segunda-feira, julho 24, 2017

DESENCANTAMENTO

Após muitas noites você conclui; 

que nada era como você imaginava. 

Que seu pai não era um herói,

que você decepcionaria seu filhos.

Que as pessoas estão mais interessadas no que você tem, 

do que em quem você é. 

Que a fome no mundo é uma decisão, 

não algo inevitável. 

Que a educação que recebemos, 

não tem por objetivo nos tornar mais sábios, 

sim mais úteis. 

Que os homens inventaram as religiões e os deuses, 

e que você é tão somente a imagem e semelhança apenas do 

seu próximo. 

Que o universo  não é  harmonioso

mas caótico. 

Que não somos uma espécie superior,

mas a espécie que pode dar fim a todas as outras. 
 
Que o crepúsculo dos ídolos,

se extingue no horizonte. 

Que somos humanos, demasiadamente humanos. 

Que finalmente você se desencantou...

pela primeira vez contemplou o mundo sem lentes.

Jonatas Carvalho 

sexta-feira, julho 21, 2017

SOMOS TODOS SÉRGIO MORO? SÓ QUE NÃO.

Esta semana vi uma postagem de um “amigo do face”, que como muitos de nós se preocupa com os rumos do nosso país, dizendo mais ou menos assim: O juiz Moro é juiz federal, tem formação em Harvard....., mas o sujeito que não estudou nada, que nada entende de direito é quem diz não haver provas contra o Lula.

Se há uma coisa que as redes sociais permitiram foi mostrar como somos especialistas em tudo, sabemos sobre todos os assuntos, opinamos e sentenciamos com facilidade em assuntos como saúde, educação, segurança, e claro, somos milhões de cientistas políticos. O julgamento de Lula, como não podia deixar de ser, fez crescer uma enorme população de juristas. Há entre nós aqueles que acusam o Lula de ser o maior ladrão do Brasil, sem sequer conhecer nossa história de corrupção, sem nunca ter visto uma prova. Assim como há os que acreditam que nunca na história deste país tivemos um líder tão honesto, ignorando como se faz política nessas terras. 

Como alguém que se recusa a sair por aí compartilhando extremismos, devo dizer que, embora não esteja disposto a votar no Lula outra vez (votei duas), a menos que em um hipotético segundo turno ele disputasse com Bolsonaro (muito hipotético mesmo), sou admirador de sua trajetória política. Não há um cientista político sério que negue a importância do Lula para nossa história política. Aqui falo como historiador, um pequeno, mas esforçado estudioso da nossa história. O que não significa que eu não tenha críticas a tal trajetória, assim como tenho a Getúlio, todavia, negar a importância de um e de outro é cometer uma enorme injustiça. 

Quanto ao Moro, pouco sei sobre ele, mas nem de longe ele se equipara aos grandes juristas brasileiros, verifiquei o lattes do Moro, ele fez um doutorado em dois anos (2001-2002), o que no mínimo causa estranheza, já que dois anos é o tempo mínimo do mestrado (doutorado são quatro anos). No lattes do Moro não há qualquer informação sobre o mestrado, entretanto na Wikipédia consta que ele terminou o mestrado em 2000. E a tal formação em Harvard foi na verdade um programa de instrução de advogados da Harvard Law School em 1998. 

Então pensei na postagem do meu “amigo do face” que citei acima, e como perceberam eu concordei com ele sobre como damos opiniões sobre tudo nas redes sociais, mas ai resolvi ver quantos juristas sérios, com currículos imensamente maior que de Moro, que já leram sua sentença sobre Lula, tem a dizer. Encontrei alguns nomes interessantes, no entanto, só irei citá-los e não entrar no mérito de suas críticas. 

Para começo de conversa dois grandes juristas Celso Antônio Bandeira e Melo e Afrânio Silva Jardim. O primeiro, livre docente da PUC-SP, uma autoridade em direito administrativo, o segundo é um dos maiores juristas em direito processual, membro do Ministério Público Federal aposentado e professor há mais de 30 anos. Ambos com duras críticas a sentença elaborada por Moro. Soma-se aos dois juristas mais um contingente de especialistas do direito: Fernando Hideo Lacerda, professor de direito penal e processual na Escola Paulista de Direito (EPD); Pedro Estavam Serrano, professor de direito constitucional da PUC-SP; Bruno Galino, Professor de direito constitucional na UFPE; Salah H. Khaled Jr, professor de direito criminal na PUC-RS; Thiago Bottino e Silvana Batini professores de direito da FGV. 

Outros dois grandes especialistas do Direito, os professores Juarez Tavares (UERJ - professor visitante na Universidade de Frankfurt am Main - Alemanha) e Carol Proner (UFRJ – Professora de direito internacional) estão organizando um livro que se ocupará de criticar a sentença de Moro em diversas áreas do direito, para tanto o livro contará com a participação de outros 98 juristas. 

Como se pode ver, a crítica a Moro NÃO É feita apenas por “especialistas do face”, existe uma gama de juristas que não só leram a sentença, mas acompanharam o processo. Moro não é o justiceiro que alguns pregam ser, mas não é o juiz imparcial que o Estado Democrático de Direito requer que seja. Não há nada que justifique um juiz de primeira instância (ou de quaisquer instâncias), receber 77 mil reais de salário, quando o teto constitucional é de 33 mil. (Não acredita? Veja aqui: http://odia.ig.com.br/noticia/brasil/2015-08-22/salario-do-juiz-sergio-moro-em-abril-passou-de-r-77-mil.html). Segundo alguns juristas há uma grande chance da sentença de Moro a Lula sofrer forte alterações na 4ª Região (TRF4) em Porto Alegre, outros dizem que, devido as falhas processuais, o mesmo pode ser anulado. 

Claro, Lula ainda terá que enfrentar Moro em outros processos, e, caso haja reviravoltas no caso do triplex em favor de Lula, as próximas sentenças de Moro poderão perder força. Faz-se necessário refletir sobre as relações de forças que serão exercidas no intuito de pressionar os magistrados de Porto Alegre para ratificar a sentença de Moro. Se o colegiado de desembargadores irá, como Moro, preocupar-se com a opinião pública, ou limitar-se aos autos do processo. 

Jonatas Carvalho

domingo, julho 02, 2017

25 ANOS

Historicamente 25 anos não são nada, apesar de hoje haver campos dentro da história que analisam essa “história recente” ou “presente”, por vezes ocorrem dificuldades metodológicas, dentre outras. Já geologicamente 25 anos é como uma poeira de tempo, algo insignificante, as análises geológicas geralmente trabalham com milhares e milhões de anos. Na astrofísica não é diferente, do dia que você nasceu até completar 25 anos, uma estrela como o sol percorreu, numa velocidade de 225 km por segundo milhares de quilômetros, um pequeno espaço de tempo em torno da via láctea, já que para ele completar a volta nessa velocidade levaria duzentos milhões de anos.


Mas para a espécie humana 25 anos representa muito tempo, há alguns anos esse número era praticamente a metade de uma vida, uma vez que a expectativa de vida era muito inferior a que temos hoje. Para nós humanos esse tempo de vida representa anos de aprendizagem, um jovem aos 25 anos geralmente já está inserido no mercado de trabalho, alguns conseguem chegar nesta idade com faculdade concluída e com uma carreira pela frente. 

Mas dos 25 aos 50 é que chegamos à maturidade, é claro que idade nem sempre significa maturidade. Há quem amadureça com a vida e quem não aprende com ela. Se há um sinal evidente da maturidade é a máxima socrática, isto é, saber nada saber. Alguém escreveu certa feita; o homem chega aos oitenta anos certo de que, hoje aos oitenta ele sabe pelo menos a metade do que imaginava saber aos quarenta. 

Em 25 anos muita coisa pode acontecer, embora, muitos não cheguem a essa idade, as estatísticas de homicídio no Brasil, por exemplo, uma das taxas mais elevadas do mundo diz que 28,9 de cada 100 mil habitantes são assassinados por ano, o púbico mais afetado aqui são homens jovens e negros, no mundo do tráfico de drogas, na guerra às drogas, esses jovens morrem antes dos 26 anos. 

Todavia, 25 anos é muito tempo, ainda sim, pelo menos para mim, parece que foi ontem que eu estava com 25. Quantas experiências podemos acumular nesse período? Podemos constituir família e ter já filhos adentrando a vida adulta, podemos consolidar nossas carreiras, podemos viver vários amores, reencontrar amores da juventude, reviver amores, podemos nos reinventar mais de uma vez. Alguns olham para os últimos 25 anos e lamentam mais que se orgulham, outros sentem-se plenamente satisfeitos. Há quem mudaria tudo se pudesse voltar no tempo, há quem diz que faria tudo de novo. A verdade nua e crua é que só temos uma vida e que não há nada que possamos fazer que altere nosso passado. 

O que se pode fazer então? Aprender com ela: a vida. Nossos tropeços podem ter grande utilidade nisto. Projetar nossos próximos 25 anos e viver como se fosse possível alcançá-los. Sem abrir mão de viver o hoje, pois há quem aposte tanto no futuro que esquece do presente. Se seus últimos 25 anos não foram como você queria, eis que a vida lhe proporciona; se ainda há vida, há possibilidades. Não me refiro aqui a essa bobagem de palestras motivacionais, de ideais de sucesso social, não me refiro a fórmulas comerciais como “o segredo”, pois não há segredos nem fórmulas, assim como não há conspirações do universo, planejamentos divinos, destino.... 

Cada um de nós é capaz de dar significado a sua própria existência; então encontre o seu. Busque-o sem pressa, seja um admirador do cotidiano, das coisas simples, se interesse por pessoas comuns, não por mitos e heróis de novelas. O filósofo macedônico, Aristóteles, trezentos anos antes de Cristo, já nos ensinara que somos a única espécie no mundo com capacidade de contemplar o belo, de admirar. Logo, é urgente que aprendamos a desenvolver e usufruir essa habilidade. A beleza é desse mundo, é terrena, é humana, cabe a nós localizá-la, nos cercarmos dela. Assim quem sabe os próximos 25 anos serão uma acumulação daquilo que há de mais fantástico da existência humana....viver.

Jonatas Carvalho.