quarta-feira, janeiro 18, 2017

LIBERDADE X IGUALDADE - PARTE I

Há alguns anos o filósofo Felipe Pondé participou de um debate com Marcos Nobre, que também é filósofo, debate este mediado pelo herdeiro da família Frias, Octávio Frias de Oliveira dono do Folha de São Paulo. Pondé iniciou sua fala dizendo que entre liberdade e igualdade ele sempre haverá de escolher a liberdade, ou seja, ele sempre tende a temer mais o Estado que o Mercado. Pondé, que escreveu um dos livros mais decadentes sobre o politicamente correto (Guia politicamente incorreto da Filosofia), cuja introdução do mesmo, afirma que os aeroportos viraram um grande churrasco na laje, e, por isso viaja de classe executiva, numa demonstração clara de que despreza a igualdade. 

Seu temor ao Estado é, segundo ele, baseado na história das tentativas de regulações dos comportamentos sociais, por isso, acredita que o mundo do livre mercado sempre será uma alternativa mais realista por levar em consideração as diferenças. A igualdade, diz ele, não existe, a sociedade humana é e sempre foi carregada nas costas de uma minoria pensante, com criatividade suficiente para conduzir a história. É claro que a igualdade idealizada tal como ainda se sustenta em alguns debates não existe de fato, todavia, a liberdade evocada pelo liberalismo é tão idílica quanto. 

O dilema social entre o Estado e o Mercado necessariamente não é o mesmo que optar entre a igualdade e a liberdade. O grande desafio das democracias, segundo Pondé, é justamente equilibrar essas duas forças, não as tratar como puramente ideológicas, estar consciente de suas contradições é o caminho para o equilíbrio. Uma vez que se valorizar mais a liberdade as diferenças sociais crescem devido ao investimento na criatividade de empreender. Se se investir mais em igualdade, conclui Pondé, corre-se o risco de se criar uma sociedade de medíocres. 

O que nosso filósofo conservador em termos de política e liberal em termos de economia ignora é que as democracias não são um elemento neutro, uma balança de justiça que tenderá sempre a equalizar as forças. As democracias são capitalistas e liberalistas, a igualdade não é seu foco, apenas poucas delas conseguiram reduzir as diferenças sociais internas, ainda assim, sabemos que o preço dessa igualdade é a maior desigualdade em outro lugar. 

O mundo do liberalismo econômico de Pondé não preza pela igualdade, porque a considera um discurso ridículo do politicamente correto, afinal, desde que o mundo é mundo sempre houve desigualdades. O mundo mais justo é aquele que oferece lugar de destaque aos que são reconhecidamente melhores, os que tem mérito, aqueles que trazem consigo o fardo de carregar o mundo nas costas (esse último foi o argumento usado pelos europeus na colonização do continente africano no século XIX), e, se no final desse processo tivermos uma sociedade onde 8 de seus dignitários cidadãos possuírem mais riqueza que 3,6 bilhões de pessoas juntas, tudo bem, eles mereceram. 

Jonatas Carvalho.

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