quarta-feira, agosto 31, 2016

PAI JONÃO E A TESE DO GOLPE.

– Olá Pai Jonão. Como vai? 
– Levando meu fio....hehehe. 
– Pai Jonão a presidenta Dilma foi definitivamente afastada, o Temer empossado logo em seguida, um processo que levou meses com todos o rigor da lei, depois disso tudo o senhor ainda sustenta a ideia de golpe?
– hehehe....primeiramente meu fio é preciso diferenciar lei de justiça. Martin Luther King Junior disse certa vez que é nosso dever moral e obrigação de um cidadão de bem desobedecer lei injustas. Centenas de processos nesse mundo que seguiram o rigor da lei, condenaram pessoas injustamente. 
– Sim, mas isso caracteriza golpe Pai Jonão?
– Isso apenas não meu fio. No nosso caso há um conjunto de fatores que nos ajudam a utilizar esta terminologia. Primeiro temos a articulação política, que tem na figura do presidente da câmara dos deputados, Eduardo Cunha. Este senhor por sinal, ao ganhar a eleição com o apoio da oposição, impôs a primeira grande derrota da presidenta. 
– Como assim meu pai? 
– Hehehe... veja meu fio. O Eduardo Cunha era do partido aliado ao governo, logo, não haveria razão para receber o apoio da oposição, certo?
– É faz sentido. Mas o que isso tem com o golpe? 
– Lembra da carta do Temer à Dilma? 
– Sim. 
– Naquele momento o golpe já começava a ser articulado meu fio. O Temer não poderia assumir sem romper com ela, a carta é de dezembro de 2015, de lá pra cá, uma sucessão de outros eventos deram prosseguimento ao que já se havia planejado. 
– O impeachment? 
– Não meu fio, primeiro era necessário fazer o governo sangrar. Após a ruptura do Temer a maior parte do PMDB também rompeu, o Eduardo assumiu a câmara e a presidente perdeu a condição de negociação. Os articuladores tiveram um fator muito favorável; uma crise mundial. Conquistaram o apoio das grandes corporações e da imprensa, a partir daí, foi fácil mobilizar parte da sociedade. Depois foi só ele escolher a tese mais interessante para o impeachment, uma vez que havia algumas. Veja que ele não teve qualquer pudor em aceitar o processo imediatamente após Dilma ter-lhe negado apoio no seu processo na Comissão de Ética por decoro. 
– O Senhor então acha que os movimentos das ruas foram manipulados. 
– Não é tão simples assim. Tenho certeza que muita gente que se manifestou estava ali acreditando que estavam exercendo sua cidadania e provavelmente estavam mesmo. Mas ontem eu assistia o Senador Cássio Cunha Lima falando e apontando para a galeria para falar do apoio dos movimentos sociais apartidários, quando a câmara da TV senado focalizou a galeria, quem eu vi? 
– Quem meu Pai? 
– heheheh......os dois meninos do Movimento Brasil Livre que serão candidatos a vereador em São Paulo pelo DEM. 
– Porra meu Pai o senhor se refere ao Kim kataguiri e ao Fernando Holiday? 
– hehehe...é esses mesmos. Esses movimentos nunca foram independentes. Até o procurador do TCU que emitiu um documento em conjunto com um auditor que buscava caracterizar o crime fiscal de Dilma fez parte desses movimentos. Esse senhor que atende pelo nome de Júlio Marcelo, foi levado como testemunha pelos acusadores ao julgamento e considerado desqualificado por envolvimento nas manifestações que em princípio ele teria negado ter feito. A peça chave da acusação foi desqualificada. 
– Então o senhor acha que ela é inocente? 
– Hehehe.....quem é inocente na política meu fio? A questão aqui é se ela era culpada pelos supostos crimes que lhe foi imputada. Eu diria que não. 
– Mas a maioria do senado votou pelo sim meu pai? 
– Sim. Mas ela não foi condenada. Veja que dentre os 61 senadores que votaram pelo seu afastamento, 14 não apoiaram que ela fosse penalizada pelo suposto crime, ou seja, no final o julgamento foi meramente político. Ela foi afastada sem ser condenada. 
– Uau. 
– Comungo com o filósofo Michel Foucault ao inverter a lógica do General Carl Phillip Gottlieb von Clausewitz quando afirmara que a “Guerra é a continuação da política por outros meios”, Foucault disse: “a política é a guerra continuada por outros meios”. Mas veja, a guerra aqui não é a dos políticos, afinal esses indivíduos são representantes de parte da sociedade, logo, estão ali porque foram colocados lá para representar os interesses de quem os colocou, e, quem tem o dinheiro é quem faz a política meu fio. 
– Ai meu Pai!.