sábado, janeiro 21, 2017

OS INTOCÁVEIS BRASILEIROS E A GUERRA AS DROGAS

A pesquisa em jornais do passado é sempre surpreendente, nunca se sabe o que se pode encontrar. Quase uma década antes de Nixon declarar sua guerra às drogas (1971), no Brasil a guerra já havia sido declarada. Praticamente às vésperas do Golpe de 1964, após Jango desarticular o parlamentarismo, um grupo de policiais federais liderados pelo delegado Carlos Alberto Garcia, iniciavam uma busca implacável aos nossos Al Capones. 

Em março de 1961 na cidade de Nova Iorque foi realizada a Convenção Única de Entorpecentes, um importante marco no que tange as medidas proibicionistas até então. Embora a referida convenção só tenha sido homologada no Brasil após o golpe de 1964, as políticas de repressão às drogas estavam a todo vapor no país desde o fim da Segunda Guerra, sob a liderança da Comissão Nacional de Fiscalização de Entorpecentes – CNFE, criada em 1936. Uma experiência adquirida graças aos anos de cooperação com o Federal Bureau of Narcotics – FBN, criado por Harry J. Anslinger. O Sr. Anslinger comandou a política de drogas nos EUA entre os anos de 1930 e 1962, passando pelos governos de Franklin D. Roosevelt, Harry S. Truman e Dwight D. Eisenhower. 

Voltando ao Brasil, o delegado Garcia era titular do Departamento Federal de Segurança Pública – DFSP, e trouxe para o Estado da Guanabara oito de seus melhores homens, o grupo recebeu por parte da imprensa nacional o título de os intocáveis, numa alusão aos homens de Eliot Ness. Segundo uma entrevista dada ao jornal Correio da Manhã, numa terça-feira de outubro de 1963, sua equipe, que tinha a identidade secreta, contava com uma série de qualidades, dentre as quais uma ficha funcional impecável, eram todos solteiros, portanto de dedicação exclusiva ao trabalho, com grande capacidade técnica, todos eram faixa-preta e exímios manejadores de armas. O formato das operações e investigações do grupo tinha como referencial o FBI. 

Garcia e seus homens ficaram por vários dias tomando depoimentos por todo o Estado. Dentre os depoentes estava João Saldanha, jornalista esportivo, cronista, que havia sido técnico por dois anos do Botafogo 1957-1959. De acordo com Garcia o depoimento de Saldanha foi fundamental para que o DFSP iniciasse uma grande investigação no mundo esportivo. Garcia prometeu a imprensa que revelaria uma lista contendo nomes de diversos jogadores que estavam fazendo uso de estimulantes e psicotrópicos. Revelou que havia uma grande rede ilegal de entorpecentes envolvendo desportistas. Na lista das revelações havia também os médicos que mais receitavam entorpecentes e as farmácias que mais vendiam. 

Outra ponta das investigações dos intocáveis foram os “inferninhos” do Rio, embora o foco das operações tenha sido Copacabana. Segundo Garcia havia elementos suficientes para garantir que nos referidos estabelecimentos os jovens estavam misturando barbitúricos com álcool, tal mistura provocaria efeitos semelhantes ao do ópio. A caçada incluía além dos frequentadores, os músicos, dançarinas e outros artistas.  

A operação liderada por Garcia e seus oito intocáveis, redeu dias de manchetes nos jornais, não apenas vinculadas as ações da equipe do DFSP, mas diversas matérias de primeira capa falando do perigo das drogas e sobre apreensões realizadas pela PM. Em 1965 a Comissão Nacional de Fiscalização de Entorpecentes enviou a 34ª reunião geral da Interpol um pedido formal para que todos os países membros erradicassem todas as plantas das quais possa se extrair entorpecentes. 

Jonatas Carvalho

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