Não pretendo fazer desse texto uma homenagem ao dia do professor. Isto porque penso que temos muito o que lamentar, as incertezas da profissão cada vez são mais certas, as esperanças de uma mudança a médio prazo, duvidosas. Tão pouco vejo sentido na ideia de vocação, em nome da vocação devemos tudo suportar, até a total desvalorização da categoria como uma classe trabalhadora? Temos que admitir ser chamados de vagabundos por políticos corruptos? Precisamos conviver com o descaso do Estado e a invisibilidade por parte da sociedade? E ainda ter de lidar com as ameças de corte das "aposentadorias especiais", do Escola Sem "Partido", da violência na escola por parte de alunos, da violência nas ruas, em manifestações por dignidade, por parte da polícia (que ali é a representação do Estado). A ideologia da vocação, essa sim deve ser combatida, permite que as pessoas afirmem que se escolhemos essa profissão o fizemos consciente, ou seja, sabendo das dificuldades e da baixa remuneração. Esta ideologia que faz com que Geraldo Alckminn faça pronunciamentos dizendo que professor deve trabalhar por amor e não por dinheiro. Há muitas razões pelas quais as pessoas escolhem esta profissão, e claro, amar o que faz deve ser prerrogativa em qualquer profissão, nem por isso devemos nos acomodar com as injustiças que imperam na nossa categoria. A ideologia da vocação, foi utilizada para associar o magistério a uma vida de sacrifícios, um sacerdócio, hoje com tantos sacerdotes vivendo no luxo, a vocação faz cada vez menos sentido.
Então por que continuar? Por que se submeter a ganhar R$ 15, 20, ou 30 por horas/aulas? As possibilidade de respostas a essas e outras questões são vastas também. Eu diria que uma delas, aquela que me comove, que me faz esquecer por um momento todas as agruras da profissão, está na ralação com os alunos, claro isso é subjetivo, há colegas meus que hoje entram de costas na sala de aula e eu os entendo. Mas sou um admirador da espécie humana e não conheço nada mais fantástico do que olhar para nossa espécie no período em que ainda não estamos prontos, estamos nos descobrindo, procurando uma identidade. Me sinto privilegiado de poder contemplar as mudanças e transformações que ocorrem nas interações humanas. Não acredito que temos o poder de mudar as pessoas, por isso me vejo como um expectador, o que não significa que não podemos orientar tais processos de mudança, mas muda aquele que se permite mudar.
Na última sexta-feira sai feliz da escola que leciono, Dinâmico Centro de Ensino. Minha última aula para a turma do 3º ano, não foi sobre o Enem, dediquei algum tempo para falar sobre a vida. Sobre os desafios de viver bem, de viver em paz consigo, de ir em busca da felicidade. Falei-lhes das armadilhas psíquicas que criamos para não seguir em frente, que geralmente somos impedidos não por algo concreto, mas emocional. O que nos impede de ser feliz concretamente? Os grilhões, os muros que nos detém, não são reais, são construídos dentro de nós. viver bem é a arte de saber que não podemos ser contidos por essas barreiras, é não se permitir deixar de caminhar por achar que não vamos chegar. O olhar atento e o silêncio, me fez crer que aquele conteúdo era mais importante do que saber o método cartesiano ou as cinco vias de Aquino.
Defendo e defenderei minha categoria e muitas outras que por ai encontram-se marginalizadas no nosso modelo capitalista, me recuso a ser um professor que prepara mão de obra para o mercado de trabalho, quero compartilhar uma educação para vida.
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