sexta-feira, outubro 28, 2022

FAKE NEWS E A PRODUÇÃO DO MEDO: UM CASO REAL.

Após uma pequena temporada em São Paulo, ontem estive em Niterói para almoçar com uma velha amiga. Ao chegar, fiquei feliz em reencontrar G......., diarista que conheço há muitos anos. G...... é uma criatura doce e meiga, uma dessas mulheres guerreiras que lutam diariamente pela manutenção da família. Discreta e de uma simplicidade singular, G....... é negra, evangélica e vive na periferia da cidade. Ela puxou papo comigo sobre as eleições no próximo domingo. Eu entrei no papo e brinquei se ela estava pronta para vota no 13, seu semblante imediatamente transpareceu um receio, então ela confirmou:

Estou na dúvida. Perguntei o que lhe incomodava, ela não quis dizer, ficou inibida. Disse-lhe que podia falar sem medo, mas ela insistiu em não dizer, apenas dizia que estava muito indecisa. Como nos conhecemos há anos, tomei a liberdade de seguir com o questionamento:

Fale comigo meu bem, do que tens medo? Ela riu sem graça. Então eu disse:

G......., você tem medo que o Lula feche as igrejas, é isso? Ela respondeu:

É isso. A gente escuta muita coisa e não sabe em quem confiar.

Eu lhe disse que essa história de fechar igrejas era uma grande mentira. Contei-lhe que Lula foi presidente por oito anos nesse país e as igrejas evangélicas se multiplicaram nesse período, disse-lhe que foi Lula que sancionou a Lei de Liberdade Religiosa em 2003. Ela, demonstrando mais tranquilidade rebateu:

Eu ouço por ai que naquela época a gente tinha mais condições né? Não era essa dificuldade que é hoje. G........ tem mais de 50 anos, então eu indaguei:

Minha querida, você se lembra dessa época. Não lembra? Então ela concordou.

Lembro, a gente recebia o salário, dava pra ir no mercado e comprar o que precisava, hoje não dá mais, tá muito difícil.


Fiquei pensando nesse meu diálogo com a G.........., sobre a velha tática fascista da produção do medo. A extrema direita, com sua avassaladora máquina de propagação de mentira, sabe exatamente como e onde atingir as massas, eles estudam suas fragilidades e carências atacando fortemente essas vulnerabilidades.

No caso da G........., vejam, seu impasse se tratava de escolher entre voltar a comer melhor ou ver sua igreja ser fechada. Era isso que passava na cabeça dela. Ela tem consciência de que seu poder de compra era muito melhor na era Lula, isso está na sua memória afetiva, mas encheram sua cabeça de dúvida, culpa e medo. Votar no Lula poderia comprometer algo que lhe é tão sagrado quanto se alimentar com dignidade: sua fé. O direito de congregar com seus irmãos de fé lhe é tão vital quanto partilhar o pão em casa. G.......estava sofrendo, não sabia que lado seu “trairia”. Eu lhe disse que se esse era seu problema, que ela podia votar 13 de consciência tranquila, porque ninguém lhe tiraria seu direito de exercer sua fé e que sua igreja seguiria aberta para que ela e todos os outros membros tenham a liberdade de culto garantidas. Por fim, disse-lhe que se ela escolher o 13 estará escolhendo um governo onde ela poderá ter as duas coisas, a igreja aberta e a comida no prato.

Obs. Fiz alterações sobre os lugares e as poessoas para preservar a identidade de G....., mas os diálogos são reais. 

Jonatas Carvalho. 

   

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