segunda-feira, agosto 09, 2010

Papo Reto


Existem algumas coisas constrangedoras na vida, como deixar cair a dentadura dentro da taça de champanhe no momento em que se brinda a saúde de alguém, perder a parte de cima do biquíni em pleno domingo na praia ou sofrer um impeachment por causa de umas sessões de boquete da secretária.
Um amigo meu, (pretendo manter seu anonimato para evitar constrangimentos posteriores) vem passando por algumas situações nada agradáveis desde que seu reto passou a lhe incomodar. Tudo começou com uma coceira intermitente, provocando um desconforto duplo, pois além da coceira em si, meu amigo ainda precisava encontrar meios que não chamassem muita atenção para coçar.
Alguns dias depois, meu amigo acordou e como de praxe foi dar aquela barrigada matinal, foi um sofrimento só. Após ter terminado, me enviou um e-mail com a seguinte questão: Um chinês vai ao banheiro e após muito sofrer descobre que está com hemorróidas, qual é o nome do filme? Não sei! Respondi. Resposta: Ku-chaixangui. A piada é sem graça, mas o termo hemorróida deriva do grego antigo αἱμορροΐς (aimorrois), composto de αἷμα (aima) "sangue" e ῥέω (reo) "escorrer"). Na prática trata-se de uma disfunção no sistema circulatório resultando na dilatação anormal das veias da região anal.
Conforme me relatou posteriormente (e confidencialmente), após entupir seu ânus com pomadas de erva de passarinho por uma semana sem resultados e ser pressionado pela esposa a procurar um proctologista, meu amigo decidiu marcar uma consulta (também contribuíram para tal decisão; a dificuldade de sentar, de defecar, além das dores incessantes e as brincadeiras de mau gosto por parte dos próprios familiares).
Tudo que ele queria é que o tal especialista tivesse dedos finos. Em um primeiro momento, meu amigo iludia-se com a idéia de encontrar uma proctologista, sabia, contudo que se tratava de uma quimera. Em outro momento imaginou um proctologista bem magro, gentil e gay. Em seguida, porém, desfez o pensamento, ao cogitar que um proctologista gay pudesse ter algum tipo de tara pelo ânus alheio. Por fim, meu amigo limitou-se a agendar a consulta com o único especialista que constava na lista de seu plano de saúde.
A ida ao médico foi um constrangimento só, o ônibus estava vazio, ao lado da esposa e da sobrinha de seis anos meu amigo se contorcia de dor, não agüentando mais levantou-se no meio do caminho dizendo a sobrinha que seu joelho doía. A partir daí foi uma dupla tortura, a dor contínua e a expectativa de adentrar o consultório médico.
O momento tanto aguardado chegou, meu amigo que já ficara satisfeito ao ouvir o médico lhe chamando na hora certa, coisa rara hoje em dia. Ao entrar pela porta observou discretamente o homem de jaleco branco em sua frente, seus olhos focaram as mãos do doutor, foi amor a primeira vista e apesar do anel exagerado de ouro, as mãos eram normais, com dedos nem grossos nem finos, apenas normais.
O médico demonstrou sensibilidade, ao saber que estava com dor, disse ao meu amigo que não faria qualquer toque, apenas queria olhar. Mal saíra do consultório, a esposa preocupada ligou querendo saber como tinha sido no médico. Ele respondeu que a única coisa que o preocupava era o exame que o doutor lhe mandara fazer, começava com RETO seguido de um palavrão indecifrável. Mais tarde descobrira que o tal palavrão era RE-TOS-SIG- MO- DOI – SCO- PIA, isto mesmo retossigmodoiscopia.
Agora a agonia do meu amigo é saber como é feito este exame, pelo nome não deve ser nada bom.

Jcarval.

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