quarta-feira, fevereiro 08, 2017

O DIA QUE ME SENTI O CAPITÃO FANTÁSTICO

Essa semana eu assisti Capitão Fantástico, um filme belíssimo com um roteiro original, desses em que você não vê a bandeira estadunidense ao fundo das imagens. Sob a direção de Matt Ross, o ator de origem dinamarquesa, Viggo Mortesen, vive uma personagem de um homem que juntamente com sua esposa deixa a civilização para viver numa floresta entre as montanhas do Noroeste Pacífico acima de Washington. 

A trama, apesar de alguns clichês, tem suas singularidades, Ben Cash (Viggo), é um cientista que desgostoso do modo de vida capitalista, cria seus seis filhos longe da civilização. Sua esposa, cansada daquela vida tribal, adoeceu e foi levada para a casa de seus pais na Capital, e posteriormente suicida-se. Cash se vê obrigado a voltar à civilização com seus filhos para ir ao funeral, mais precisamente para garantir que sua esposa não recebesse um enterro cristão uma vez que ela era budista.

O filme é uma esplêndida crítica ao modo de vida capitalista e a sociedade de consumo. Em inúmeras vezes as contradições da vida ocidental aparecem, ora em forma de ironia, ora na sua mais crua e dura realidade. A desigualdade social justificada na falta de méritos ou na preguiça de quem não venceu na vida. Uma sociedade em que o Estado é refém dos interesses das grandes corporações. Uma gente que emburrece, diante de uma tela de 54 polegadas parcelada em 12 meses no cartão de crédito, assistindo programas de entretenimento. Um povo que foi doutrinado a pensar unicamente em si, que é capaz de ignorar a fome que seu semelhante sente, enquanto come um Big Mac.

Conforme a trama do filme ia se desenrolando, embora eu estivesse completamente cativado, algo dentro de mim se manifestava, eu me vi sendo o Capitão Fantástico. Não se tratava apenas de identificação com a personagem, embora pude me ver ali naquela história muitas vezes, o que havia de semelhança entre eu e o Sr. Ben Cash se situava apenas no campo das ideias. 

Cash abdicou de tudo para viver em função de seus filhos, eu nunca fui capaz de algo assim. Também não me identifico com aquele tipo de criação sistematizada, disciplinar e metódica. Nunca sonhei que meus filhos fossem capazes de interpretar a "Carta dos Direitos" aos oito anos de idade. Mas confesso que adoraria criar uma tradição familiar de comemoração do aniversário de Noam Chomsky. Fora isso, apesar de minha admiração por aquele modo de vida hippie-intelectual, eu e o Sr. Cash não temos tantas coisas incomum assim. 

Mas então por que eu me senti como se fosse um tipo de Capitão Fantástico? Creio que pelo fato do elemento mais similar entre eu e a personagem; zelar para que nossos filhos sejam cidadãos críticos e decentes. Nisso eu e o Capitão Fantástico temos algo muito incomum, se há algo em que me esforcei como pai, talvez meu único mérito, foi que meus filhos não se tornassem esses seres alienados, dominados pela cultura de massa, subjugados devido sua ignorância. A decência e o caráter são infinitamente mérito da mãe, que por reiteradas vezes fez o papel de pai nas minhas muitas ausências. 

Me senti sendo o Capitão Fantástico, porque só assisti esse filme, pela insistência da minha filha Julia de 18 anos. E quando o trama chegava ao seu fim, meu orgulho alcançava o ápice. Poderia um pai sentir-se menos orgulhoso? A paixão dela por esse tipo de roteiro é a expressão mais óbvia de que meus objetivos a respeito dos filhos que eu queria ter foram alcançados. Não é a primeira vez que fico impressionado com a leitura de mundo dos meus filhos, assisti interestrelar, por indicação do meu filho João de 20 anos e fiquei dias refletindo sobre aquele roteiro. 

Jonatas Carvalho. 


Nenhum comentário: