quarta-feira, dezembro 07, 2011

Eu queria segurar esta postagem. Queria segurar até a inauguração do livro "Experimentadores" no próximo dia 12, mas não consigo me conter de alegria. Hoje eu  postei no Blog da Fazenda Campos Novos uma notícia ainda mais importante que o livro, trata-se do tombamento federal da fazenda. Finalmente estamos sobre a proteção do  IPHAN. Ano passado, exatamente em dezembro, eu  escrevi um texto cujo título foi "O melhor ano da minha vida", eu comemorava conquistas singulares, como minha entrada para o mestrado, me lembro que terminei o texto sinalizando boas expectativas para o futuro. Não previ, nem projetei, apenas imaginei as possibilidades, como diria Kosseleck eram "horizonte de expectativas", batalhei, fui a luta, o resultado: livro e tombamento! Não poderia ser melhor (só falta o meu filhão passar na escola!!) Mas em ambas as vitórias o mérito deve ser compartilhado, no caso da Fazenda, muito mais, pois foi de fato uma luta travada por um pequeno, mas insistente grupo. Parabéns a todos pela conquista. 
Abaixo colei o texto sobre o tombamento:
 O processo de número 1.492-T-02 que foi iniciado em 2002, mas caiu em esquecimento e só foi retomado no início de 2009 com a criação do Projeto Refazendo Campos Novos, transformou-se no processo nº 01500.005719/2010-49, que trata o “tombamento federal do sítio da antiga Fazenda de Santo Inácio de Campos Novos a ser escrita nos livro do Tombo Histórico, Livro do Tombo de Belas Artes, livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico.” (Texto diário oficial da união – nº224 de 23 de novembro de 2011). Com isso, após anos de luta pela preservação de um dos patrimônios mais importantes da Região da Costa do Sol e de valor inestimável para história patrimonial fluminense, finalmente a Fazenda Campos Novos passará a gozar da proteção do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN.  
A luta, iniciada nos primeiros anos da década de 90 quando o então prefeito José Bonifácio desapropriou a área de 184 hectares, não teve como motivação principal o pratrimônio em si, mas a contenção dos conflitos agrários (que já havia resultado no assassinato do lider sindical Francisco Lan), a Fazenda era o símbolo da opressão, exploração do trabalhador rural e da expropriação (por meio de grilagem) das terras dos descendentes de escravos trazidos para o trabalho nas terras da fazenda.  Na ocasião, a Secretaria de Agricultura do  município foi transferida para a sede da mesma.    
No início do ano 2000 iniciou-se um projeto de transformar parte das terras da Fazenda em um aterro sanitário. A Associação de Turismo Ecológico Integrado à Arqueologia (ATEIA) por meio de seu presidente Geraldo Monteiro, reagiu ao absurdo e mobilizou a sociedade para um projeto que visava resgatar a Fazenda como símbolo histórico e cultural. Foi nesta época, graças a mobilização da ATEIA que a Fazenda foi tombada provisoriamente pelo Instituto Estadual do Patrimõnio Cultural do Rio de Janeiro – INEPAC. Nesta época foram muitos os cabofrienses que  batalharam pela preservação da Fazenda, entre eles  o então Sub-Secretário de Cultura Márcio Werneck e sua esposa  Penha Leite. No entanto, devido a falta de recursos municipais e a ausência de visão dos gestores públicos,  o esquecimento foi questão de tempo. Os anos que se seguiram a Fazenda Campos Novos passou a ser apenas o lugar onde funcionava a Secretaria de Agricultura. 
No primeiro mandato do Prefeito Marquinhos Mendes, foi nomeado para assumir a Secretaria de Agricultura o ex-vereador e militante (PT) Alfredo Barreto, este que lutara ao lado de José Bonifácio na desapropriação da Fazenda, iniciou um trabalho excepcional de aproximação entre a Fazenda e a população rural de Cabo Frio. Mas foi quando Carlos Alberto Gomes de Carvalho (Carlinhos) assumiu e SECMAA que o Projeto Refazendo Campos Novos foi criado.  Em principio criou-se um consórcio com algumas secretarias afins ( Cultura, Educação, Meio Ambiente e Turismo,  além da participação de representantes do IFF). No mesmo ano foi criado, numa parceria entre o Ministério de Ciência e Tecnologia, Departamento de Recursos Minerais e a Casa da Ciência da UFRJ, o Projeto Caminhos de Darwin, que ajudou a dar mais visibilidade a Fazenda ( Darwin se hospedou na Fazenda no séc. XIX).
Em 2009 o médico sanitarista Beto Nogueira assumiu a Secretaria de Agricultura e colocou o tombamento da Fazenda com uma das prioridades na sua gestão, colocando o historiador Jonatas Carvalho a frente do Projeto Refazendo Campos Novos. A partir daí, pessoas como o professor Ildeu Moreira do MCT e Fátima Brito da Casa da Ciência (UFRJ), assim como a geóloga Kátia Mansur da UFRJ passaram a abraçar o projeto. Por outro lado, deve-se muito aos representantes do IPHAN na região, Manoel Vieira e Ivo Barreto, este último incansável na articulação e na busca de soluções com departamentos e órgãos do Estado e União. 
Em fim o tombamento federal da Fazenda Campos Novos é uma obra coletiva, cujo resultado vem coroar a ação dos envolvidos (alguns, que devido ao curto texto não foram mencionados). Este texto é, portanto, um reconhecimento do trabalho mútuo e da preocupação de cidadãos e cidadãs com o patrimônio material e imaterial que singulariza nossa Região. Não há dúvida que foi dado um passo fundamental para a preservação deste belíssimo patrimônio, o tombamento federal, no entanto, não é garantia irrestrita da preservação, é uma etapa e deve ser celebrada com uma grande vitória, em 2012  haverá muito a se fazer, a luta  vai continuar. 

Jonatas C. de Carvalho.
Pesquisador da Fazenda Campos Novos.
     

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