargo público com apoio de eleitores.