quarta-feira, abril 14, 2010

Quase Famosos

Nunca me vi em um filme como quando assisti “Almost Famous" (Quase Famosos). Dirigido por Cameron Crowe, composto por um elenco merecedor de várias estatuetas, como foi com Kate Hudson, que levou o de melhor atriz coadjunvante no Globo de Ouro em 2001, seu primeiro grande prêmio. Talvez, seja porque eu tenha visto na história da personagem de Patrick Fugit, o jovem William Miller, minha própria história. Na verdade eu nunca conheci uma banda de rock tão de perto, nem faço parte da geração dos anos 70, já que nasci em 1969, mas me sinto intimamente ligado a esta geração. Meu primeiro contato com a música foi na escola de música da igreja, meu primeiro instrumento foi o violino e eu tinha 12 anos. Hoje aprecio muito este instrumento, assisto as filarmônicas e seus solistas. Mas aos 14 anos me deparei com o instrumento que mudou minha relação com a música; a bateria. A bateria não era bem vista pelos cristãos naquela época, era um considerado “instrumento do capeta”, a teologia progressista serviu para desarticular este discurso e eu vi com meus próprios olhos a primeira bateria a entrar na minha igreja. Nunca aprendi tocar bem bateria, depois eu tentei o violão, a gaita e muitos outros, até descobrir que eu não era músico, mas apenas um apaixonado por música. Voltando ao filme, apesar de me ver naquele garoto de 15 anos e reviver momentos mágicos da minha juventude, sei que este filme não é sobre mim, mas sobre uma geração inteira que vivenciou um momento histórico da música mundial: o advento do Rock end Roll. É um filme sobre o poder de encantamento do Rock, mas também é sobre a descoberta do amor, da ruptura da inocência, do paradoxo existencial de viver no mundo real e sonhar com uma vida livre. A história se passa em 1973, o mundo nesta época vivia mais uma das muitas crises cíclicas do capitalismo: a crise do petróleo. Enquanto isso, Elvis Presley, mais maduro, fazia o concerto "ALOHA FROM HAWAII”. Por outro lado, foi o ano da efervescência do rock progressivo, em 1973 o Led Zeppelin lançava “Houses of the Holy” (Templos Sagrados), o Jethro Tull “A passion Play”, o Pink Floyd “Dark Side Of The Moon” e o Black Sabbath lançava “Sabbath Boody Sabbath”, só para exemplificar. Uma imansa massa de jovens vivia à sombra do Woodstock, de Hendrix, Joplin, Dilan e muitos outros. O que me encantou neste filme, foram os olhares de perplexidade daqueles jovens diante de seus ídolos. Essa juventude, ainda hoje mal interpretada, deu uma lição ao mundo protestando contra as guerras e a exploração da pobreza. Movimentos como a “contracultura”, que teve seu inicio nos anos 60, pregava o desapego material ao detectar o fracasso do capitalismo e um reencontro com a natureza muito antes da explosão dos movimentos ecológicos. Nos EUA dos anos 1970, muitos hippies eram ex-soldados que retornam do Vietnã e não viram sentido continuar naquela vida de "time is money". Ainda sobre o filme de Crowe, não posso deixar de mencionar sua trilha sonora, é nostálgica para alguns da minha geração, contendo músicas como “Sparks” (The Who), "Tiny Dancer" (Elton John), "América" (Simon & Garfunkel), “Thats the Way” (Led Zeppelin) e muitas outras que conduzem aos amantes do Rock a uma espécie de “nirvana”. Hoje sou um homem, que estuda e trabalha. Assisto a documentários, na maioria do tempo estou ocupado com minha atividade profissional. Ninguém suspeitaria, pela minha postura atual, mas há algo dentro de mim que me mantém ligado a um passado, inconsequente talvez, mas profundamente marcante. Toda vez que assisto a filmes como “Quase Famosos”, o adulto dentro de mim balança "e o menino me dá a mão", me levando de volta a um mundo que não existe mais, embora esteja vivo nas minhas lembranças.

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