Qualquer dia
desses, assistiremos as agências de notícias enlouquecidas, cada qual
procurando uma exclusividade sensacionalista para conquistar a audiência da
população. Com manchetes do tipo "Maníaco fuzila passageiros em ônibus
intermunicipal" ou " Pânico sobre rodas" , explico.
Lembro quando comecei a fazer
minhas primeiras viagens intermunicipais , que na verdade eram de uma hora na
serra entre Petrópolis e Teresópolis, mas eu ficava lendo os avisos no vidro
atrás do motorista, as regras, não me lembro de todas, mas a proibição de
aparelhos eletrônicos me chamava atenção pois ao lado havia um desenho de um
rádio a pilha.
Sabemos que a
revolução da microeletrônica possibilitou uma mudança na vida social, alguns
chegam a dizer que ela foi responsável pela queda de ditaduras nos últimos
dias. São celulares com câmeras, com tv digital, twitter e outras redes
sociais. São ipods, ipads, iphone, notebooks, netbooks, ou seja, houve uma socialização da
comunicação e aceleração da informação.
O velho radinho a pilha, o único aparelho capaz de incomodar os passageiros numa viagem na minha
adolescência, agora tem substitutos infinitamente mais incômodos.
Esta semana eu
estava febril, após uma semana difícil,
com aulas na UERJ até as 18 horas, cheguei na Novo Rio e comprei passagem no
Salutaris, já na linha vermelha apaguei.
Os ônibus de hoje, assim como nos aviões, quando reclinamos o encosto do banco,
nossa cabeça fica uns dez centímetros de
quem está sentado atrás, embora meu encosto estivesse apenas parcialmente
reclinado, senti uma poderosa voz dizendo - fala ai maluco! Vai rolar aquele
churrasco no fim de semana ou não! Eu, apesar do susto, consegui me controlar e
ninguém percebeu que pulei na poltrona com aquela voz bem nos meus ouvidos. Após
alguns minutos, enquanto o passageiro do banco de trás concluía sua conversa
sobre molho à campanha, eu comecei a perceber que ele não era o único, mais ao
fundo eu podia ouvir uma musiquinha e ao virar levemente meu pescoço percebi
que era um desses mp7 e que o sujeito se
recusava a ouvir fazendo uso de um fone.
Mais ao fundo ainda, outra mulher falava ao celular, a distância, porém
permitia chegar a voz já suavizada até mim. Notei que além dos diálogos
costumeiros entre passageiros, o espaço
no ônibus intermunicipal é preenchido pela interação tecnológica, rompendo
com a tranquilidade e o sossego de quem
prefere ou necessita dormir.
Fechei meus olhos e
tentei me concentrar, minha imaginação me levou a visualizar um sonho, onde eu
estressado, com febre e tentando dormir no ônibus, perdi a paciência com os
passageiros "hi tech". Saquei
uma arma e comecei a atirar em todos , nos que não sabem falar baixo no
celular, nos que ouviam música alta - menos no cara que estava escutando
"that's the way" , Led Zeppelin - 1973 - atirei naqueles nerds
irritantes que passam a viagem inteira naqueles joguinhos japoneses, atirei
numa adolescente que não parava de testar os tipos de toques possíveis de seus celular,
atirei em um cara que estava assistindo o dvd do Lanterna Verde, bem ele estava
usando o fone, mas o filme é horrível, por fim atirei no motorista que só
porque estava fechado em sua cabine, achou que podia ouvir "A voz do Brasil" numa altura absurda.
Quando o ônibus tombou eu acordei do sonho e me dei conta que a tecnologia
destruiu nossa privacidade, não vai demorar as pessoas começarem surtar.
Um comentário:
Graças aos meus muitos leitores (3) e revisores estou corrigindo alguns erros ortográficos graves....escrevi privassidade e não privacidade...todo grande escritor necessita de revisores,mas a culpa dos meus erros é do word.....rsrsrs
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