Fiquei me perguntando sobre as razões para a turma de verde e amarelo voltar às ruas no próximo dia 31. Por um brevíssimo momento, um sopro de ingenuidade passou pela minha cabeça. Pensei com meus botões: Esse povo finalmente acordou! Agora sim o Brasil verá uma mudança! Essa gente que lotou as ruas deste país pedindo pelo fim da corrupção voltará a bradar! Eu não conseguia entender todo esse silêncio desde o afastamento da presidenta.
Mas o que importa é que o silêncio será quebrado. Consigo até imaginar uma pauta de ações, uma série de palavras de ordem, um movimento de ataque a todo tipo corrupção. Imagino o povo clamando pelo andamento do processo de impeachment do Temer, paralisado por Eduardo Cunha e seu curto sucessor Waldir Maranhão. Vejo cartazes levantados pedindo por investigações por conspiração e obstrução da justiça, por parte de Romero Jucá, Renan Calheiros e José Sarney. Contemplo a massa verde e amarela pedindo a saída do ministro Alexandre de Moraes, o violento ex secretário de segurança do governo Alckmin, associado ao PCC e a Eduardo Cunha, que acumula também a pasta das secretarias da Mulher, Igualdade Racial e Direitos Humanos. Ah claro, imagino ainda a massa enfurecida cobrando por investigações contra o inócuo Senador Aécio Neves, por ser citado dezenas de vezes nos grampos telefônicos nas investigações da Polícia Federal no caso Lava Jato.
Divagando um pouco mais, sonhei acordado com as ruas tomadas e a população cobrando pela lisura da grande imprensa, pedindo o fim da seletividade das investigações da Lava Jato, o listão da Odebrecht recolhido pela PF na casa de Benedito Barbosa um dos diretores da megaempresa. Sonhei, também, com um coral de vaias contra o Congresso Nacional e seu atual presidente Deputado Rodrigo Maia (DEM), pelo acordo com o PSDB e PSB para encerrar a CPI do Carf, dirigindo as mesmas vaias ao Senado Federal pelo desonrado desfecho da CPI da CBF, cujo relator foi o Senador Romero Jucá.
Continuei viajando quanto à possibilidade de que nosso povo não é inepto, que não são manipuláveis ao ponto de engolir a malfadada trama contra a democracia articulada pelas elites representadas em um pato amarelo. Mas ao abrir às páginas dos grandes jornais nacionais de hoje, eu despertei. Não é coincidência que o Lula voltou a figurar em letras garrafais na grande imprensa. Há poucos dias da votação da Comissão Especial do Senado (dia 04/08) para decidir a continuação ou não do Impeachment de Dilma Rousseff, a grande mídia repete seus artifícios, massacrar a população com escândalos de corrupção de um único partido; o PT.
Para o meu desalento, volto à realidade. A massa verde e amarela que volta a ser convocada às ruas, não vão pedir o fim da impunidade e da corrupção, vão apenas pressionar o senado a terminar de destruir politicamente a presidenta. Pouco importa um presidente interino usurpador, pouco importa se programas de educação como o Ciência Sem Fronteiras serão extinguidos, pouco importa se as demarcações das populações indígenas e quilombolas retrocedam, as pessoas de verde e amarelo não ligam se a classe trabalhadora perderá direitos que lutaram por décadas para conquistar. Os verdes e amarelos estão visando apenas a ponte para o futuro e quanto menos pobres no futuro melhor.
Jonatas Carvalho é mestre em História pela UERJ.
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