quinta-feira, janeiro 19, 2017

IGUALDADE X LIBERDADE II

Você sabe o que é coltan? É a combinação de duas palavras que correspondem aos respectivos minerais: a columbita e a tantalita. O coltan é fundamental para a fabricação de celulares, TVs de plasma, notebooks, câmeras digitais, satélites artificiais e diversas outras tecnologias. Grandes corporações como a Apple, Microsoft, Dell, Nókia, Motorola e outras utilizam o coltan em suas tecnologias. Ocorre que a maior reserva deste precioso mineral está localizado no Congo, na África Central, um país que desde 1996 assistiu o extermínio de mais de 6 milhões de pessoas (destes, 2 milhões de crianças). O coltan viaja para a Europa e EUA graças as corporações ligadas a Ruanda e Uganda, dois países que resolveram (com apoio dos EUA e vista grossa da ONU) invadir o vizinho Congo, com seus exércitos e que são responsáveis por esse holocausto africano. Uma dessas corporações é a Somigi (Sociedade Mineira dos Grandes Lagos) tem o monopólio do setor; é uma empresa mista de três sociedades: Africom (belga), Promeco (ruandesa) e Congecom (sul-africana). Graças a essas nobres empresas podemos usufruir do bom funcionamento dos nossos smartphones, iPod, iPed, laptops e Playstation (O natal do ano 2000 muitos filhos de americanos deixaram que ganhar um Playstation de presente porque a fabricação do jogo fora insuficiente para abastecer o mercado, motivo: falta de coltan). 

É assim que funciona o sistema liberal, a lógica do “Estado Mínimo”, atualmente conclamado pela bancada do DEM e do PSDB nas casas parlamentares de nossa república é, na prática, um Estado domado pelas corporações e a serviço do grande capital. É este “Estado Mínimo” que é louvado pelos meninos do MBL, um Estado que não deve se ocupar de regular o mercado, que deve privatizar ao máximo suas fontes energéticas para incentivar a competição e o empreendedorismo. 

A lógica de um Estado Mínimo é um grande engodo, uma vez que ele só é mínimo para a sociedade, ele é mínimo apenas para ela, limitado, de modo que assim ela se torne refém do mercado. Quando os meninos do MBL fazem um alarde sobre a universidade pública e reverberam sobre o sucesso das grandes universidades privadas dos EUA (Harvard, Stanford, Princeton, Yale, etc....), quando um ministro do STF defende o financiamento privado nas universidades públicas, esquecem de dizer que o governo americano investiu em torno de 130 bilhões de dólares por meio de suas agências e departamentos em P&D enquanto aqui os investimentos chegaram ao máximo de 20 bilhões (em reais). 

Noam Chomsky, linguista e filósofo estadunidense nos dá uma boa ideia de como funciona essa lógica, Chomsky denuncia que boa parte da P&D (Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico) nos EUA são financiados por agências do governo (Pentágono, Nasa, Departamentos de Inteligência), ou seja, são financiamentos sustentados com o dinheiro do contribuinte, mas que ao final se tais tecnologias puderem gerar lucros elas são entregues as grandes corporações. Ele nos dá como exemplo o caso do GPS, algo que qualquer smartphone atualmente possui, o GPS foi desenvolvido pelo Departamento de Defesa dos EUA por meio do programa NAVSTAR em 1973. 

Outro exemplo de como essa lógica impera, um lugar onde ela fica clara como a luz do dia é no caso do petróleo. Em recente entrevista concedida ao escritor Fernando Moraes, o jornalista australiano Julian Assange, revelou por meio do Wikileaks, uma série de documentos de como o Estado Americano utilizou sua estrutura de inteligência para espionar o Brasil sobre a descoberta do Pré-sal. Escutas telefônicas em Dilma Rousseff, diretores da Petrobrás, viagens de Temer a Washington e mais. O governo dos EUA utilizou sua estrutura de inteligência que é mantida por impostos dos contribuintes para espionar o Brasil, mas para atendar a qual interesse? Evidente, aos interesses das suas grandes corporações Exxon e Chevron. 

O modelo liberal de livre mercado, de Estado Mínimo, que prega a liberdade em detrimento da igualdade, não mede esforços para manter-se em pleno funcionamento. Pouco importa que ele (o mercado) continue a fazer uso (por meio do Estado) de um tipo de colonialismo do século XIX em pleno século XXI, alimentando ditaduras na África e no Oriente Médio, usando-as em seu favor, para que as nações civilizadas possam manter seus Staus quo. Não importam os meios, se para ganhar o monopólio, deve-se fazer uso de estratégias do período da Guerra Fria, com derrubadas de governos legítimos, por meio da espionagem, da invenção de fatos e colocar seus aliados no poder. 

Esse sistema não se incomoda se chegaremos ao fim de 2017 com 200 milhões de desempregados no mundo (segundo dados da OIT), ou se a temperatura chegará aos 50ºC no hemisfério sul, tudo o que importa é que as indústrias continuem a movimentar suas máquinas. Como escreveu Zygmunt Bauman, o capitalismo é um sistema parasitário. Como todos os parasitas, pode prosperar durante certo período, desde que encontre um organismo ainda não explorado que lhe forneça alimento, seja este coltan ou petróleo. 


Jonatas Carvalho.

Abaixo um emocionante e esclarecedor documentário sobre a situação do Congo: 


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