Neste último domingo, dia
internacional da mulher, viajei para Belo Horizonte com meu velho pai com
objetivo de deixá-lo alguns dias sob os cuidados da minha irmã e meu cunhado.
Estávamos conversando sobre diversos assuntos quando fomos surpreendidos por
sons de batidas em panelas e gritos de “fora Dilma”, só mais tarde me dei conta
que o evento fora uma reação ao discurso da “presidenta” em cadeia nacional.
Quando disse que fomos
surpreendidos, não me referi ao ato em si. O “panelaço” que por aqui durou
entre 10 e 15 minutos não me causou qualquer espanto, achei até coerente que os
moradores da região da Savassi, área nobre de Belo Horizonte, do alto de seus
belos prédios, cujos apartamentos variam entre 1 e 3 milhões, com duas vagas de
garagem para guardar com segurança seus automóveis importados, expressassem seu
ódio pelo atual governo.
Não vou aqui tentar explicar os
motivos de todo esse ódio, o teólogo Leonardo Boff já explicou isso com muita
propriedade em um artigo recente no portal Carta Maior (quinta feira, dia 5, ou
você também pode ver aqui: http://www.jb.com.br/leonardo-boff/noticias/2015/03/09/o-que-se-esconde-por-tras-do-odio-ao-pt-ii/),
mas cabe refletir um pouco sobre quem fomenta esse ódio, isto é como ele foi
produzido e quem se encarrega de alimentá-lo.
Não vou aqui recorrer à primeira
república para explicar a divisão social do país, vou me concentrar em um
exemplo mais recente; no papel da grande no apoio ao golpe contra João Goulart.
Se compararmos as “manchetes” nos grandes jornais em circulação hoje (vale
lembrar que as principais manchetes são elencadas pela grande imprensa, logo,
são selecionadas como “principais acontecimentos do país aqueles tópicos que
coincidem com os interesses das elites e não do grande público), encontraremos
grandes semelhanças com o que víamos nos anos de 1963 e 1964. Aqui vão alguns
exemplos:
“A Nação não mais suporta a permanência do sr. João Goulart à frente do
governo”, bradava o editorial de 1° de abril, do extinto Correio da Manhã, sob
o título “Fora!”
Na capital paulista, a imprensa
seguia o mesmo padrão. “Magalhães: hierarquia e disciplina estão em perigo”,
estampou, na véspera do golpe, a Folha de S. Paulo.
Mas não foi isso, a grande
imprensa também reagiu fortemente contra medidas da política social de Goulart,
dentre as mais visadas; a reforma agrária. Todavia, políticas em prol dos
trabalhadores também foram seriamente criticadas. Como foi com o projeto de
pagamento do 13º salário.
Você pode até achar que não há
quaisquer relações entre o que ocorreu em 1964 com o que vem ocorrendo hoje,
afinal os militares nos livraram do comunismo! É exatamente sobre isso que se
trata, a grande imprensa pintou Jango de vermelho, todos os dias dezenas de
notícias se espalhavam pelo país atemorizando os brasileiros sobre os perigos que
o Brasil corria caso Goulart permanecesse.
O mesmo ocorreu na disputa
presidencial de 1989 entre Lula e Collor, na época, só a Veja publicou diversos
números para “criar um Collor” que agradasse as elites. Um duelo desigual, cujo
ápice foi o debate editado pela Globo na véspera da eleição e que culminou na
derrota do Lula.
Hoje, você diria que isso não é
mais possível, por que a grande imprensa não tem mais tanto poder de
influência. Está enganado. É óbvio que temos uma mídia alternativa, que a
população de massa crítica é maior nos dias atuais, mas o Jornal Nacional ainda
é o principal veículo de informações e notícias no Brasil. Quanto às elites,
elas passam o dia assistindo a Globo News que funciona como um carregador de energia
do ódio. Eles reverberam as baboseiras anunciadas por Willian Waack, Merval,
Noblat, Sademberg, Paulo e outros ultra direita.
Será que não tem nada de bom
ocorrendo nesse país? O Brasil é a Petrobrás e só? Quanta informação tem sido
omitida nestes últimos meses. Quantos escândalos de corrupção foram colocados
por baixo dos tapetes das grandes emissoras. O caso da lista de Furnas, os
trens de São Paulo, a Sabesp, as greves no Paraná e o HSBC (ou por que o PSDB
não apoiou a CPI deste banco)... já ouviu ou leu algo sobre? Algum grande
veículo investigou? Nenhum deles foram alvo do jornalismo investigativo do
Fantástico? Claro que não. Mas um pequeno bando de burgueses batendo suas
panelas de luxo e gritando de seus arranha-céus merece destaque na primeira
página.
Você provavelmente não leu a
respeito da publicação da 2ª Edição do Atlas da Exclusão Social no Brasil,
de Márcio Pochmann, leu? Então você
não deve ter noção das mudanças ocorridas neste país na última década, tem? Segundo
Pochmann, pela primeira vez na história temos uma tríade convergente. O que
seria isso? A combinação de crescimento econômico, com democracia política e
distribuição maior da renda. Às elites, só interassa o crescimento econômico.
Jonatas Carvalho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário