domingo, abril 06, 2025

A DIREITA ECONÔMICA BRASILEIRA E O FIM DE BOLSONARO.

    Neste domingo de frio em São Paulo, o DataFolha publica uma pesquisa que esfria ainda mais a vida política de Bolsonaro. A matéria que chama a atenção para a pesquisa tem o seguinte título: "67% afirmam que Bolsonaro deveria abrir mão da candidatura." No subtítulo, o instituto revela que "Michelle e Tarcísio são os nomes mais citados" entre os possíveis candidatos que o ex-presidente deveria apoiar.

    Uma manchete aparentemente informativa é, na verdade, parte da máquina de propaganda que a direita econômica (por direita econômica, refiro-me aos conglomerados de mídia, agroexportação e especulação financeira) vem produzindo já faz algum tempo. Quando, em fevereiro deste ano, o Fantástico dedicou uma longa matéria expondo "áudios inéditos" sobre a trama do golpe para matar Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes, eu não tinha mais dúvidas de que Bolsonaro havia sido abandonado.

    Ao longo dos dois últimos anos, a direita econômica esteve lado a lado com Tarcísio de Freitas, com um apoio poucas vezes visto. O governador de São Paulo recebe as benesses d**'O** Folha e d**'O** Estadão diariamente. O PIG (Partido da Imprensa Golpista), para relembrar um velho jornalista, não permite que qualquer mancha de sangue (da corrupção e associações criminosas do governador) chegue aos seus leitores.

Fonte: ICL - (Foto: EVARISTO SA / AFP)
    Nesta semana, duas novas personagens emergiram no cenário para lançar luz sobre a opção por Tarcísio. A primeira, José Dirceu (PT), em um evento sobre o Golpe de 1964, afirmou que a "Elite de São Paulo" já havia abraçado Tarcísio. Do outro lado, o senador Ciro Nogueira (PP), em conversa com representantes da Faria Lima que estavam preocupados com a possibilidade de terem que contribuir mais com o imposto de renda, alegou que "uma candidatura de Tarcísio de Freitas com o apoio de Bolsonaro, inelegível, venceria até no Nordeste".

    Mas, para Tarcísio ascender, é preciso lançar Bolsonaro ao precipício. Na minha avaliação, este é o grande jogo, com muitas peças e movimentações. Enumerarei aqui algumas: um movimento eu já destaquei acima, isto é, trata-se de elevar a imagem de Tarcísio como um político moderado e competente; seus "sucessos" como governador do Estado mais poderoso do Brasil o colocariam como o mais preparado para a presidência. Por outro lado, é necessário abrir candidaturas à direita em outros Estados. O discurso de Caiado, Ratinho Júnior ou mesmo Zema contra Lula e o PT será fundamental para não permitir uma recuperação da aprovação do governo petista. No tempo certo, esses pré-candidatos da direita se uniriam numa aliança pró-Tarcísio.

    Finalmente, um movimento absolutamente fundamental: a aceitação da Primeira Turma do STF em tornar Bolsonaro (e seu staff) réus. Ao longo de 2025, o ex-presidente irá sofrer enormes perdas de popularidade; o PIG trará inúmeras reportagens especiais revelando as imundícies da família do ex-presidente e o pressionará a se render a Tarcísio. Para não haver dúvidas, não estou sugerindo que o STF será usado como uma peça que a Direita Econômica utilizará – ao contrário, estou sugerindo que o Supremo é parte integral do jogo. Não creio que eu precise lembrá-los de que este é o mesmo Supremo que manteve Lula preso e o impediu de disputar uma eleição em que ele liderava nas pesquisas, só porque, na ocasião, esta mesma Direita Econômica havia optado por Bolsonaro e Paulo Guedes.