domingo, janeiro 16, 2011

O Último Verão Serrano.

Já não consigo gostar mais dos verões como antes. Em 2008 a minha rua foi devastada durante o carnaval, muita gente perdeu todos seus pertences, outros perderam a própria vida. Nos anos seguintes assistimos outras tragédias como foi o caso de Angra dos Reis. Estados como Santa Catarina, São Paulo, Minas e Espírito Santo todo ano têm inúmeras cidades com problemas relacionados com inundações, deslizamentos e enxurradas.
Durante anos o verão era aguardado com ansiedade, as férias escolares animavam os pais que podiam sair de férias com as crianças, na região serrana o verão trazia sol e calor, clima não muito comum durante o restante do ano. As cidades da região serrana como Petrópolis, Teresópolis e Friburgo recebiam seus moradores de veraneio, as noites ficavam animadas, o comércio faturava e todos ficavam felizes.
Mas tenho a impressão que não é mais assim, a aproximação do verão suscita certa apreensão, apesar das coisas parecerem como antes, ou seja, férias, casa na praia ou na serra, viagens para o exterior, o comércio bombando, mas ultimamente sempre somos surpreendidos por uma nova catástrofe a cada ano.
Para piorar, cada nova catástrofe parece ser pior que a anterior, na enchente que varreu minha rua no ano de 2008, eu ouvia dos moradores mais antigos que nunca o nível da água do rio havia atingido tal altura. Este ano, o nível do rio superou em 1,5 metros a altura atingida em 2008, algumas casas só se viam o telhado.
Este episódio me lembrou do livro “O último verão europeu” de David Fromkin. O historiador estadunidense antes de apresentar sua tese sobre os motivos que desencadearam a primeira guerra procurou demonstrar que o conflito iniciado em 1914, apesar das aparências, já era perceptível em 1912. Os eventos ocorridos na região serrana já haviam sido anunciados não apenas em estudos, mas pela previsibilidade que é ter crescimento urbano desordenado nas encostas e nas margens dos rios e não estou culpando a população que é destituída do direito de moradia descente.
O último verão serrano será inesquecível, infelizmente não pelo entusiasmo de subir a serra e desfrutar do ar da montanha, tomar banho de sol a beira da piscina ou nas cachoeiras fantásticas que esta serra possui. Não esqueceremos os que se foram, muito menos a dor daqueles que ficaram. Os rios de lama e as pedras que rolaram sobre bairros inteiros marcarão por anos estas populações.
Ao andar pelas ruas de Itaipava o que vemos é a desolação, no canto das calçadas estão amontoados junto à lama os pertences dessa população, móveis e eletrodomésticos adquiridos em prestações que ainda estão por pagar. O pior é que tais cenas, estas que assistimos perplexos em 2008, 2009 e 2010, agora em 2011 se repetem com mais intensidade. No Rio da copa e das olimpíadas há mais com que se preocupar que UPPs, o projeto urbanístico do Rio não deverá se ocupar apenas das aparências ou até 2014 poderemos ser surpreendidos muitas vezes.