É véspera dos dias dos namorados, estamos em casa, eu escrevo um texto sobre a transitoriedade da vida, no fundo do quarto a TV ligada sem qualquer finalidade, até que escuto o anúncio de um filme da Warner Bros, “As pontes de Madison.” Não é necessário dizer que se trata de um clássico, dirigido e estrelado por Clint Eastwood e com Meryl Streep.
Este é um filme de uma sensibilidade singular, se eu pudesse defini-lo numa máxima, utilizaria Fernando Pessoa: “O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que elas acontecem, por isso há momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.”
Eu poderia arriscar que o cerne deste filme esta no quanto alguns de nós nos privamos de nossos sonhos em função de escolhas convencionais. A convencionalidade, no entanto, não significa amarrar uma pedra no pescoço e pular no rio. Muitos são felizes vivendo de forma convencional, isto é, seguindo o que nossa sociedade chama de comportamento padrão esperado; estudar, trabalhar, pagar impostos, casar, criar filhos, aposentar e morrer. Não estou certo, contudo, se há realmente algo de convencional nesta sequência (Saudades da velha ortografia!!), visto que as implicações para tal processo são extremamente complexas. O fato é que alguns realmente não sonham com uma vida assim e a acabam vivendo desse modo por força da tradição ou falta de coragem em ir ao encontro daquilo que realmente querem.
Por que escolhemos o convencional? Ai temos outra grande sacada do filme, talvez seja por sermos culturalmente lavados a buscar a eternidade em tudo, menosprezamos os momentos, os acontecimentos ou tudo mais que não nos traga certezas estáveis. Creio que seja por isso que fico imaginando que o amor platônico entre a dona de casa e um fotógrafo da Nacional Geografic, se realimentou do sonho do que poderia ter sido aquela relação, assim como em Abelardo e Heloisa. Afinal fazemos isto com as coisas de um modo em geral, isto é, imaginamos como teria sido nossas vidas se tivéssemos feita a outra escolha, se não tivéssemos desperdiçado aquela oportunidade.
Não quero fazer pouco caso do amor ou da paixão, mas em As Pontes de Madison uma coisa me chamou mais atenção que a relação entre a dona de casa e o fotógrafo viajante. A trama é ricamente desenvolvida a partir da leitura do diário da mulher, leitura esta, que é feita por seus dois filhos, na verdade um casal. O que me impressiona no filme é como cada filho irá reagir àquela história guardada em segredo pela mãe até a sua morte. Os filhos, agora adultos, vivenciando as problemáticas da relação a dois, olham para suas próprias vidas, e percebem que é necessário fazerem algo com relação a seus relacionamentos. A questão é que este algo a fazer, se estabelece de modo completamente distinto, na verdade suas ações chegam a ser paradoxais. Imbuídos em não repetirem a história da mãe, resolvem agir para mudar suas realidades, a jovem, porém, liga para seu marido e anuncia que não deseja mais continuar casada com ele, enquanto o rapaz corre para os braços de sua esposa, prometendo fazê-la feliz até o fim dos seus dias.
Arrisco-me novamente a outra máxima, desta vez de Sartre: “O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário