Amanhã Trump e Putin irão se encontrar no Alaska. Analistas de diversas áreas buscam (desesperadamente) dar o "furo" antecipado. O que quer Trump? O que ele espera de Putin? Pior, como Putin, depois de ser tantas vezes ameaçado e enganado, ainda espera algo de Trump? Amanhã será selado o fim definitivo do conflito na Europa, uma longa trégua, ou adentraremos de vez em um cataclisma militar-nuclear?
HISTOSOFIA
quinta-feira, agosto 14, 2025
TRUMP E PUTIN NO ALASKA: PAZ OU FIM DO MUNDO?
sexta-feira, julho 25, 2025
O REI ESTÁ NU: TARIFAS, SANSÕES E OUTROS CAMINHOS PARA A TERCEIRA GUERRA MUNDIAL.
Um relevante trabalho dos historiadores é investigar não o que é dito, mas o que não é dito (ou escrito). O "não dito" é aquilo que não está implícito nos discursos, isto porque, o que se quer é apontar para outro lugar, assim, quando os olhares do público são conduzidos para este outro lugar pelo o que é dito, o "não dito" opera por diversas formas sobre onde se quer operar. Por exemplo, as diversas situações em que os EUA chamaram a atenção do mundo sobre algum "vazamento top secret", sobre "OVNIs", com direito à militares do Pentágono dando explicações e entrevistas, e as redes de notícias mostram em "primeira mão", imagens "obtidas", em que um suposto objeto voador não identificado aparece; é para lá que nossos olhos são conduzidos. A produção desse desvio do olhar, tem, evidentemente, um objetivo claro: reduzir, minimizar ao máximo, um tipo de escândalo que teria potencial para desgastar fortemente a imagem do governo, do presidente, das empresas...etc.
O "não dito", está em todo lugar, nos documentos oficiais e extraoficiais, nas declarações dos governos, nos memorandos das empresas, e recentemente, claro, no "X" (Twitter). Foi assim que golpes de estado, massacres e guerras tiveram início, meio e fim. A questão para nós historiadores, não é exatamente o que é nomeado ou como se nomeou algo, mas o que essa nomeação esconde, oculta, ou tenta evitar que se mire sobre os reais interesses.
O Sr. Trump sabe muito bem fazer esse jogo. Exatamente por isso, quando ele diz que vai taxar o Brasil porque nosso país está realizando uma "caça as bruxas", que Jair Bolsonaro é seu amigo e foi ótimo para o Brasil, certamente não devemos desconsiderar tais motivações, mas buscar compreender porque ele utilizou tal retórica e não outra. O objetivo de Trump é claro, trata-se de desviar a intenção e o foco. Bolsonaro é o OVNI, isto é, o lugar da contenda, os grupos políticos entram em cena, se digladiam contra e a favor, os jornais não param de noticiar, "novas revelações" emergem, adicionando mais "lenha na fogueira", enquanto o caos se instala, o "não dito" opera silenciosamente.
Tem sido assim há muito e muito tempo, mas para ficar em eventos mais recentes, posso lembrar-vos de que a "Guerra Rússia X Ucrânia" (que não é exatamente um conflito entre Rússia X Ucrânia) não tem ralação com a Ucrânia, assim como o extermínio dos Palestinos impetrado por Israel, não é sobre os Palestinos (ainda que estes paguem o preço com as próprias vidas), e, certamente os ataques desferidos contra instalações nucleares iranianas não são sobre o Irã produzir bombas nucleares.
Que raios quer então Trump com seu "tarifaço"? A resposta (especulações) a esta questão tem sido respondida desde o primeiro anúncio de tarifas à China, até agora, no entanto, nenhuma resposta encerrou suficientemente às intenções "por trás das tarifas". Manipulação da bolsa de valores? A vingança das big techs? As articulações dos BRICS? Terras raras?
Uma avaliação mais ampla, consideraria vários cenários. A crise da economia neoliberal ocidental escancara sua moralidade torpe e cruel. O ocidente sempre se comportou desta forma, mas agora existem meios de comunicação fora de ocidente que conseguem demonstrar sua vileza: o rei está nu. O livre comércio e a sociedade baseada em regras, uma ideologia (o dito) que esconde a verdadeira fonte da riqueza do Ocidente Coletivo: colonização e a espoliação (o não dito). Não foi com base em trocas comerciais que as nações europeias construíram seus palácios, templos e museus. Foi com navios de guerra.
A ideia da autodeterminação dos povos, que deu origem à conferência de Bandung (Indonésia - 1955), finalmente começa se concretizar — não sem lutas e mortes — Ásia e África se tornam cada vez menos dependente da Europa e dos EUA, os BRICS (atualmente formado por onze países), são a consolidação deste projeto cujas bases são: China, Rússia, Índia, África do Sul e o Brasil.O que fará o Ocidente para frear os avanços e a autonomia do Sul Global? Uma Terceira Guerra Mundial. Será? Vejamos o seguinte, as chamadas guerras longas, impetradas pelo Ocidente, estão em curso há décadas, porém a estratégia mudou com a ascensão do BRICS. A Europa se prepara para um guerra direta contra o Rússia por volta de 2030 — não sou eu que afirmo isso, alguns analistas de geopolítica têm discutido este tema — o conflito contra a Ucrânia, serve assim, para desgastar os Russos, conhecer suas táticas para no futuro a OTAN entrar diretamente na guerra. A "saída" (ou o distanciamento) dos EUA do conflito, obrigando a UE a ampliar para 5% os recursos de seus PIBs em engenharia bélica — que por sinal será comprada de empresas estadunidense — é a preparação para o front oriental. Esta estratégia irá impulsionar a indústria armamentista estadunidense e dar-lhe condições de se preparar contra a China — o front asiático.
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Criador: halalstock Crédito: AI-generated image created by halalsto |
As guerras no Oeste da Ásia (ainda conhecido como oriente médio), cujo "proxy" principal — guerra por procuração — é Israel, visam enfraquecer as relações que Rússia e China vinham construindo na região, especialmente com o Irã. O projeto anunciado por Netanyahu da criação de um "Novo Oriente Médio", o chamado "Acordo de Abraão", e que conta com o apoio de países como os Emirados Árabes Unidos e Bahrein, requer a eliminação das oposições, a dominação do Líbano e da Síria, assim como os ataques ao Irã teriam por objetivo avançar o acordo. Enfraquecer ou mesmo impedir que Rússia e China utilize se beneficie não apenas com as rotas comerciais, mas principalmente que ampliem sua influência no Oeste de Ásia é fundamental para o Ocidente Coletivo.
Juntam-se a estes conflitos outras zonas de tensão, das quais podemos destacar os problemas no sul do Cáucaso, em especial as relações belicosas entre a Armênia e o Azerbaijão, e as instabilidades na Geórgia. Os recentes confrontos entre a Índia e Paquistão em razão da disputa pela Caxemira. E o mais recente conflito, desta vez no sudeste da Ásia, entre a Tailândia e o Camboja em razão do Triângulo da Esmeralda. Tanto os EUA, quanto a China apelaram pela interrupção do conflito, enquanto o primeiro é aliado da Tailândia, o segundo é do Camboja.
Restam-nos as Áfricas e as Américas. Comecemos pelas Áfricas — assim mesmo no plural — o domínio ocidental cada vez mais enfraquecido, mais ameaçado, irá, certamente, fazer de algumas regiões africanas mais suscetíveis à instabilidades e guerras. Mas as novas lideranças africanas estão fazendo renascer o Pan-africanismo, um exemplo claro é a criação da Aliança dos Estados do Sahel (AES) em 2023, que envolvem países como o Mali, Níger e Burkina Faso. Os Estados do Sahel se uniram contra a influência da França na Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO). Para se ter uma ideia, "oito dos quinze Estados da Cedeao ainda usam o franco (CFA), moeda controlada pelo Banco Central Francês, que retém 50% das reservas internacionais desses países e cobra taxas de gestão" (Veja artigo de Marcelo Leal). Ocorre que os países da AES foram recebidos pela cúpula do BRICS no Rio de Janeiro, não como membros, mas como parceiros, com direito a uma linha de crédito de quinhentos milhões de dólares que irá vir do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB). Esta é uma das situações que vem deixando o Ocidente pânico, a influência da Rússia e, sobretudo, da China no continente Africano vem aumentando significativamente, os chineses tem investimentos em infraestrutura em mais de trinta e cinco países por lá (Veja mais aqui).
Os conflitos no Sudão (região do Sahel) e na Somália, além claro, do Congo existem para que a instabilidade impeça o fortalecimento de lideranças nacionalistas capazes de romper os laços com o Ocidente Coletivo ao mesmo tempo em que dificultam o acesso da Rússia e da China nestas regiões. Por último, justificam interferências e intervenções por parte do Ocidente, "ajuda humanitária" e outras atividades que as ONGs ligadas a USAID no continente Africano.
Nas Américas, parece que a bola da vez é o Brasil, mas ele não é o único. Os países americanos sofrem interferência dos EUA há pelo menos um século. Mas foi no período da Guerra Fria que as intervenções diretas vieram, com as ditaduras civil-militares que se espelharam pela América Latina e Brasil, até a Operação Condor em 1975. Ao longo desse período os EUA encontraram outra forma de intervir nos seus vizinhos de baixo, a chamada "guerra as drogas" virou um prato cheio para que as administrações estadunidenses passassem a operar de dentro dos países americanos.
O Brasil, contudo, virou um grande alvo dos EUA. O real motivo? Sempre será econômico. Foi assim com Vargas — que se recusou a internacionalizar a Petrobrás — , foi assim com Dilma — pelo mesmo motivo. Hoje, na medida que o Brasil busca por mais autonomia, que expande seu mercado aos países do Sul Global através do BRICS, novamente sofre duras interferências do grande capital ocidental. A mensagem aqui é: vocês não podem fazer comércio com quem bem querem, vocês precisam da nossa permissão, se tentarem, vamos arrasá-los como já fizemos no passado. O que muda são os métodos, em 1964 foi um golpe civil-militar, em 2014 foi a operação Lava Jato, hoje são tarifas e sansões.
Só em 2023, o Brasil assinou quinze acordos bilaterais com a China, ao todo são mais de trinta e cinco acordos em vigor. Um desse acordos visam um estudo de viabilidade para criar uma ferrovia de conectaria Chancay no Peru à Ilhéus (Bahia - Nordeste brasileiro). O projeto — Ferrovia Bioceânica — um grande corredor intermodal que ampliaria as possibilidades de relações comerciais na América do Sul (Pacífico-sul e Atlântico-sul) com o restante do Sul Global, escapando assim, das rotas controladas pelo Ocidente Coletivo.
Quando Trump ataca o Brasil, na prática, ele quer é atacar a China. Os EUA farão tudo o que estiver ao seu alcance para minar o projeto expansionista chinês. A Iniciativa Cinturão e Rota — Nova Rota da Seda — conecta mais de 150 países, destes, 20 são latino-americanos. O Panamá foi obrigado por Trump a renunciar a Inciativa. A Colômbia de Gustavo Petro, aderiu em maio a Iniciativa Cinturão e Rota. Por lá a vida de Petro não está nada fácil, com direito a ataques por parte de Marco Rubio. O encontro pela democracia em Santiago (Chile) nesta semana é uma tentativa das lideranças progressistas (na ausência de uma nomenclatura melhor) de deter os avanços neoconservadores (neocons).
Podemos chamar todos esses movimentos tensionados ou já em conflito aberto que teatro de preparação para uma grande guerra. Se como historiador sou tomado pela ética profissional a não fazer previsões, também como historiador sou levado, pela observação da própria história da humanidade, a reconhecer que existe uma grande chance de experimentarmos um novo conflito mundial, não com as mesmas características dos dois últimos, mas com potencial destrutivo ainda maior. Espero estar errado, torço para que sim. Por que então escrever tudo isso? Para me somar a outros tantos que visualizam tal possibilidade e poder compartilhar com aqueles que não conseguem perceber tais movimentos.
Talvez ocorra na próxima década, não sei, mas o que está em curso hoje já é assustadoramente bizarro.
quinta-feira, julho 24, 2025
A ECONOMIA DO GENOCÍDIO EM GAZA.
Quantos médicos e outros especialistas serão necessários para compelir o Ocidente na detenção do projeto sionista de genocídio? A médica Tanya Haj-Hassan, do Médicos Sem Fronteiras (MSF), mais recentemente, e muitos outros profissionais que estiveram em Gaza, denunciam o projeto genocida liderado por Netanyahu, mas que vai muito além dele. A coordenadora do MSF, Dra. Amande Bazerolle, denunciou que o cerco a ajuda humanitária tem transformado Gaza numa grande vala comum de corpos palestinos.
Centenas de crianças com menos de 5 anos de idade morrem de fome a cada semana, mesmo com a presença de caminhões e caminhões de comida a poucos quilômetros dali. As organizações de ajuda humanitárias foram trocadas por apenas uma: a Fundação Humanitária de Gaza (GHF), liderada por ex agentes da Cia e mercenários estadunidenses. A GHF vem apoiando o pleno de extermínio, seus agentes atiram sem pestanejar nos palestinos famintos e desesperados que se acumulam em torno do pouco alimento que é distribuído.
A relatora especial da ONU, Francesca Albanese vem afirmando o que já defendíamos a muito tempo, o bloqueio econômico é o único jeito de deter os sionistas que controlam o estado de Israel. Isso não significa que se deve abandonar outras iniciativas. Diversas organizações lideradas por judeus no mundo estão crescendo, como Judeus pela Paz e pela Justiça (JPJ), Israelenses pela Pressão Internacional (IPI) e Vozes Judaicas pela Libertação. Ações como a encabeçada pela África do Sul na Corte Internacional de Justiça em Haia — que o Brasil só aderiu agora, apesar de Lula vir contribuindo com a denúncia de genocídio em Gaza há muito tempo — já contam com apoio de mais de 70 países. Apesar da dura repressão nos países ocidentais — nas democracias liberais — as manifestações populares contra o genocídio em Gaza seguem crescendo no mundo.Voltando ao relatório de Francesca Albanese, não é difícil compreender porque o genocídio não é interrompido: ele é altamente lucrativo. São centenas de empresas, de várias partes do mundo e dos mais diversos ramos de negócios. Muito além do setor bélico e industrial, há negócios de tecnologia como biometria, robótica, bancos de dados, entre outros. Aqui enquadram-se empresas como Microsoft, IBM, Google, Amazon... Há ainda aquelas que fornecem, por exemplo, equipamentos pesados de construção e implementos agrícolas, como as enormes retroescavadeiras utilizadas para derrubar as casas dos palestinos e outras máquinas, caminhões que possibilitarão a construção de outro assentamento ilegal — Neste caso temos empresas como HD Hyundai da Coreia do Sul e o Volvo Group da Suécia, dentre muitas outras. Não menos importante, as plataformas de aluguel Booking e Airbnb que contribuem com anúncios de venda e aluguel de casas, condomínios, hotéis construídos em áreas invadidas por Israel. (O relatório chama-se "Da economia de ocupação à economia de genocídio" e pode ser encontrado aqui)
Por fim, o petróleo brasileiro, independente de ter sido vendido pela Petrobrás, ou alguma estrangeira que explora os nossos poços de petróleo, alimenta a máquina de extermínio em Israel, do mesmo modo que o carvão colombiano e da Bright Dairy & Food chinesa. Cito esses exemplos, porque trata-se de três países cujos líderes veem criticando duramente Israel, mas o empresariado destes mesmos países seguem contribuindo com o genocídio. É preciso parar o sionismo e só com um bloqueio total, político-econômico isso será possível. Enquanto isso não ocorrer os sionistas continuaram a limpeza étnica. Ontem, por sinal, o congresso israelense — Knesset — aprovou a "soberania israelense" sobre a Cisjordânia ocupada, um novo genocídio em andamento.
quinta-feira, julho 17, 2025
Poema para João Vicente.
João Vicente, este é o primeiro texto que escrevo para você, o primeiro de muitos que espero escrever. Passar uma semana inteira ao seu lado é simplesmente restaurador. Escolhi escrever este primeiro texto em forma de poesia, porque não consigo ver outra coisa em você: tu és poesia em substância e forma.
Você é a alegria pura, integral,raiz da própria felicidade.
Seu sorriso é um raio que neutraliza qualquer dissabor,
a ternura do seu olhar nos paralisa em êxtase.
A energia que flui por teu corpo pequenino,
cansa o adulto angustiado e faz rejuvenescer a criança em nós.
Na tua companhia, o dia flui como as águas de um rio intocado.
Você é ser que é, ser no mundo,
que impacta nosso mundo e nos transforma.
Expressão maior de uma manhã de sol, dos cantos dos pássaros,
das popas (borboletas) coloridas, do bater veloz das asas dos colibris.
Tu és presente, potência de existir,
que nos impele um futuro marcado de nostalgia.
Diante de ti a vida se expande em esplendor e vigor.
Ao teu lado o tempo desponta em riso e graça.
A minha velhice se esvai,
emerge um outro ser,
onde o sol se põe por entre as montanhas verdes,
onde a noite enluarada silencia toda a apreensão.
João Vicente (Vincentius, vincere), aquele que venceu,
que mobilizou o imobilizado,
que arrancou a razão, fria, calculista e
nos inundou com a força vital do amor.
Inundado, escrevo esses versos.
Desmobilizado, me rendo ao teu encanto.
Vovô Jonão.
sexta-feira, julho 04, 2025
O "COMBO DA MAMATA": MUITO ALÉM DO CONGRESSO.
terça-feira, junho 17, 2025
O IRÃ DA VEZ ou A VEZ DO IRÃ.
Todo historiador que preza seu ofício sabe que qualquer elaboração sobre o conflito entre sionistas e persas, em pleno fogo cruzado, configuraria uma análise pouco precisa. Basta pensar nas avaliações dos "analistas" na ocasião da eclosão do conflito entre Rússia e Ucrânia. Quanta bobagem foi proferida.
Isso não quer dizer que seja impossível fazer uma leitura minimamente razoável da situação. Mas sempre estaremos no campo das possibilidades e projeções, em especial quando se trata de futuros desdobramentos. Mesmo aqueles que avaliam as "causas", neste momento, correm o risco de se equivocar.
Para começo de conversa, toda análise que pauta o conflito a partir do "acordo" interrompido entre Irã e EUA — isto é, que o ataque sionista tinha como único objetivo "interromper" ou "forçar" os persas a assinarem o acordo — pode estar ignorando um cenário mais amplo. A história pode ser muito mais complexa e tem rastros mais longínquos.
Se tivermos que demarcar uma temporalidade, eu diria que poderíamos iniciar com a invasão de Gaza, em 2023, onde, certamente, um dos objetivos era enfraquecer o Hamas. Mas havia outras razões, entre elas a descoberta de reservatórios de petróleo e gás na Área C da Cisjordânia e na costa mediterrânea de Gaza, com estimativas iniciais de 122 trilhões de metros cúbicos de gás e 1,7 bilhão de barris de petróleo recuperável.
Então, se olharmos esses movimentos, podemos pensá-los como uma preparação de médio prazo: primeiro, era preciso enfraquecer os grupos de apoio ao Irã para, depois, atacar o coração da resistência ao projeto sionista. Fica então a questão: qual o momento certo para atacar o Irã? Provavelmente em meio aos impasses nas negociações com os EUA de Trump. Era preciso retomar as negociações, impor um acordo inegociável, para que Israel pudesse alegar um "ataque preventivo" e cometer mais meia dúzia de crimes de guerra.
Uma possibilidade mais abrangente, que deve ser seriamente considerada para explicar o ataque, é a seguinte: o Irã tornou-se membro dos BRICS em agosto de 2023. Em maio deste ano, um trem de carga partiu da cidade chinesa de Xian e chegou ao porto seco de Aprin, perto de Teerã; a Iniciativa Cinturão e Rota reduziu de 30 para 15 dias o comércio entre Irã e China. Enfraquecer o Irã e substituir o governo dos Aiatolás pode, portanto, significar a interrupção do projeto chinês de ligar o leste da Ásia à Europa passando pelo Irã e pela Turquia. Sempre vale lembrar que o Irã possui a terceira maior produção de petróleo e gás do mundo e, em 2024, a National Iranian Oil Co. (NIOC) descobriu uma reserva de petróleo na província do Khuzestão avaliada em US$ 7,3 bilhões.
É preciso dizer que o Irã, embora seja majoritariamente persa (pouco mais da metade da população), sua composição social é multiétnica e multicultural: azeris (turcos), curdos, lurs, árabes, balúchis, armênios, assírios, georgianos e judeus. A comunidade judaica no Irã, aliás, é uma das mais antigas do mundo e uma das maiores no Oeste da Ásia, depois de Israel. Em Teerã, há pelo menos 12 sinagogas em atividade, e um pouco mais de 50 em todo o país.
Essa convivência pacífica histórica ajuda a compreender que o problema do Irã não é contra os judeus, mas com o projeto sionista. Ao olharmos os arranjos fronteiriços, pode-se verificar que os Estados-nação no entorno de Israel foram severamente enfraquecidos ao longo das últimas décadas: Líbano, Síria e Iraque. A Jordânia, passiva e silenciada desde que perdeu a Cisjordânia para Israel em 1967, possui uma monarquia constitucional de fachada, pois seu rei, Abdullah II, nomeia e troca o primeiro-ministro quando acha necessário.
Se esta conflagração iniciada pelos sionistas (com aval do império) fará do Irã a bola da vez, ou, se a reação iraniana configurará no Irã da vez, ainda não sabemos. O que sabemos e podemos afirmar com certeza é que não há projeto mais imoral no mundo atual que o projeto sionista.
sexta-feira, maio 02, 2025
MUITO MAIS QUE UMA GUERRA TARIFÁRIA OU UMA NOVA PAZ ARMADA.
Jonatas Carvalho
Historiador e Doutor em Sociologia e Direito