sexta-feira, outubro 28, 2011

Por uma vida não tão hi tech


Qualquer dia desses, assistiremos as agências de notícias enlouquecidas, cada qual procurando uma exclusividade sensacionalista para conquistar a audiência da população. Com manchetes do tipo "Maníaco fuzila passageiros em ônibus intermunicipal" ou " Pânico sobre rodas" , explico.
                Lembro quando comecei a fazer minhas primeiras viagens intermunicipais , que na verdade eram de uma hora na serra entre Petrópolis e Teresópolis, mas eu ficava lendo os avisos no vidro atrás do motorista, as regras, não me lembro de todas, mas a proibição de aparelhos eletrônicos me chamava atenção pois ao lado havia um desenho de um rádio a pilha. 
Sabemos que a revolução da microeletrônica possibilitou uma mudança na vida social, alguns chegam a dizer que ela foi responsável pela queda de ditaduras nos últimos dias. São celulares com câmeras, com tv digital, twitter e outras redes sociais.  São ipods, ipads, iphone,  notebooks, netbooks,  ou seja, houve uma socialização da comunicação e aceleração da informação.  O  velho radinho a pilha,  o único aparelho capaz de incomodar  os passageiros numa viagem na minha adolescência, agora tem substitutos infinitamente mais incômodos.
Esta semana eu estava febril,  após uma semana difícil, com aulas na UERJ até as 18 horas, cheguei na Novo Rio e comprei passagem no Salutaris,  já na linha vermelha apaguei. Os ônibus de hoje, assim como nos aviões, quando reclinamos o encosto do banco, nossa cabeça fica uns dez centímetros  de quem está sentado atrás, embora meu encosto estivesse apenas parcialmente reclinado, senti uma poderosa voz dizendo - fala ai maluco! Vai rolar aquele churrasco no fim de semana ou não! Eu, apesar do susto, consegui me controlar e ninguém percebeu que pulei na poltrona com aquela voz bem nos meus ouvidos. Após alguns minutos, enquanto o passageiro do banco de trás concluía sua conversa sobre molho à campanha, eu comecei a perceber que ele não era o único, mais ao fundo eu podia ouvir uma musiquinha e ao virar levemente meu pescoço percebi que era um desses  mp7 e que o sujeito se recusava a ouvir fazendo uso de um fone.  Mais  ao fundo ainda, outra  mulher falava ao celular, a distância, porém permitia chegar a voz já suavizada até mim. Notei que além dos diálogos costumeiros  entre passageiros, o espaço no ônibus intermunicipal é preenchido pela interação tecnológica, rompendo com  a tranquilidade e o sossego de quem prefere ou necessita dormir.       
Fechei meus olhos e tentei me concentrar, minha imaginação me levou a visualizar um sonho, onde eu estressado, com febre e tentando dormir no ônibus, perdi a paciência com os passageiros  "hi tech". Saquei uma arma e comecei a atirar em todos , nos que não sabem falar baixo no celular, nos que ouviam música alta - menos no cara que estava escutando "that's the way" , Led Zeppelin - 1973 - atirei naqueles nerds irritantes que passam a viagem inteira naqueles joguinhos japoneses, atirei numa adolescente que não parava de testar os tipos de toques possíveis de seus celular, atirei em um cara que estava assistindo o dvd do Lanterna Verde, bem ele estava usando o fone, mas o filme é horrível, por fim atirei no motorista que só porque estava fechado em sua cabine, achou que podia ouvir  "A voz do Brasil" numa altura absurda. Quando o ônibus tombou eu acordei do sonho e me dei conta que a tecnologia destruiu nossa privacidade, não vai demorar as pessoas começarem surtar. 

Um comentário:

Jonatas Carvalho disse...

Graças aos meus muitos leitores (3) e revisores estou corrigindo alguns erros ortográficos graves....escrevi privassidade e não privacidade...todo grande escritor necessita de revisores,mas a culpa dos meus erros é do word.....rsrsrs